90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

JAKOB MIKHAILOVITCH SVERDLOV

(tb. YAKOV MICHAILOVITCH SVERDLOV)

 

OBRAS, ESCRITOS, CARTAS, DOCUMENTOS, INTERVENÇÕES E DISCURSOS

DE AGOSTO DE 1918 A MARÇO DE 1919

 

Telegrama a Iossif V. Stalin, Serguei K. Minin, Kliment E. Voroshilov :

É Necessário que Vocês Obedeçam Incondicionalmente,

Apliquem as Decisões do Conselho de Guerra Revolucionário da República,

Nenhum Tipo de Conflito Deverá Existir, Início da Revolução na Alemanha

 

2 DE OUTUBRO DE 1918

 

JAKOB M. SVERDLOV[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

Janeiro de 2006 emilvonmuenchen@web.de

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A Stalin, Minin e Voroshilov, Conselho de Guerra (VoenSoviet) de Tsaritsyn, 

Cópia ao Comitê de Comunistas, a Magdov,

 

Hoje, ocorreu a reunião do Bureau do Comitê Central (TsK) e, a seguir, de todo o Comitê Central (TsK).

Entre outros temas,  foi discutida a questão relativa à obediência de todos os companheiros do Partido às decisões, emanadas dos órgãos centrais.

Não é necessário demonstrar a necessidade da mais incondicional subordinação.

A posição do Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet) foi acolhida pelo Comitê Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK).

Amanhã, elaborarei uma ordem e a transmitirei por telégrafo.

Todas as decisões do Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet) são obrigatórias para os Conselhos de Guerra dos Frontes (VoenSoviet Frontov).[2] 

 

Sem obediência não existem Forças Armadas Unificadas.

Não deixando de suspender a execução da decisão, pode-se dela recorrer a órgãos superiores – ao Conselho dos Comissários do Povo (SovNarkom) ou ao  Comitê Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK) e, em casos extremos, ao Comitê Central (TsK).

Propomos, assim, insistentemente, que vocês apliquem as decisões do Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet).

No caso de as considerarem prejudiciais, incorretas, propomos que venham até aqui, para que debatamos em conjunto, dando, porém, acolhimento à correspondente decisão.

Nenhum tipo de conflito deverá existir.

Transmitirei a incumbência ao Comitê Central (TsK).[3]

 

Sobre a Alemanha, posso informar-lhes que, nesse país, realizam-se tentativas de formar um corpo ministerial de coalizão, responsável perante o Parlamento, do qual participem todos os partidos parlamentares, salvo os sociais-democratas independentes e os conservadores, que se recusaram a nele ingressar.

Os candidatos da Social-Democracia Alemã chamam-se Friedrich Ebert, que surge como Vice-Chanceler e Ministro dos Assuntos Internos, Carl Legien, Ministro do Comércio, e Albert Südekun, Ministro das Finanças.  

Condições elaboradas pelos seguidores de Philipp Scheidemann revestem o acordo básico.

Estamos caracterizando os acontecimentos que se processam na Alemanha como sendo o início da revolução.

O rápido desenvolvimento subseqüente dos eventos é inevitável.

Amanhã, ocorrerá uma sessão conjunta do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK), do Conselho dos Comissários do Povo (SovNarkom), do Soviete de Moscou, dos Comitês Sindicais e de Fábrica, dos Sovietes Distritais.

Será publicado um pronunciamento, a ser firmado por Lenin, na qualidade de Presidente do Conselho dos Comissários do Povo (PredSovNarkoma).[4]

 

As idéias básicas desse documento são as seguintes :

Na Alemanha, desencadeou-se uma crise política, o Governo encontra-se desordenado e não conta com o apoio das massas.

A questão há de findar com a passagem do poder para as mãos do proletariado.

A tática dos bolcheviques demonstrou-se correta.

Agora, não violaremos a Paz de Brest.

Porém, já estaremos colocando a questão da preparação do auxílio, a ser conferido aos trabalhadores alemães, em sua severa luta, travada contra o seu próprio imperialismo e o imperialismo britânico.

 

É necessário começarmos a preparar-lhes pão.

É imprescindível organizar as Forças Armadas, de modo ainda mais vigoroso do que antes, fortificando, muitas vezes mais, os seus efetivos.

