90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

SVERDLOV E LENIN

Nos Dias de Outubro

 

NADEJDA K. KRUPSKAYA[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

Dezembro de 2003 emilvonmuenchen@web.de

Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/SverdParteIVolI-A.htm

 

    

Em 7 de outubro, Vladimir Ilitch Lenin mudou-se de Vyborg para Petrogrado.

Ficou decidido que manteríamos máxima conspiração sobre esse fato: não revelar nem mesmo aos companheiros do Comitê Central o novo endereço em que Ilitch permaneceria homiziado.

Optamos por instalá-lo, então, na habitação de Margarita Vassilievna Fofanova,  uma grande habitação, situada na esquina da Avenida Lesnoi, ainda do lado de Vyborg, onde moravam quase exclusivamente trabalhadores.

Essa habitação era muito adequada, pois, devido à estação de verão, ninguém da família Fofanova se achava por ali.

Até mesmo os funcionários do prédio haviam saído de férias.

Já a própria Margarida Vassilievna era uma ardente bolchevique que se movia rapidamente, seguindo todas as instruções de Ilitch.

 

Três dias depois, em 10 de outubro, Lenin participou da reunião do Comitê Central, ocorrida na habitação de Sukhanova, onde foi adotada uma resolução sobre a Insurreição Armada.

Dez pessoas, membros do Comitê Central, votaram a favor da Insurreição Armada.

Foram elas: Lenin, Sverdlov, Stalin, Dzerjinsky, Trotsky, Uritsky, Kollontai, Bubnov, Sokolnikov e Lomov.

Contra essa resolução, votaram Zinoviev e Kamenev.     

 

Em 15 de outubro, teve lugar, então, uma reunião da organização de Petrogrado, ocorrida no Smolny que, por si mesma, foi muito significativa.

Nela, estiveram presentes delegados de diversos bairros, sendo que oito (8) deles eram do Distrito de Vyborg.

Recordo que Dzerjinsky interviu em defesa da Insurreição Armada, ao passo que Tchudnovsky posicionou-se contrariamente a ela.

Tchudnovsky havia sido ferido no fronte e seu braço encontrava-se na tipóia.

Com bastante aguitação, Tchudnovsky afirmou que sofreríamos uma derrota inevitável, que não devíamos precipitar os acontecimentos :

 

“ – Nada é mais fácil do que morrer pela revolução.

Porém, prejudicaremos a causa da revolução, se permitirmos que nos fuzilem.”

 

De fato, Tchudnovsky morreu efetivamente pela causa da revolução, sendo sepultado durante a Guerra Civil.

Não era um impostor.

Porém, seu ponto de vista era, então, absolutamente equivocado.

Não me recordo de outras intervenções.

Fato é que, no momento da votação, a esmagadora maioria exprimiu-se a favor da imediata deflagração de uma insurreição.

Todos os delegados do Distrito de Vyborg votaram a favor dela.

 

No dia seguinte, em 16 de outubro, ocorreu a Reunião Ampliada do Comitê Central, na Duma do Subdistrito de Lesna, situada na avenida de mesmo nome.

Além dos membros do Comitê Central, dela também participaram os membros que integravam o Executivo do Comitê de Petrogrado, a Organização Militar, o Soviete de Petrogrado dos Sindicatos e dos Comitês de Fábrica, o Comitê da Circunscrição de Petrogrado, bem como os representantes dos trabalhadores ferroviários.    

Nessa reunião, duas linhas foram analisadas:

 

·            a linha bolchevique, defendida pelos que se posicionavam em favor da imediata deflagração da Insurreição Armada;

 

·            e a linha menchevique, propugnada por aqueles que se mantinham contra uma imediata insurreição.

 

A resolução de Lenin obteve a esmagadora maioria dos votos : dezenove votos foram expedidos a seu favor.

Dois votos foram dados contra ela e quatro expressaram abstenções.

A questão ficou, assim, decidida.

No encerramento da reunião, foi eleito um centro militar-revolucionário.  

 

Apenas uma quantidade mínima de pessoas podiam ter contato direto com Lenin.

Visitavam-no apenas eu, Maria Ilitchna e, de vez em quando, o companheiro Rakhia.

Recordo-me do seguinte incidente, ocorrido certa vez.

Ilitch havia enviado Fofanova a um lugar qualquer, a fim de resolver um assunto.

Para um caso desses, havíamos combinado que Ilitch não abriria a porta a ninguém e não atenderia a campainha de nenhuma forma.

