90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

JAKOB M. SVERDLOV NO EXÍLIO :

Recordações    

 

BORIS I. KRAEVSKY[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

 Julho de 2003 emilvonmuenchen@web.de

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No curso dos longos anos de luta ininterrupta contra a autocracia, contra seu arbítrio reacionário, nosso Partido forjou e solidificou suas fileiras e, em seu interior, muitos líderes surgiram, sob cuja direção o proletariado conseguiu não somente derrubar o trono czarista, senão ainda, durante o período da Guerra Civil, acertar contas com sua própria burguesia nacional e externar furioso ataque contra a burguesia mundial.

Um desses líderes que bastante cedo avultou perante nossos olhos, foi o nosso companheiro, fervorosamente amado, Jakob Mikhailovitch Sverdlov, i.e. “Andrei”, conforme o chamávamos, nos anos de clandestinidade.

Esse pequenino homem, imperceptível a um primeiro olhar, era vigoroso e forte como uma rocha de granito.

Seus longos anos de encarceramento nas redomas czaristas, as chicanas dos carcereiros a que foi exposto, seus inúmeros exílios na Sibéria, suas fugas fracassadas, empreendidas a partir daquela região, em suma : todos os sofrimentos, havidos em sua luta revolucionária, não exterminaram e nem debilitaram seu encorajamento e sua energia, contidas em seu saudável espírito revolucionário.

Pelo contrário : precisamente como havia de ser, esses sacrifícios fortaleceram-no ainda mais, tornando-no ainda mais rijo, ainda mais inflexível.

Desse modo,  forjou-se essa grandiosa figura, tão próxima de nós e por nós tão apreciada : o nosso “Andrei”.

 

Em 1909, a Okhrana (i.e. a Polícia Secreta Czarista) exilou Jakob Mikhailovitch na Sibéria distante, marcada pela penúria, onde agonizavam milhares de prisioneiros revolucionários.   

As condições do exílio eram tais que, em determinados casos, os que a ele eram submetidos, desesperavam-se e perdiam toda a crença no futuro.

Uma vez perdidas as esperanças, enclausuraram a si mesmos, entre as paredes do filistinismo, mesmo ante a maré revolucionária.

Isso não ocorreu com Jakob Mikhailovitch Sverdlov.

Desterrando-o para a Sibéria, a Okhrana pretendia erradicar de “Andrei” seu entusiasmo revolucionário e, precisamente por esse meio, torná-lo inofensivo.

Porém, prontamente a seguir, a Polícia Secreta Czarista foi forçada a reconhecer amargamente que suas expectativas haviam malogrado.

Tão logo Jakob Mikhailovitch chegou à região de Narym, localidade de sua proscrição, começou a tomar parte da organização de círculos formados autonomamente e dedicados à arregimentação de exilados.

 

Em 1910, conseguiu fugir para Petersburgo, onde novamente dedicou-se ao trabalho clandestino.

Naqueles anos, fugir da Sibéria ainda era relativamente fácil.

Sem embargo, a despeito da facilidade de sua fuga, teve logo de abandonar o seu passeio de “liberdadezinha clandestina” : pouco tempo depois, foi novamente preso e, na primavera de 1910, todos nós, situados no exílio, já sabíamos de sua captura.

Algumas semanas depois, recebemos informações sobre seu reenvio ao exílio, na região siberiana de Narym, Provícia de Tomsk.   

Ao longo de todo o seu percurso rumo ao degredo, recebíamos, ininterruptamente, as mais precisas informações sobre “Andrei”.

Tanto assim que nem sequer havia ainda sido encarcerado no Presídio de Tomsk e já tinhamos conhecimento de que para lá estava sendo conduzido.

Esperávamos com impaciência.

Recordo-me com clareza do momento em que nós todos, exilados, aguardávamos pelo navio em que deveria chegar “Andrei”.

Mesmo que Jakob Mikhailovitch surgisse apenas por tão pouco tempo diante dos nossos olhos, sabíamos que haveria de conquistar, de imediato, a mais ampla popularidade e nosso mais profundo apreço.

E eis que, ao receber a notícia sobre sua imediata chegada, toda a colônia de exilados de Kolpashevo dirigiu-se, efusivamente, às margens do rio, a fim de recepcionar o seu amado companheiro.

Porém, qual não foi a alegria – e, ao mesmo tempo, decepção – que se apossou de todos os que fomos ao seu encontro, quando ficamos sabendo, por meio de outros exilados, vindos naquele navio (parece que por meio do companheiro Schischkov), que “Andrei” lograra escapar da embarcação, na cidade de Tomsk, havendo restado tão somente alguns trapinhos de sua vestimenta sovada, para serem contemplados.

Vem a pêlo observar que, naquele tempo, existia um certo regulamento de exílio, segundo o qual os exilados que chegavam a Tomsk podiam usufrir de diversas liberdades de locomoção pela cidade, até longínquas localidades, situadas bem distantes de suas designações de assentamento penal.         