As tentativas de estabelecimento de acordos, firmados entre os imperialistas alemães e britânicos contra nós, são possíveis.

Devemos acelerar o trabalho de preparação, decuplicar nossas forças.

A Bulgária e, além dela, também a Turquia deram início a negociações acerca de um armistício, a ser concluído com a Entente, tendo obtido resultado positivo.

Estão sendo enviados exércitos alemães para a cidade de Sofia.

Em Sofia, está ocorrendo uma luta entre alemães e búlgaros.

Comunicarei a resolução da reunião de amanhã, por meio de telégrafo.

 

Respondam, imediatamente, com uma decisão acerca da questão da subordinação.

 

Saudações,

Sverdlov

Presidente do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK)

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

 

 

 

 

 

 



[1]Cf. SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Telegramma Iossif V. Stalinu, Serguei K. Mininu, Kliment E. Voroshilovu (Telegrama a Iossip V. Stalin, a Serguei K. Minin, a Kliment E. Voroshilov) (2 de Outubro de 1918), in: Yakov M. Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras Escolhidas em Três Volumes), Vol. 3, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo – Polititcheskoi Literatury, 1960, p. 28.

[2] Visando à compreensão de todo o significado político do presente telegrama de Sverdlov, dirigido a Stalin, Minin e Voroshilov, com cópia a Magdov, – ora traduzido, pela primeira vez, da língua russa - permito-me remeter o leitor à leitura de TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in: Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.; IDEM.   Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a Revolução se Armou), Vol. 1, Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923, pp. 350 e s.; IDEM. Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s.; SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Vozzvanie Vserossiiskovo Tsentral’novo Ispolnitel’novo Komiteta po Povodu Pokushenia na V. I. Lenina (Apelo do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia por Ocasião do Atentado contra a Vida de V. I. Lenin)(30 de Agosto de 1918), in: Yakov M. Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras Escolhidas em Três Volumes), Vol. 3, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo – Polititcheskoi Literatury, 1960, pp. 5 e s.; IDEM. O Pokushenie na V. I. Lenina Vystuplenie na Zasedanii VTsIK (Sobre o Atentatdo contra a Vida de V. I. Lenin. Intervenção na Sessão do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia)(2 de Setembro de 1918) , in : ibidem, pp. 7 e s. Suplementarmente, o leitor interessado poderá examinar criticamente ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e s.

[3]Resumidamente acerca do contexto histórico da presente questão em tela, considero importante esclarecer que a acusação de insubordinação e desobediência, aqui formulada por Sverdlov, enquanto Presidente do Conselho Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK), contra Stalin, Minin e Voroshilov - todos estes membros do Conselho de Guerra (VoenSoviet) de Tsaritsyn, em 2 de outubro de 1918  -, deveu-se, antes de tudo, aos seus mais abertos desacatamentos e transgressões no Fronte Sul da Guerra Civil Russa das medidas e resoluções adotadas pelo supremo Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet), dotado esse último da atribuição máxima de defender militarmente a República Soviética contra agressões bélicas imperialistas e brancas, contra-revolucionárias.

A insubordinação de Stalin, Voroshilov e Minin tinha tanto mais gravidade, porque Lenin encontrava-se, então, na cidade de Gorki, recuperando-se dos ferimentos decorrentes do atentado perpetrado contra sua vida, em 30 de agosto de 1918, não obtendo, por isso, permissão médica para participar de suas atividade normais de direção do Estado Proletário Soviético. Iniciava-se a Revolução Proletária da Alemanha, que viria a ser acaudilhada por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. Vigia à época, além disso, a proclamação de Sverdlov sobre o Terror Vermelho que exigia máxima disciplina marxista-engelsiana dos revolucionários no trato com as forças imperialistas e brancas. Nesse sentido, vide SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Vozzvanie Vserossiiskovo Tsentral’novo Ispolnitel’novo Komiteta po Povodu Pokushenia na V. I. Lenina (Apelo do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia por Ocasião do Atentado contra a Vida de V. I. Lenin)(30 de Agosto de 1918), in: Yakov M. Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras Escolhidas em Três Volumes), Vol. 3, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo – Polititcheskoi Literatury, 1960, pp. 5 e s.; IDEM. O Pokushenie na V. I. Lenina Vystuplenie na Zasedanii VTsIK (Sobre o Atentatdo contra a Vida de V. I. Lenin. Intervenção na Sessão do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia)(2 de Setembro de 1918) , in : ibidem, pp. 7 e s.