Quanto a mim, deveria bater à porta, segundo um sinal pré-combinado.

Fofanova tinha, porém, um primo que integrava um certo estabelecimento de instrução militar.

Certo dia, quando cheguei pela tarde, avistei esse jovem de pé no corredor do prédio, com um rosto de algum modo desesperado.        

Ao me ver, disse o seguinte :

 

“- Sabe, alguém entrou furtivamente no quarto da Margarida.”

 

“- Como assim, ingressou furtivamente ?”, retruquei.

 

“- Sim, porque quando cheguei, toquei a campainha e alguém me respondeu, com voz masculina. Então, toquei e toquei novamente, mas ninguém respondeu.” 

    

Disse, a seguir, algo bem mentiroso àquele jovem, assegurando-lhe que Margarida encontrava-se, naquela ocasião, em uma dessas reuniões, de tal sorte que ele mesmo havia puramente imaginado vozes.

Vim a tranqüilizar-me apenas, quando ele se sentou no vagão de um bonde e partiu.

A seguir, retornei e bati à porta, do modo combinado, e, quando Ilitch abriu-a, comecei a repreendê-lo :

 

“ – ... Pois, esse jovem pode ter ido chamar pessoas “, disse.

 

“- Pensei que podia tratar-se de algo muito urgente”, redarguiu-me Ilitch.     

 

Eu também me deslocava, por todo o tempo, a fim de dar cumprimento às instruções de Ilitch.

 

Em 24 de outubro, Lenin redigiu uma carta, dirigida ao Comitê Central, versando sobre a imprescindibilidade da tomada do poder naquele mesmo dia.

Enviou Margarida como portadora dessa carta, porém, sem esperar pelo seu retorno, pôs uma piruca e saiu, dirigindo-se ao Smolny.  

Não era possível perder-se nem mais um minuto sequer.

Ao longo do caminho, Ilitch encontrou-se com Margarida e disse-lhe que estava a caminho do Smolny e que não esperasse pelo seu regresso.

 

O Distrito de Vyborg preparava-se para a Insurreição Armada.

No prédio da Câmara Municipal de Vyborg, encontravam-se instaladas 50 trabalhadoras.

Durante toda a noite, uma médica trabalhadora havia-as ensinado a fazer curativos.

No edifício do Comitê Distrital, processava-se o armamento dos trabalhadores.

Grupo após grupo dirigia-se a esse comitê e recebia armas de fogo.

Porém, no Distrito de Vyborg, não existia ninguém para reprimir: presos haviam sido apenas um desses coronéis e alguns cadetes militares que vieram beber chá, em um clube de trabalhadores.

Pela noite, Jenia Yegorova e eu fomos, em um caminhão, até ao Smolny, saber como andavam as coisas.

 

Na manhã de 25 de outubro (7 de novembro) de 1917, foi deposto o Governo Provisório.   

O Poder Estatal foi transferido ao Comitê Militar Revolucionário (CMR), orgão do Soviete de Petrogrado que se situava à cabeça do proletariado e da guarnição dessa mesma cidade.[2]

 

Nesse mesmo dia, o Comitê Militar Revolucionário (CMR) entregou o poder ao II Congresso dos Sovietes de Deputados Trabalhadores e Soldados de Toda a Rússia.

Foi formando, então, um Governo Operário-Camponês e organizado o Conselho dos Comissários do Povo, para o exercício de cuja presidência foi nomeado Lenin. (...)

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS



[1] Cf. KRUPSKAYA, NADEJDA KONSTANTINOVNA. Vospominania o Lenine (Recordações de Lenin), Vypusk II (Parte II), Moscou-Leningrado : Gosudarstvennoe Izdatelstvo, 1931, pp. 208 e s.  