A bem da verdade, essas liberdades não eram concedida a todos os exilados.

Mesmo sem delas gozar, Jakob Mikhailovitch conseguiu, apesar de tudo, escapar de bem debaixo do nariz dos policiais.

Enfurecida com o descarado empreendimento de “Andrei”, a Admnistração da Polícia de Tomsk colocou todos e todo o possível em movimento, a fim de agarrá-lo.

Baldados foram, porém, os esforços policiais.

Apesar de tudo isso, “Andrei” teve de retornar ao seu encarceramento prisional, porquanto o Comitê do Partido de Tomsk e a Cruz Vermelha consideraram sua fuga despropositada.

Temiam a idéia de que pudesse ela refletir-se negativamente nas condições dos exilados, acarrentado o seu substancial pioramento.

 

Jakob Mikhailovitch concordou, obviamente, com as ponderações apresentadas para o seu retorno e, imediatamente, apareceu diante da polícia que o procurava, declarando que seu desaparecimento havia sido causal : “Andrei” teria descido do navio, com o objetivo de comprar alguma coisa para si mesmo e, perdendo-se, atrasou-se para o reembarque.

Sem detença, já no navio seguinte, a Okhrana reconduzido-o à aldeia de Kolpashevo, desta feita mediante escolta, realizada por duas sentinelas.

Os exilados que lá se achavam receberam, então, entusiasticamente Jakob Mikhailovitch.

Por insistência de nossa “comuna” - composta por Ivan Nikititch Smirnov, Vladimir Kosarev, Ivan Aborin, Medvedkov e por mim -, Jakob Mikhailovitch começou a esforçar-se por obter autorização de permanência na aldeia de Kolpashevo, o que lhe foi, entretanto, resolutamente denegado.

Assim sendo, foi obrigado a dirigir-se à região siberiana de Narym e, apenas depois de algumas semanas inteiras, conseguiu retornar à aldeia de Kolpashevo, onde veio, então, a alojar-se junto a nós.

 

Jakob Mikhailovitch foi não apenas um extraordinário revolucionário e um excelente organizador, senão também um companheiro maravilhoso, seja no trabalho, seja na vida pessoal.

Essa sua última característica constituía uma raridade entre os exilados.

Era muito atraído pelos esportes e ele mesmo, enquanto esportista, foi excepcional.

Amava, particularmente, realizar competições a cavalo, corridas com esquis e com saltos de cavalo.

Recordo-me de como nos vencia a todos nesses jogos que organizávamos.

Na caça, era também o primeiro entre os nossos melhores franco-atiradores, a despeito de sua miopia desesperadora.

Possuía uma certa capacidade especial de aglutinar as pessoas. 

Com a sua chegada, nosso quarto convertia-se em um estado-maior e nele reuniam-se todos os exilados.

Por sua iniciativa e sob sua direção, começou a ser empreendida uma forte campanha em prol da unificação e da organização dos exilados, então dispersos e atomizados, por toda a região siberiana de Narym.

Constituiram-se conexões entre as colônias, distanciadas umas das outras por diversas centenas de quilômetros.

Em cada ponto isolado, foram organizados comitês que, por sua vez, surgiam unificados junto ao “Comitê dos Exilados da Região de Narym”.

Jakob Mikhailovitch dedicava grande atenção ao desenvolvimento autônomo e à melhoria das condições políticas dos exilados. 

Desenvolveu uma rede inteira de círculos, no qual inúmeras aulas e palestras foram ministradas, efetuando-se, concomitantemente, a preparação de propagandistas e agitadores, dedicados ao impulsionamento de ativo trabalho revolucionário.

A maioria das aulas-palestras era apresentada por ele mesmo.

Jakob Mikhailovitch recebia inúmeras cartas e comunicações de todos os cantos da Rússia.

Com ela, mantinha uma boa ligação, modificando, assim, o fato de que houvéramos estado, até então, muito debilmente conectados.

Passamos, então, a receber jornais, revistas e uma quantidade regular de livros, de modo que pudemos criar, rapidamente, junto a nós, uma sólida biblioteca.

Ao dinamizar uma ininterrupta correspondência com toda a Rússia, Jakob Mikhailovitch tinha em vista clarificar o estado das organizações partidárias, nas quais percebiam-se certas insuficiências nos quadros militantes.

Empreendendo o trabalho de localização de pessoas adequadas, direcionava a atividade de deslocamento destas para as organizações deficientes, a fim de que impulsionassem mais firmemente o trabalho clandestino.

Todo essa tarefa de Jakob Mikhailovitch não se processava bem ao agrado do serviço secreto czarista.

Além disso, propagaram-se informes escritos que íam da aldeia de Kolpashevo para a cidade de Narym e da cidade de Narym para a cidade de Tomsk, nos quais referia-se, de todas as formas e maneiras, o nome de “Andrei”, até que, em um belo dia, sem qualquer tipo de pretexto, prenderam-no e transferiram-no para o Presídio de Tomsk.  