Sob o Governo de Lenin, o Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet : Revoliutsionny Voenny Soviet Respubliki) foi criado, em 2 de setembro de 1918, a partir de uma reorganização do antigo Conselho de Supremo de Guerra, instituído em 4 de março de 1918, enquanto órgão colegiado do Supremo Poder Militar (Kollegial’ny Organ Vysshei Voennoi Vlasti) e de Direção Política nos Frontes de Guerra, nos Exércitos, nas Frotas e Flotilhas (Polititcheskoi Rukovodstvo fo Frontakh, Armiakh, Flotakh i Flotiliakh). Acerca do tema, vide DEKRETY SOVIETSKOI VLASTI (Decretos do Poder Soviético), Vol. 1 e 2, Moscou : Gosudarstvennoie Izdatiel’stvo, Polititcheskoi Literatury, 1957, pp. 1 e s.

A Presidência de ambos esses órgãos militares supremos foi, sob o Governo de Lenin, sempre exercida por León Trotsky, cumulativamente com suas atividades de Comissário do Povo para Assuntos da Guerra e da Marinha (Narkom po Voennym i Morskim Delam) e membro do Politbureau do Partido Comunista Bolchevique.

Além disso, em 2 outubro de 1918, eram membros do RevVoenSoviet o comandante-em-chefe de Todas as Forças Armadas Vermelhas da Rússia Soviética, Jucums I. Vacietis (tb. Iokaim I. Vatsetis)(1873-1938), e os vogais Ivan Smirnov (1880-1936), Arkady Rosenholtz (1883-1938), Fiodor F. Raskolnikov (1892 – 1939), Ephraïm Sklyansky (1892-1925), Nikolai I. Muralov (1877 – 1937) e Konstantin Yurenev (1889-1938). Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s.

Quase todos esses dirigentes do trabalho militar revolucionário-soviético foram eliminados por Stalin e seus prosélitos, antes mesmo ou durante os Processos de Moscou, contando, pois, com a mesma sorte havida por outros destacados marxistas revolucionários russos, comandantes das Forças Armadas Vermelhas, tais quais Mikhail V. Frunse (1885 – 1925), Mikhail N. Tukhatchevsky (1893 – 1937), Vitaly M. Primakov (1897 – 1937), Jeronim P. Uborevitch (1896 – 1937), Jan B. Gamarnik (1894-1937), Yona E. Yakir (1896-1937), Vitovt K. Putna (1893-1937),  Robert P. Eideman (1895-1937), Boris M. Feldman (1890-1937), August I. Kork (1887-1937), Pavel I. Dybenko (1889-1938), Konstantin A. Mekhonoshin (1889 – 1938), Vassily K. Blücher (1890 – 1938), Vladimir A. Antonov-Oveseienko (1883 – 1938), Jakob I. Alksnis (1897-1938), Aleksandr I. Egorov (1883 – 1939), Ivan F. Fediko (1897-1939) entre outros, acusados, quase todos eles, de serem inimigos do povo e traidores da Pátria Soviética.

No que tange mais propriamente ao desenvolvimento dos fatos em tela, anoto que, já em junho de 1918, havia-se abalado o Poder Soviético na cidade de Baku, situada no Azerbaijão, ameaçada de intervenção militar pela Turquia, que agia a serviço do imperialismo britânico. Baku era a citadela do bolchevismo na região do Transcáucaso. Por ser rica em petróleo,  era cobiçada por forças britânicas, turcas e alemãs. Ali, os mencheviques operavam de modo desleal em relação à direção política e militar bolchevique.

Consta que o Presidente do Conselho dos Comissários do Povo de Baku, Stepan G. Shaumian (1878-1918), prestigiado bolchevique da velha guarda, enviara, naquele mesmo mês de junho de 1918, uma mensagem de alarme a Moscou, solicitando ajuda militar. Isolados do centro, os bolcheviques de Baku procuravam manter contato com Moscou através das cidades de Astrakhan, situada no Sul da Rússia, Kushka, no Turquemenistão, e Tashkent, no Usbequistão.