[2] Importa anotar que, na Parte III de suas Recordações de Lenin, ao escrever mais detidamente acerca da gênese e atuação do Comitê Militar Revolucionário (CMR) – embora referindo-se corretamente à presença de Sverdlov nesse organismo -, Krupskaya reproduziu, lamentavelmente, uma interpretração essencialmente capituladora ao stalinismo burocrático, tanto no que concerne à composição efetivamente havida por esse comitê, quanto no que tange ao suposto papel que o centro militar revolucionário de 16 de outubro teria efetivamente exercido, no curso da Insurreição Socialista de Outubro de 1917. Se não, vejamos : “Intensos preparativos para a insurreição estavam sendo levados adiante e quebravam todas as resistências oportunistas. Em 26 de outubro (i.e. 13 de outubro no velho estilo), o Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado aprovou uma resolução sobre a criação de um Comitê Militar Revolucionário. Em 29 de outubro (i.e. 16 de outubro), uma reunião ampliada do Comitê Central foi realizada juntamente com representantes das organizações partidárias. Nesse mesmo dia, foi criado, em uma reunião do Comitê Central, um centro militar revolucionário, para dirigir a insurreição, composto por Stalin, Sverdlov, Dzerjinsky e outros. No dia 30 de outubro (i.e. 17 de outubro), a organização proposta, referente à criação de um Comitê Revolucionário Militar, foi sufragada pelo Soviete de Petrogrado como um todo e não apenas por seu Comitê Executivo. Cinco dias depois, uma reunião dos comitês de regimentos reconheceu o Comitê Revolucionário Militar como o órgão dirigente das unidades militares de Petrogrado e aprovaram uma resolução, declarando que não obedeceriam as ordens do Quartel General, a menos que fossem confirmadas pelo Comitê Militar Revolucionário. Já em 5 de novembro (i.e. 23 de outubro), o Comitê Militar Revolucionário havia nomeado comissários para que atuassem junto às unidades militares. No dia seguinte, em 6 de novembro (i.e. 24 de outubro), o Governo Provisório decidiu perseguir os membros do CMR e prender os comissários nomeados. Os cadetes militares foram mandados para fora do Palácio de Inverno, a fim de intervirem. Porém, já era muito tarde. As unidades militares estavam do lado dos bolcheviques. Os trabalhadores posicionavam-se em favor da transferência do poder aos Sovietes. O Comitê Militar Revolucionário trabalhava sob o comando direto do Comitê Central, sendo que a maioria de seus membros, incluindo Stalin, Sverdlov, Molotov, Dzerjinsky e Bubnov integravam o CMR. A insurreição havia começado.” Cf. IDEM. ibidem, Vypusk III (Parte III)(1933), Moscou-Leningrado : Gosudarstvennoe Izdatelstvo, 1930, p. 4 e s. Assinale-se, por oportuno, que, ao tratarmos do significado histórico do Comitê Militar Revolucionário do Soviete de Petrogrado em tela, cumpre destacar, sempre e antes de tudo, que Trotsky, enquanto um dos principais dirigentes do Partido de Lenin, foi o Presidente desse organismo insurrecional e, além disso, que o referido centro militar revolucionário de 16 de outubro – cuja atuação efetiva enquanto organismo central foi materialmente nula - ingressou apenas suplementarmente no quadro do CMR, não conformando, por isso, nenhum órgão à parte, autônomo e efetivo, dedicado à direção da Insurreição de Outubro. Tal apreciação não infirma, entretanto, os decisivos contatos pessoais e diretos, mantidos entre Trotsky e Sverdlov, visando à direção da Insurreição Armada de Outubro.

Nesse sentido, assinala Trotsky precisamente : “Ao longo das linhas do Partido, todos os fios encontravam-se na mãos de Sverdlov que conhecia os quadros partidários como ninguém. Ele manteve o Smolny em contato com o aparato do Partido, forneceu ao Comitê Militar Revolucionário os trabalhadores necessários e foi requisitado nesse Comitê para dar conselhos, em todos os momentos críticos. Na medida em que o Comitê possuía uma militância ampla demais e, até certo ponto, fluída, os empreendimentos mais conspirativos eram executados por intermédio das cabeças da organização militar dos bolcheviques ou através de Sverdlov que foi o « secretário geral » oficioso, porém tanto mais real, da Insurreição de Outubro.” Cf. TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao Russa)(1930-1933), Vol. 2, Parte 2, Cap. 21,  Berlim : Granit, 1931 e New York : Monad Press, 1975, pp. 219 e s. Para uma mais detida e acertada compreensão do significado insurrecional do Comitê Militar Revolucionário em tela, vide IDEM. O Poddelke Istorii Oktiabrskovo Pierievorota, Istorii Revolutsii i Istorii Partii (Acerca da Falsificação da História da Insurreição de  Outubro, da História da Revolução e da História do Partido)(1927), in : Léon Trotsky. Stalinskaia Schkola Falsifikatsii : Popravki i Dopolnienia k Literature Epigonov (A Escola de Falsificação Stalinista : Correções e Complementações à Literatura dos Epígonos)(1937), Moscou-Berlim : Granit, 1932, pp. 24 e s.