 

Depois de manter Jakob Mikhailovitch nessa prisão durante vários meses, os membros da Polícia Secreta Czarista decidiram transportá-lo para Maksimkin Yar, ponto mais distante e sombrio da região siberiana de Narym.

A esse tempo, em toda a cidade de Narym, difundiram-se boatos de que já estavam tomando medidas e se reunindo para libertar “Andrei” do cativeiro.

O Comissário de Polícia de Narym, chamado Ovsianikov, a cujos ouvidos tais boatos haviam chegado agiu também prontamente, convocando os representantes da colônia de exilados de Narym para prestarem esclarecimentos.

Declarou-lhes que uma semelhante tentativa de libertação forçada não levaria a nada, a não ser à piora das condições dos exilados e, igualmente, do próprio Jakob Mikhailovitch.

Os representantes da colônia fizeram cessar tais boatos, demonstrando a sua mais inteira falsidade.

Em verdade, entre nós, a cicatriz já estava intumescendo.

Nossa colônia, encabeçada por Ivan Nikititch Smirnov estava prestes a empreender um assalto contra o “katalajk“ (i.e. o quarto de prisioneiro), em que haviam, a título temporário, enclausurado, Jakob Mikhailovitch, antes de efetuarem sua tranferência para Maksimkin Yar [2].

       

Durante a permanência de Jakob Mikhailovitch nesse “katalajk”, Ivan Nikititch Smirnov e eu visitávamo-lo, diariamente, e desfrutávamos todos juntos as horas do dia, tratando de diversas questões.

Pensamos, então, colocá-lo já a par do nosso plano de repentina investida contra seu “katalajk”.

Jakob Mikhailovitch ouviu, atenciosa e rigorosamente, a exposição de Smirnov e, quando esse último concluiu sua argumentação, deu uma sacudida em sua cabeça posta em desordem e, como se despertasse de um sono, ajeitou seus óculos caídos, abraçou-nos pela nuca e pela cabeça, apontando-nos, sem palavras, os sentinelas de escolta, postados por detrás da porta e, em voz baixa, murmurou :

 

“- Nisso, consumiríamos muito sangue e o resultado seria duvidoso.

Para os exilados que permanecessem, tal ato não se revelaria importante.”

 

Anoto, porém, de passagem, que, entre outras coisas, segundo o nosso plano, os organizadores da fuga deveriam fugir juntamente com “Andrei”.

Seja como for, nosso plano acabou sendo, porém, abandonado.

 

Parece-me que Jakob Mikhailovitch permaneceu nesse “katalajk”, situado na localidade de Togur, por cerca de 4 ou 5 meses.

Durante todo esse período, conseguimos com ele conversar sobre muitas e muitas coisas.

Repassou-nos inúmeros contatos com a Rússia, exigiu que os apoiássemos constantemente e informássemos a ele próprio, havendo a mais ínfima possibilidade, todas as ocorrências havidas.

Ali mesmo, elencou uma série inteira de companheiros que, segundo sua opinião, deveriam ser enviados para impulsionamento de trabalho clandestino.

Nesse quadro, recomendou-nos quem deveria ser enviado para onde, de quem receber dinheiro para a organização de fugas etc.

Jakob Mikhailovitch possuía uma memória incrível.

Recordo-me do modo como nos surpreendeu ao elencar uma série inteira de nomes, sobrenomes, nomes de guerra e também endereços de companheiros, dispersos por todos os rincões da Rússia, tendo em conta o fato de que jamais mantinha anotações escritas sobre eles.

 

Em nossas visitas a Jakob Mikhailovitch, levantamos, por diversas vezes, a questão referente à sua futura fuga.

Porém, na medida em que desconhecíamos a situação existente em sua futura localidade de exílio, i.e. em Maksimkin Yar, tornava-se-nos dificultoso adotar qualquer decisão definitiva que fosse, antes de sua chegada ao local designado.

De modo inteiramente provisório, estabelecemos com “Andrei” códigos a serem repassados mediante alguns livros, fornecemos-lhe limões e diversos ácidos para as cartas, a serem elaboradas com produtos químicos, e combinamos que iríamos preparar, gradativamente, a sua fuga.

Por ocasião de sua chegada em Maksimkin Yar, haveria ele mesmo de elaborar um plano, o qual nos seria enviado, a seguir, para execução.

Repassamos-lhe também parte de nossa biblioteca e, por fim, em um belo e autêntico dia de outono siberiano, despedimo-nos de “Andrei”, que zarpou rumo a um lugar distante e desconhecido.

 

Com efeito, a expedição que o levava para Maksimkin Yar compunha-se de duas grandes embarcações à vela.

Uma delas encontrava-se carregada com todos os utensílios domésticos necessários.

Nela, viajavam também as mulheres dos sentinelas que escoltavam Jakob Mikhailovitch.