Paralelamente, na reunão do Conselho dos Comissários do Povo da Rússia Soviética (SovNarkom) de 28 de maio de 1918, Aleksandr Tsuryupa, encarregado das questões de abastecimentos, comunicara a Lenin que Stalin prontificara-se a partir em direção ao sul, a fim de impulsionar atividades de remessa de alimentos para os grandes centros metropolitianos e industriais do país, contando com a anuência e colaboração de Aleksandr Schliapnikov, Comissário do Povo para Assuntos de Abastecimentos.

Em 29 de junho de 1918, Lenin enviou um telegrama de saudações “ao valoroso companheiro Shaumian”, comunicando-lhe acerca da chegada de Stalin à cidade de Tsaritsyn (posteriormente denominada Stalingrado, presentemente Volgogrado), situada no Fronte Sul da Guerra Civil Russa. Nesse mesmo telegrama, Lenin pediu a Shaumian que enviasse cartas a Moscou por intermédio de Stalin. Vide LENIN, VLADIMIR ILITICH ULIANOV. Telegramma S. G. Shaumianu (Telegrama a S. G. Shaumian)(29 de Junho de 1918), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1965, Vol. 50, p. 108.

Fracassando inteiramente na resolução das questões relativas ao impulsionamento das atividades de abastecimento e remessa de alimentos a partir do Sul da Rússia aos grandes centros, Stalin, valendo-se de suas atribuições de membro do Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique e Comissário do Povo para Assuntos de Nacionalidades, passou a ocupar-se dos problemas militares, em Tsaritsyn, exercendo inflexível e despoticamente suas funções, convertendo-se rapidamente no Ditador de Tsaritsyn e do Fronte Sul. Tsaritsyn era, em 1918, o principal bastião da Oposição Militar das Forças Armadas Vermelhas, equacionada contra a direção de Trotsky e do RevVoenSoviet da República. Nessa cidade, reinava a anarquia administrativa, o espírito de partisanismo, o desacato às ordens dos órgãos centrais da Revolução Proletária, a ilimitada agressividade contra os especialistas militares. Em Tsaritsyn, agrupavam-se já em torno de Kliment I. Voroshilov (1881-1969) – ex-capitão das Forças Armadas Czaristas, bolchevique, porém de perfil pouco escrupuloso, descarado, ladino, simuladamente intelectual, profundamente social-democrático nacionalista, dado ao consumo desmesurado de bebidas alcóolicas, apelidado de “Serralheiro de Lugansk” -, e de Serguei K. Minin (1882-1962) – bolchevique, prefeito de Tsaritsyn, orador apaixonado, porém dotado de caráter profundamente demagógico e ingênuo - destacamentos revolucionários, comandados por oficiais oposicionistas, não-comissionados, procedentes do campesinato do Cáucaso Setentrional, bem como inúmeros adeptos do partisanismo, hostis à centralização do corpo militar soviético e à difusão sistemática de conhecimentos castrenses e beligerantes de mais larga amplitude de visão aos soldados vermelhos. Nos círculos capitaneados por Voroshilov, cultivava-se animosidade contra os especialistas das academias militares e dos supremos quartéis-generais de Moscou. Os dirigentes militares de Tsaritsyn relacionavam-se muito mal com todos os Comandos Militares dos Frontes Soviéticos. Sua relação com o Comando Militar Central de Moscou limitava-se a abusivos requerimentos de munição.

Nos poucos meses em que Stalin passou em Tsaritsyn dedicou-se a organizar, em bases sólidas, a partir dos bastidores, na penumbra burocrática, a Oposição Militar das Forças Armadas Vermelhas contra a direção de Trotsky, na medida em que incitava sistematicamente à violação das ordens do RevVoenSoviet da República, nisso contando com os serviços de Voroshilov e Minin. Reclamações do Comando Militar Central da Rússia contra Tsaritsyn surgiam, todos os dias, pois, nesssa cidade, era impossível alcançar-se a execução de ordens emandas do centro ou mesmo compreender-se o que lá se fazia, na medida em que não forneciam respostas a nenhum questionário imaginável.

Quando em julho de 1918, a crise em Baku atingiu o seu ápice, Lenin exigiu que Stalin mantesse permanente contato com Shaumian. Vide LENIN, VLADIMIR ILITICH ULIANOV. Telegramma I. V. Stalinu (Telegrama a I. V. Stalin)(30 de Junho de 1918) in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1965, Vol. 50, p. 108.

Em 7 de julho de 1918, Stalin enviou, a partir da cidade de Tsaritsyn, uma carta a Lenin, requerendo fosse concedido “a alguém (ou a mim mesmo) poderes excepcionais de caráter militar na região do Sul da Rússia”, acrescentando, nessa mesma carta, as seguintes palavras: “Esteja seguro que minha mão não tremerá”. Vide STALIN, IOSSIP VISSARIANOVITCH DJUGASHVILI. Pis’mo V. I. Leninu (Carta a V. I. Lenin)(07.07.1918), in : I.V.D. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol. 4. Dirigindo nova carta a Lenin, em 10 de julho de 1918, em que exigia abertamente fosse Trotsky impedido de conferir novas missões a seus subordinados, sob pena de inteira perda do Norte do Cáucaso, requeria a Lenin o envio de aviões, tanques de guerra e obuses de seis polegadas, alegando que : “Cereais, existem muitos no Sul ... A questão dos meios alimentícios está naturalmente relacionada com a questão militar. Para poder avançar na questão, necessito de plenos poderes militares.” Vide IDEM. Pis’mo V. I. Leninu (Carta a V. I. Lenin)(10.07.1918),  in : I.V. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol. 4. A seguir, em 31 de agosto, Stalin escreveu a Lenin, a fim de que este lhe enviasse “do modo mais urgente possível“, “rompendo todos os obstáculos”, “alguns navios torpedos de tipo leve e algo como dois submarinos”, a fim de que Baku, o Turquestão e o Norte do Cáucaso fossem conquistados, e conclui sua missiva da seguinte forma : “Jmu ruku moiemu dorogomu i liubimomu Il’itchu. Vash Stalin (Aperto as mãos do meu caro e amado Ilitch. Seu Stalin)” Vide IDEM. Pis’mo V. I. Leninu (Carta a V. I. Lenin)(31.08.1918),  in : I.V. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol. 4.

Diante da gravidade da situação no Sul da Rússia, o RevVoenSoviet da República já havia ordenado que o VoenSoviet do Fronte Sul remetesse, impostergavelmente, auxílio a Baku. Nada obstante, Stalin decidiu-se por enviar, apenas no fim de agosto de 1918, uma pequena unidade de combate para Baku, precisamente em um momento em que o Poder Soviético já tinha sido derrubado por forças locais daquela cidade. Vide ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e s.

O novo Governo de Baku, a Ditatura do Cáspio Central, solicitou a unidades das Forças Armadas Britânicas que ocupassem a região. Em meados de setembro de 1918, tropas turcas marcharam sobre Baku. A essa altura, Shaumian e seus companheiros bolcheviques já se encontravam no cárcere. Entrementes, porém, os bolcheviques de Baku encarcerados lograram empreender uma fuga, dirigindo-se, por mar, para Astrakhan. Os oficiais do navio em que se encontravam, mudaram, porém, o curso da embarcação, rumando para Krassnovodsk, onde vieram a entregar Shaumian e demais bolcheviques a militares britânicos. Logo a seguir, ocorreu o célebre assassinato dos 26 comissários bolcheviques de Baku pelos britânicos, para grande comoção de Lenin e do Poder Soviético.

Nesse contexto, em fins de setembro de 1918, o Conselho de Guerra do Fronte Sul contava com a seguinte composição : Stalin, desempenhando funções de Presidente do Conselho de Guerra do Fronte Sul, Pavel P. Sytin (1870-1938), Comandante Militar do Fronte, Voroshilov, Sub-Comandante e Minin, Presidente do Soviete de Tsaritsyn. Exercendo totalitariamente as funções de presidente desse organismo, Stalin afirmava pretender converter o Fronte Sul  em paradigma de disciplina militar do Conselhos de Guerra da Rússia Soviética. Coerente com sua linha de fomento da Oposição Militar das Forças Armadas Vermelhas, Stalin impediu, logo a seguir, que Sytin atuasse como Comandante Militar do Fronte e deslocou, arbitrariamente, todo o Comando e o Conselho de Guerra do Fronte Sul para a cidade de Tsaritsyn. Acerca desse tema, vide DIREKTIVY KOMANDOVANYA FRONTOV KRASNOI ARMII (Diretivas do Comando dos Frontes das Forças Armadas Vermelhas), Vol. 1 : 1917 - 1922, Moscou : Gosud.-Izdatel., 1971, pp. 343 e s.