A segunda embarcação transportava o próprio Jakob Mikhailovitch e três sentinelas bem armados.

Além disso, em cada uma das embarcações, encontrava-se ainda dois pares de remos suplementares.

Toda a colônia de exilados de Togur e parte da de Kolpashevo, independentemente de afiliações partidárias, foram até às margens do rio, para assistirem à partida da expedição e despedirem-se de “Andrei”.

Destaque-se que, entre a aldeia de Kolpashevo e Togur, havia nada menos do que 13 ou 14 quilômetros.

Os sentinelas de escolta, que ali estavam presentes, logo demonstraram seus rostos irritados e aborrecidos.

O próprio Jakob Mikhailovitch, seguindo seu costume de sempre, achava-se tranqüilo, sorria e fazia ironias sobre o destino da “expedição festiva”.

 

Tão somente após alguns meses posteriores à sua transferência de Togur, recebemos de “Andrei” uma carta, pelas mãos dos navegadores que haviam tomado parte na expedição.   

Já haviam regressado pela rota terrestre de inverno, com os cães de trenó.

Em sua carta, Jakob Mikhailovitch descrevia, detalhadamente, o roteiro que percorrera em Maksimkin Yar, com o objetivo de familiarizar-nos com o sendeiro ao longo do qual teríamos de realizar nossa “expedição”, rumo ao seu encontro.

Julgando-se pela sua carta, toda população de Maksimkin Yar era constituída por duas ou três dezenas de humildes ostiakovs, duas dezenas de samoiedovs, dois kuitsovs russos (i.e. dois mercadores caucasianos convidados), que negociavam peles, um padre ortodoxo muito primitivo, acompanhado de sua esposa e - tal como de costume – toda uma “coleção” de crianças[3].

 

Jakob Mikhailovitch alojou-se na casa do padre, onde também residia um velho sentinela de escolta.

Quando deciframos sua carta à luz de uma lâmpada, conseguimos contemplar uma exposição detalhada de suas reflexões sobre a futura fuga.

Assinalava que não caberia especular com a organização de uma fuga no inverno.

Em primeiro lugar, porque agora, giravam em torno dele, durante dia e noite, um dos três sentinelas de escolta, e, em segundo lugar, porque uma fuga de inverno poderia ser empreendida apenas com a utilização de esquis.

Sem treinamentos práticos rotineiros, tentar escapar sobre esquis, ao longo de centenas e centenas de quilômetros, implicaria correr um risco muito grande de morrermos congelado, no meio da floresta siberiana, ou sermos assassinados.

Por essa razão, propôs-nos que nos preparássemos para uma fuga no verão, utilizando barcos.

Em conformidade com esse plano, deveríamos obter uma embarcação para oito ou dez pessoas, adquirir armamentos e munições de combate - mesmo porque a viagem envolveria perigos -, de modo que pudéssemos defrontar-nos com grandes animais selvagens.

De resto, cumpriria providenciar suficiente número de lutadores implacáveis e, então, metermo-nos a caminho, por ocasião do recebimento de suas mais precisas instruções.

Nas cartas subseqüentes, Jakob Mikhailovitch remeteu-nos um plano mais bem elaborado e, até mesmo, um mapa bosquejado pela sua própria mão, estampando o Rio Ket com seus afluentes enfileirados, assim como um plano sobre a situação geográfica de Maksimkin Yar, dotado de observações marginais referentes à casa do padre e à janela, do lado da qual dormía.

Quanto a nós, deveríamos desembarcar, tendo-nos aproximado a 5 ou 8 quilômetros de distância do local, camuflarmo-nos no meio da floresta siberiana e, durante a noite, estabelecer contato com Jakob Mikhailovitch, em um momento noturno previamente convencionado, para então, secretamente, empreendermos a fuga.

Na hipótese de as sentinelas adormecidas investirem, repentinamente, contra nós, movendo-se em nosso encalço, haveríamos de recorrer às armas.

A direção da organização da fuga foi assumida por Ivan Nikititch Smirnov.

Dinheiro era a primeira coisa que nos faltava.

Evidentemente, nenhum de nós o possuía.

Não era possível obtê-lo de nenhum lugar.

Assim sendo, Smirnov passou a reunir o grupo de companheiros que deveria participar da fuga (Smirnov, Aborin, Ivan, Medvedkov, Boshvinov, mais dois companheiros - de cujo nome não me recordo - e eu) e, assim, tão logo escurecia, dirigíamo-nos à floresta siberiana, a fim de recolhermos “ossokops” - i.e. álamos negros, crostas de choupo, utilizado para fazer flutuar redes de pesca – que, a seguir, seriam vendidos.

O trabalho era diabolicamente pesado, de modo que tivemos de trabalhar como bois, apressando-nos para terminar tudo até o início da reabertura do período de navegação.