Ordenou, a seguir, que tropas vermelhas despreparadas interviessem precipitadamente no cenário de guerra. O Conselho Revolucionário de Guerra da República (RevVoenSoviet), presidido por Trotsky, enviou, então, a partir do centro, Konstantin A. Mekhonoshin (1889-1938) e Pavel J. Lazimir (1891-1920) ao Fronte Sul, com o objetivo de recompor a unidade de comando militar das Forças Armadas Soviéticas, detendo o despotismo de Stalin. Apoiado em Voroshilov e Minin, Stalin deflagrou, então, autêntica luta burocrático-fracional contra Mekhonoshin, Lazimir e Sytin, declarando que afastaria, com suas próprias mãos, comandantes das Forças Armadas e comissários contra-producentes..

A discórdia sobressaltou a direção do Estado Soviético e, em 2 de outubro, Sverdlov dirigiu o telegrama ora traduzido a Stalin, Voroshilov e Minin, destacando o dever de obediência de todos os companheiros do Partido às decisões, emanadas dos órgãos centrais soviéticos.

Depois de um novo choque do (RevVoenSoviet) com Tsaritsyn, Trotsky insistiu na destituição de Stalin. Sua exigência foi levada a cabo por intermédio de Sverdlov, exercendo, então, a função de Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), o qual viajou, pessoalmente, até Tsaritsyn, a fim de trazer Stalin de volta, em um trem especial, para a cidade de Moscou. A seguir, também Trotsky dirigiu-se a Tsaritsyn, a fim de confirmar o afastamento de Stalin, e alcançar a obediência de Voroshilov que permanecia naquele fronte de guerra. Trotsky advertiu Voroshilov, afirmando que, caso não executasse, precisamente e incondicionalmente, todas as ordens e missões operacionais determinadas, envia-lo-ía, imediatamente, com trem de escolta, para Moscou, a fim de ser entregue ao Tribunal Revolucionário. Apenas assim, obteve uma garantia formal de subordinação de Voroshilov.

No dia seguinte, em 4 de outubro de 1918, Trotsky comunicou a Lenin e Sverdlov que insistia, irrevogavelmente, na destituição de Stalin do Conselho de Guerra do Fronte Sul o qual, apesar da abundância de forças e munições, apresentava-se inteiramente inoperante e insubordinado, incapaz de deflagar prontamente necessária ofensiva, antes do início do inverno, bem como que submeteria Voroshilov ao Tribunal Revolucionário, na hipótese de não cumprir rigorosamente as ordens emandas dos órgãos centrais. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a Revolução se Armou), Vol. 1, Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923, pp. 350 e s.; IDEM. Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in: Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s. Paralelamente, Trotsky ditou uma ordem dispondo sobre a unificação de todos os exércitos do Fronte Sul, colocado, agora, sob a direção de um Conselho de Guerra integrado por Aleksandr G. Schliapnikov (1885-1937), Pavel P. Sytin (1870-1938), Comandante Militar do Fronte, Konstantin A. Mekhonoshin (1889-1938) e Pavel J. Lazimir (1891-1920), devendo serem executadas todas as ordens emanadas desse último conselho incondicional e impreterivelmente. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s. 

Nessas condições, Stalin foi destituído de suas atribuições no Fronte Sul. D’outra parte, Lenin procurou, naturalmente, aplainar as dimensões do conflito, reduzindo-o ao mínimo possível e solicitando a Trotsky que empreendesse todos os esforços, com vistas a desenvolver trabalho em comum com Stalin. Logo a seguir, Stalin prometeu a Lenin, que não ocorreriam mais conflitos no Fronte Sul e que uma colaboração com Sytin e Mekhonoshin poderia até mesmo ter lugar. Afastado, porém, da função de Presidente do Conselho de Guerra do Fronte Sul, Stalin pretendeu, então, na qualidade de membro do Comitê Central do Partido Comunista Bolchevique e Comissário do Povo para Assuntos de Nacionalidades, assumir, igualmente, a função de membro do Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet), como forma de recuperar sua função perdida no Fronte Sul. Embora Trotsky entendesse que com Stalin não seria possível qualquer tipo de colaboração frutuosa, veio a conseguir, posteriormente, em 3 junho de 1920, a designação de Stalin como membro do RevVoenSoviet da República, a fim de que fosse forçado a transformar seu apoio subreptício à Oposição Militar das Forças Armadas Vermelhas, em antagonismo claro e aberto, substituindo-o por sua participação articulada em um órgão militar dirigente. Forçado a assumir tal condição de membro pelo período de três semanas, i.e. até 25 do mesmo mês, Stalin furtou-se, porém, a qualquer participação leal no RevVoenSoviet da República, utilizando o pretexto de encontrar-se sobrecarregado de trabalho em outros domínios, não tendo, pois, intervindo em nenhuma reunião desse organismo militar-soviético supremo. Cf. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s.