De posse do dinheiro auferido com o produto de nosso trabalho, conseguimos adquirir todas as coisas necessárias para a execução da fuga, conforme o plano traçado por Jakob Mikhailovitch.

Passamos, então, a embrenhar-nos pela floresta siberiana duas vezes por semana, de tal sorte que nossos sentinelas viessem a se acostumar com a nossa relativa ausência.

Concomitantemente, treinávamo-nos, intensamente, nos remos, ao longo de várias horas, uns após os outros.

Segundo nossos cálculos, haveríamos de realizar o caminho de regresso de Maksimkin Yar a bordo de um barco, navegando dia e noite, percorrendo rio abaixo, em média, 16 a 18 quilômetros por hora, sempre a favor da correnteza.

Desse modo, deveríamos navegar até a aldeia de Kolpashevo e, a partir daí, movimentarmo-nos, então, já mesmo embarcados em um navio.

A despeito de todas as dificuldades existentes no caminho durante o inverno, conseguimos, plena e inteiramente, manter permanente conexão com Jakob Mikhailovitch.

Todas as cartas vindas da Rússia e a ele dirigidas – assim como as dele provenientes e endereçadas à Rússia -, circulavam através de nós, de sorte que encontrávamo-nos sempre a par de todas as suas questões.

 

Em julho de 1911, há poucos dias de nossa pretendida partida para Maksimkin Yar, recebemos, porém, de Jakob Mikhailovitch um curto manuscrito com o pedido de não irmos ao seu encontro.

Informou-nos que ficara doente e sentia-se extremamente fraco.

Em Maksimkin Yar, ninguém podia prestar-lhe auxílio médico, visto que ali não existia nem mesmo uma enfermeira.

Assim, receava que não se encontraria em condições de fugir.

Por esse meio, acrescentou também que, dia-a-dia, aguardava-se a chegada de uma navio que, uma vez ao ano, aportava em Maksimkin Yar, trazendo provisões para a população local.

Nesse navio, Jakob Mikhailovitch pretendia fugir.

Tendo recebido essa carta, os companheiros de Narym passaram a pressionar ainda mais o Comissário de Polícia, Ovsianikov, desejando dele obter uma decisão permissiva do regresso de Jakob Mikhailovitch para a cidade de Narym.

As tratativas desse tema foram conduzidas ao longo de todos os meses subseqüentes do ano.

O Comissário Ovsianikov não concordava, porém, em nenhuma hipótese, com o retorno de Jakob Mikhailovitch, apesar de ter-lhe sido expressamente formulada a promessa de que “Andrei” não voltaria a fugir.

Graças à grande pressão da colônia de exilados de Narym, exercida sobre Ovsianikov, Jakob Mikhailovitch veio a ser entregue, em agosto de 1911, novamente à cidade de Narym.

    

Transcorrido um certo tempo, eu mesmo consegui fugir e, mais uma vez, depois do desmantelamento da organização de Samara, no início de 1912, tive de regressar ao exílio.

Já então, foram desterrados, juntamente comigo, Isaak Zelensky e Leonid Serebriakov.

No fim de 1912 e início de 1913, eu já havia chegado ao meu exílio, em Kolpashevo.

Cumpre observar, porém, que, no curso desses anos, ocorrera uma grande modificação na composição qualitativa dos exilados.

Os exilados que haviam sido desterrados após 1905 e 1906, já haviam conseguido partir, devido ao encerramento do tempo cominado para seus respectivos banimentos.

O clima de liquidacionismo, que teve lugar nos anos de 1909 e 1910, havia já inteiramente desaparecido,

Nesse novo momento, Jakob Mikhailovitch vivia já em Parabel, a 30 quilômetros da cidade de Narym, e possuía a possibilidade de viajar, livremente, pela colônia, dar aulas, proferir palestras, organizar círculos.

Por diversas vezes, durante o inverno, dirigiu-se até nós, em Kolpashevo, onde se alojava na habitação de Olga Dilevska.

Da nossa antiga “comuna”, havia apenas restado Ivan Aborin e eu.

Smirnov havia fugido, Kosarev encontrava-se vivendo em Narym, outros companheiros também haviam partido.

Nesses dias, em torno de Olga Dilevska reunia-se um círculo inteiro de valorosos companheiros (Olga Dilevska, p.ex., foi fuzilada por Koltchak).

Vindo a Kolpashevo, Jakob Mikhailovitch mantinha conosco longas conversações.

Naquele então, nutriu a idéia de criação de uma organização especial para articulação de fugas, mesmo porque, até esse momento, as fugas haviam adquirido um caráter não propriamente organizado e, por esse motivo, fracassaram, na maioria dos casos.

Com base em proposta sua, fui eleito organizador dessas fugas, tanto para aquelas a serem realizadas na rota de inverno, quanto para as outras, relacionadas com a rota de verão.

A nova organização contribuiu para a fuga de muitos companheiros.