Sem embargo, ainda em meados de outubro de 1918, a situação em Tsaritsyn abalou-se consideravelmente, em conseqüência da desobediência do Conselho de Guerra (VoenSoviet) de Tsaritsyn às ordens dos órgãos revolucionários centrais. Valendo-se dessa situação extremamente desfavorável para o Poder Soviético no sul do país, as Forças Armadas Brancas, comandadas por Kornilov, Drosdov e Markov, lograram desenvolver, com seus 26.000 homens, uma ampla ofensiva na região do Fronte Sul. Cercaram Tsaritsyn a partir de três lados, aproximando-se dos muros da cidade. Importante combate travou-se em 22 de outubro de 1918, quando cossacos e militares brancos assediaram resolutamente o último bastião bolchevique. No balcão do prédio que abrigava o  comando militar do 10° Exército Soviético inteiramente desorganizado, encontravam-se, então, Kliment I. Voroshilov (1881-1969), Serguei K. Minin (1882-1962) e Grigorii I. Kulik (1890-1950). Em um último momento, interveio, a toda pressa, porém, no teatro de operações de guerra, a assim denominada Divisão de Aço Vermelha, enviada a partir do Norte do Cáucaso, sob o comando providencial de Dimitrii P. Shloba (1887-1938). Como estivessem as comunicações há muito tempo interrompidas com o Fronte Sul, niniguém poderia contar com a efetiva intervenção dessa força vermelha suplementar. O cerco de Tsaritsyn foi rompido, empurrando-se os inimigos do bolchevismo a 120 kilômetros para além do Rio Don.

Em 23 de outubro de 1918, Lenin escreveu a Trotsky, solicitando que, em virtude das novas vitórias soviéticas no Fronte Sul, fosse permitido que Stalin – por ter-se prontificado a instigar Voroshilov e Minin a obedecer estritamente as ordens do centro -, iniciasse conversações, com o objetivo de voltar a ocupar-se das atividades militares em Tsaritsyn, de modo a ter a chance de demonstrar a correção do ponto de vista militar que defendia, i.e. a suposta existência de relações impróprias, mantidas entre o Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet) e os conselhos dos frontes regionais, que não estariam sendo sondados quanto à possibilidade de aplicação das ordens, determinadas a partir do centro. Trotsky respondeu com plena disposição e Stalin foi nomeado, dessa vez pelo centro, membro do Conselho Militar do Fronte Sul. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in: Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.

No sexto dia de permanência da Divisão Shloba em Tsaritsyn, reapareceu Stalin, ainda a tempo de discursar enquanto membro do Conselho de Guerra do Fronte Sul, prometendo a Shloba e seus combatentes que o Partido Comunista Bolchevique e o Poder Soviético jamais os esqueceriam em virtude de terem bravamente salvado Tsaritsyn. Shloba recebeu das mãos de Stalin, a título de condecoração, um estojo de cigarros de ouro, visto que, então, inexistiam na Rússia Soviética medalhas oficiais de honra ao mérito. Shloba veio a comandar, posteriormenter, um corpo de tropa e, finalmente, um exército, no Norte do Cáucaso. Em 1937, procurando eliminar os vestígios de seu fracasso em Tsarytsin, Stalin enviou Shloba ao patíbulo, eliminando, assim, com a vida de mais um revolucionário bolchevique. Vide criticamente ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e s.