Então, já emergira a idéia de planejamento de uma nova fuga de Jakob Mikhailovitch, porém, em virtude de não havermos ainda experimentado suficientemente a rota de inverno, decidimos postergar sua fuga até o verão vindouro.

 

Contudo, Jakob Mikhailovitch decidira-se por fugir e nós, com muitas dificuldades, detivemo-lo, até o início de junho de 1913.

Depois da fuga de diversos companheiros pela rota de verão, fortaleceu-se, novamente, a vigilância sobre os exilados e, em particular, sobre Jakob Mikhailovitch.

Parece-me que, em fins de junho, recebemos um carta do companheiro Leonid Serebriakov, o qual vivia em companhia de Jakob Mikhailovitch, em Parabel, informando-nos que esse último teria de embarcar no navio “Kolpashevets”, indo da cidade de Narym a cidade de Tomsk.

Sua fuga foi, então, detalhadamente conspirada e organizada por Leonid Serebriakov e, pelo que sei, também com a participação do companheiro Ivan Tchugurin.

Não existiam contatos com o interior do navio referido.

Jakob Mikhailovitch haveria de ser colocado em uma cabine de primeira classe e dela não sair, até a sua chegada a Tomsk.

Porém, quando o navio atracou nas margens de Kolpashevo, foi recepcioná-lo um grande destacamento de sentinelas que entabulou uma conversação qualquer com o capitão da embarcação.

Tornou-se-me imediatamente claro que alguma coisa não estava em ordem.

Três sentinelas postaram-se junto à entrada do navio.

Depois do terceiro sinal de partida, teve início uma busca no interior do “Kolpashevets”.

Sem embargo, eu e Olga Dilevska conseguimos, lançando mão de todos os meios justos e injustos, penetrar dentro do navio precisamente no momento em que haviam iniciado uma busca na cabine de primeira classe.

Nas primeiras duas cabines, a perseguição permaneceu sem produzir resultado algum, apesar do rigoroso procedimento de procura.

Precisamente na terceira cabine, encontraram Jakob Mikhailovitch,  deitado debaixo de um banco.

Era manifesto o fato de que fora o capitão do navio quem denunciara “Andrei”, dado que os sentinelas não se surpreenderam minimamente ao tê-lo finalmente localizado e aprisionado.

Quando saiu da cabine, Jakob Mikhailovitch avistou-nos, logo de imediato.

Dirigiu-se até nós, saudou-nos e, sorrindo amavelmente, exclamou, de modo plenamente audível :

 

“ - Mas, imaginem vocês ! Eu quase que fiquei para dormir, aqui em Kolpashevo.”

 

Depois disso, desembarcou, relaxadamente, acompanhado por nós, em face de não pouco espanto de todos os presentes.

 

Dirigimo-nos, então, à habitação de Dilevska, onde ingressamos, imediatamente, na análise de um novo plano de fuga.

Recordo-me de que propûs, então, um plano, a seguir sufragado por Ivan Aborin.

Referido plano consistia no seguinte :

Jakob Mikhailovitch deveria navegar com um “barquinho” até Novalinsk, situada a 28 ou 30 quilômetros da aldeia de Kolpashevo.

Lá em Novalinsk, embarcaria no navio “Tiumen”, no qual existiriam contatos confiáveis, a serem mantidos com a equipe de máquinas.

Segundo os nossos cálculos, o “Tiumen” ancoraria no início de agosto, em conformidade com o velho calendário juliano.

Seria o companheiro Kapiton, de cujo sobrenome não me recordo, excelente remador, quem dirigiria o tal “barquinho”.

Entrementes, a espionagem realizada sobre os exilados tornara-se cada vez mais forte.

A cada dia que passava, revelava-se cada vez mais complicado empreender uma fuga, cada vez mais perigosa, efetuar a “expedição” em tela, tanto mais porque o clima começava a piorar.

Porém, Jakob Mikhailovitch não esperou um só minuto : ardia-lhe impertubavelmente o desejo de por mãos à obra.

Detê-lo, havia-se tornado impossível.

E, com efeito, ”Andrei” tinha razão : o “Tiumen” era o último navio daquele ano.

Na hipótese de não o utilizarmos naquele momento, resultaria inevitável determo-nos novamente diante do período de mau tempo do outono, até o fim do inverno, permanecendo, assim, mais uma vez, por meses e meses a fio, sem correio e jornais, apartando-nos, renovadamente, do movimento revolucionário.

Concordamos, então, com Jakob Mikhailovitch, com sua frenética perseverança, e, em uma certa noite, Ivan Aborin e eu arrastamos um “barquinho” para o local combinado.

Lá, já esperávamos por ”Andrei” e pelo companheiro Kapiton.    

A noite revelava-se assustadora, flatulenta e tenebrosa.

Não se podia ver absolutamente nada.

Já resultava até mesmo desagradável permanecer junto às margens do rio, para nem falar em sair navegando em um “barquinho”.

Com isso, haveria de concordar, a meu ver, até mesmo o mais ousado esportista do mundo.

A despeito de tudo isso, Jakob Mikhailovitch não suspendeu, porém, absolutamente sua viagem.

Despedindo-se de nós, sentou-se no “barquinho”, juntamente com Kapiton, e empurramo-lo das margens do rio para o mar aberto.

Passados alguns momentos, desapareceram em meio à escuridão.

Depois de três dias, fundeou, em Kolpashevo, o “Tiumen”, i.e. aquele mesmo navio em que Jakob Mikhailovitch haveria de fugir, ao vir de Novalinsk.

Imediatamente, dirigi-me, então, à casa de máquinas e imaginem vocês qual não foi a minha angústia, ao me informarem que, naquele navio, não se encontrava nenhum Jakob Mikhailovitch.

Tornou-se claro o fato de que o “barquinho” havia sofrido uma avaria.

Vivemos alguns dias lancinantes, até que ficamos sabendo por Leonid Serebriakov, escrevendo-nos da aldeia de Parabel, que Sverdlov encontrava-se vivo.

Com efeito, havia naufrago a três quilômetros da aldeia de Parabel.

A questão toda havia sido que, tão logo o “barquinho” distanciou-se das margens do rio, resultara evidente para Sverdlov e Kapiton que navegar correnteza acima era mesmo impossível.

Decidiram, então, mudar o itinerário e navegar correnteza abaixo, acreditando que, pelo caminho, cruzariam com o “Tiumen”.

Logrando alcançá-lo, nele embarcariam e seguiriam, no curso ascendente da correnteza.

Assim, deslocaram-se até Parabel.

Nessa localidade, ocorreu-lhes, porém, uma desgraça : sob o ímpeto de ondas tempestuosas, seu “barquinho” virou.

Com isso, tiveram de nadar cerca de três quilômetros, na tentativa de aproximarem-se da margem, até que alguns pescadores os observaram e os arrastaram para junto da orla.

 

Logo após o fracasso dessa última fuga, Klavdia Timofeievna Novgorodtseva-Sverdlova, esposa do companheiro Sverdlov, bem como seu filhinho – o “Andreizinho”, tal como o chamávamos – vieram ao encontro de Jakob Mikhailovitch.       

A chegada de ambos foi muito oportuna, visto que, desde essa última tentativa de fuga malograda, a vigilância czarista sobre Sverdlov havia novamente sido fortalecida, em muitos aspectos.

A presença de sua família veio a proporcionar, então, mais tranqüilidade às autoridades policiais.

Entretanto, já nessa época, estávamos organizando uma fuga de inverno.

Assim, acertamos com os companheiros revolucionários de Parabel que, tão logo se estabelecesse o tempo invernal, trouxessem-nos Sverdlov para Kolpashevo, após o que nos incumbiria transportá-lo para a cidade de Tomsk.

Já no primeiro correio do inverno, informaram-nos, a partir de Parabel, que já se encontrava predeterminado o dia da partida e, até mesmo, alugados alguns cavalos.

Em consonância com a própria ordem das datas estipuladas, colocamos nossos charreteiros postais em prontidão, a fim de que preparassem as necessárias trocas de cavalos, ao longo de todo o percurso que ía de Kolpashevo a Tomsk.

Para a fuga em tela, utilizamos charreteiros postais oficiais, i.e. aqueles que se ocupavam do transporte de correspondências.

As autoridades policiais czaristas aperceberam-se dessa fuga de Sverdlov apenas no segundo dia após a sua ocorrência, quando então partiram, de imediato, no seu encalço.

Os sentinelas de escolta largaram em galope, como verdadeiros loucos, aspirando a que “Andrei” não conseguisse nem sequer atingir a aldeia de Kolpashevo.

Acossavam a sua pegada, irascivelmente.

 

E, eis que, na tarde daquele mesmo dia, sucedeu-nos algo curioso : uma dessas curiosidades de que recordamos depois com muitas gargalhadas, mas que, no momento de seu acontecimento, ficamos muito longe de ao menos pretender gracejar.

Encontrávamos juntos com Jakob Mikhailovitch na habitação dos Dilevsks e, com todo a serenidade do mundo, sorvíamos lentamente o nosso chá, conversando, com muita animação.

De repente, foi a nossa porta escancarada e, por ela, entrou correndo nosso companheiro encarredao da guarda, avisando-nos da chegada da polícia.

Desaparecer daquela habitação já se tornara inteiramente impossível, porquanto a noite estava muito límpida e encontravam-se, ao nosso redor, acumulações profundas de neve.

Ademais disso, a polícia já havia chegado à casa em que estávamos.

O que se haveria de fazer em tal caso ?

Em um piscar de olhos, levantamos, então, um colchão de palha, situado sobre uma cama de madeira, e Jakob Mikhailovitch esgueirou-se para debaixo dele.

A seguir, Olga Dilevska ajeitou o estrado, rapidamente, e deitou-se sobre a cama, cobrindo-se compactamente com cobertores.