Em 14 de dezembro de 1918, Trotsky telegrafou a Lenin, assinalando que já não seria mais possível que Voroshilov continuasse a exercer suas funções no Fronte Sul, uma vez que todas as tentativas de acordo com esse comandante haviam fracassado novamente, razão pela qual propôs fosse Voroshilov transferido para a Ucrânia. Lenin aceitou, então, a proposta de Trotsky, sem levantar qualquer objeção. Na Ucrânia, sem a oposição de Voroshilov, o anarquismo já dificultava o exercício de um trabalho militar eficiente e centralizado. Com a presença, porém, de Voroshilov, seus colaboradores pessoais de Tsaritsyn, e o apoio subreptício de Stalin, esse trabalho tornou-se, então, impossível. Em 10 de janeiro de 1919, Trotsky declarou a Sverdlov, Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), que a linha da Oposição Militar  de  Tsaritsyn, que conduzira à inteira desintegração das Forças Armadas Vermelhas do Fronte Sul, não poderia vir a ser tolerada na Ucrânia. Como se Lenin e Sverdlov se inclinassem a promoção de um novo acordo suasório com os militares da Oposição Militar , Trotsky contestou a Lenin, em 11 de janeiro, afirmando que um acordo seria, evidentemente, necessário, porém não um acordo podre, considerando o patrocínio de Stalin e da Oposição Militar  de  Tsaritsyn “a úlcera mais perigosa, pior do que todas as traições e quebras de confiança dos especialistas militares ...” Cf. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.  Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in: Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.

No centro de atenção dos debates de outubro de 1918 a março de 1919, travados no quadro preparatório do VIII Congresso do Partido Comunista Bolchevique, sobre o dever de acatamento incondicional das resoluções dos órgãos centrais, encontrava-se sobretudo Stalin, Voroshilov e Minin em virtude de seu comportamento paradigmático de indisciplina do Fronte Sul, condutor de expressiva desagregação militar. Sua despudorada incitação à violação das ordens do Conselho Revolucionário de Guerra da República (RevVoenSoviet), sua aberta inimizade em face dos militares profissionais, suas repressões infundadas, sua conivência com punições por espancamentos no interior nas divisões das Forças Armadas Vermelhas, sua defesa da tática de guerrilheirismo no fronte, seu ilimitado arbítrio, suas intrigas contra os Comandantes Militares do Fronte e representantes do RevVoenSoviet, tudo isso conduziu, em poucos meses, à perda colossal da vida de 60.000 homens no Fronte Sul. Sem embargo, tão logo Lenin adoeceu, Stalin conseguiu, com o apoio de seus associados, renomear Tsaritsyn com o nome de Stalingrado. A Oposição Militar  de  Tsaritsyn tornou-se, a partir de então, uma das suas principais armas.

[4] Sobre o tema, vide LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Pis’mo Ob’iediniennomu Zassedaniou VTsIK, Moskovskovo Sovieta s Predstavitieliami Fabritchno-Zavodskikh Komitetov i Professional’nykh Soiuzov (Carta à Sessão Conjunta do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, do Soviete de Moscou e de Representantes dos Comitês de Fábricas e de Sindicatos)(03.10.1918), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 37, pp. 97 e s. Cumpre assinalar, de passagem, que, em conformidade com a presente carta de Lenin, teve lugar, na quinta-feira, 3 de outubro de 1918, uma sessão conjunta do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, do Soviete de Moscou, dos Comitês de Fábrica-Indústria e dos Sindicatos, versando sobre a crise política em curso na Alemanha. A resolução adotada na sessão em apreço incorporou as principais idéias, contidas na carta de Lenin em referência, bem como naquela datada de 1° de outubro de 1918, dirigida a Sverdlov e Trotsky sobre o início da Revolução Proletária na Alemanha. Vide LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV.  Y. M. Sverdlovu i L. D. Trotskomu (Carta a Jakob M. Sverdlov e a L. D. Trotsky)(01.10.1918), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1965, Vol. 50, pp. 185 e s. http://www.scientific-socialism.de/LeninSverdlovTrotskyRevAlemaCAP1.htm Por encontrar-se na cidade de Gorki, recuperando-se dos ferimentos decorrentes do atentado perpetrado contra sua vida, em 30 de agosto de 1918, Lenin não obteve permissão médica para participar da sessão em destaque. Enviou-lhe, porém, a carta aqui referida, a qual foi lida publicamente a todos os presentes. A resolução de Lenin foi expressamente acolhida na referida sessão e, a seguir, transmitida por telégrafo para o mundo inteiro.