Todos os demais presentes – i.e. a mãe de Olga, Ivan Aborin, Kosarev e eu (parece-me que lá se encontrava também Zakhar Volfson) permanecemos sentados à mesa, continuando a beber o nosso chá.            

Em poucos minutos, entraram os sentinelas.

Revoltados, saltamos de nossas cadeiras e desfraldamos uma barulhada :

 

“ -  Mas, que falta de respeito !

Até durante a noite, vocês não nos dão sossego !

Nessa casa, temos uma pessoa doente e vocês não ligam nem mesmo para isso ! ”

 

Os policiais invasores limitaram-se, então, tão somente a uma busca superficial, executada no interior da habitação e na adega, depois do que logo se retiraram para longe.

Após essa ocorrência, decidimos manter Jakob Mikhailovitch conosco ainda por mais dois dias, a fim de dissiparmos os vestígios : os sentinelas de escolta seguiram a sua pista, ainda durante todo o tempo em que permaneceu, calmamente, na aldeia de Kolpashevo.

A tarefa de deslocamento de Jakob Mikhailovitch da aldeia de Kolpashevo para a cidade de Tomsk foi assumida por nosso charreteiro postal de Novalinsk, de nome Alesch.

Foi desse modo que enganamos os sentinelas de escolta e Jakob Mikhailovitch atingiu, em boas condições de saúde, a cidade de Tomsk.

A fuga demonstrara-se inteiramente exitosa.

A partir de Tomsk, “Andrei” alcançou, então, a cidade de Petersburgo, sem qualquer tipo de incidente adicional.

 

Logo depois da fuga em realce, transferiram-me, por motivo de doença, para Tomsk.

Para lá, dirigiram-se também Kladvia Timofeievna Novgorodtseva-Sverdlova, acompanhada sempre do “Andreizinho”.

A seguir, decidiu partir para Petersburgo.

Fui acompanhá-la, então, até à estação ferroviária.

Ali, fervilhavam espiões, agitando-se feito uma casa de maribondos.

No vagão, em que Kladvia Timofeievna embarcou, irromperam diversos espiões.

 

Transcorridas algumas semanas após a partida da esposa de Sverdlov, recebemos a notícia de que ele havia sido novamente capturado.

Dessa vez, tudo ocorrera na casa do deputado bolchevique Gregory I. Petrovsky.

Malinovsky, um agente secreto de espionagem e também deputado bolchevique na Duma do Estado, coordenou a prisão de Jakob Mikhailovitch, tal como viemos a elucidar posteriormente.

Já me encontrando em fuga, vim a saber que Jakob Mikhailovitch havia sido transferido para a Região de Turukhansk, depois de diversos meses de reclusão carcerária.

À época de minha chegada ao exterior da Rússia, recebi algumas cartas de Olga Dilevska, nas quais descrevia a penosa situação em que se encontrava Jakob Mikhailovitch.

Dele mesmo, recebi apenas duas cartas.

Porém, ainda mais uma vez, vim a encontrá-lo depois de meu regresso à Rússia, na virada de junho para julho de 1917.

Eis aqui, pois, umas poucas páginas, dedicadas à vida de nosso querido companheiro Jakob Mikhailovitch Sverdlov.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 



[1] Cf. KRAEVSKY, BORIS IZRAILEVITCH. Yakov Mikhailovitch v Ssylkie (Jakob Mikhailovitch no Exílio), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 57 e s.

[2] Cumpre anotar que o antigo vocábulo “katalajk”, uitilizado no léxico da Rússia Oriental, deve ser traduzido, no presente caso, como “quarto de prisioneiro”. Nesse sentido, vide, mais precisamente, PAVLOVSKY, I. J. Russko-Nemetskii Slovar (Dicionário Russo-Alemão), 3a. edição, inteiramente reelaborada, corrigida e completada, Riga-Leipzig : N. Kimmelia – Carl Friedrich Fleischer, 1900-1902, p.536.

[3] Cumpre observar que com a expressão ”ostiakovs” eram designados, então, os membros componententes de um determinado povo ugro-finlandês que habitava o noroeste da Sibéria. Posteriormente, no quadro do surgimento da União Soviética, vieram eles a ser denominados de “khanty”. Vide BLATTNER, KARL / ORSCHEL, HANS. Izdanie Langenscheidta Karmanyi Slovar. Russkovo i Nemetskovo Iazykov (Dicionário de Bolso Langenscheidt das Línguas Russa e Alemã), 4a. Edição, Berlim – Munique – Viena – Zurique : 1960, pp. 288 e 521. No momento histórico em questão, eram designados ”samoiedovs” os membros componententes também de um certo povo situado no noroeste da Sibéria. Posteriormente, no quadro da União Soviética, os “samoiedovs” passaram a ser denominados “nientsa”, tendo sua localização na região siberiana de Taimy. Vide IDEM. ibidem, p. 257 e 419.