TEXTOS E FRAGMENTOS LITERÁRIOS SELETOS SOBRE MORAL E CONSCIÊNCIA,

DIREÇÃO E ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIAS SOCIALISTAS-EMANCIPADORAS

 

V. A. ANTONOV-OVSEIENKO

 

COMANDANTE MILITAR BOLCHEVIQUE

DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA DE OUTUBRO

 

ROCHEL VON GENNEVILLIERS 

 

Concepção, Organização, Compilação e Tradução

Asturig Emil von München

Fevereiro 2005

emilvonmuenchen@web.de

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http://www.scientific-socialism.de/MCComandantesMilitaresCapa.htm

 

 

“Não é difícil de acreditar que suas roupas e seu chapéu encontravam-se em desordem:

basta recordar a jornada noturna através das poças de lama da Fortaleza de Pedro e Paulo.

A alegria da vitória podia, também, ser lida em seus olhos, porém, neles, dificilmente,

existia qualquer maldade contra os conquistados :

« - Comunico-lhes, membros do Governo Provisório, que vocês estão presos », exclamou Antonov-Ovseienko,

em nome do Comitê Militar Revolucionário (CMR).

O relógio marcava, então, 2 horas e 10 minutos da madrugada de 26 de outubro de 1917.”

Léon D. Trotsky

 

Vladimir Alexandrovitch Antonov-Ovseienko nasceu em 1884, na cidade de Tchernigov, no seio de uma família de um comandante da reserva de regimentos de infantaria da Rússia Czarista.

Foi um dos mais ativos dirigentes da Grande Revolução Proletária Internacionalista de Outubro de 1917 e a da subseqüente Guerra Civil Russa, travada também contra a Intervenção Imperialista, entre 1918 e 1921.

Seu pseudônimo partidário foi “Schtyk” e o literário, “A. Galsky”.

Antonov-Ovseienko ingressou no movimento revolucionário russo, em 1901, quando, então, era cadete da Escola Militar de Voronez e da Escola de Engenharia Militar de Nikolaievsk.

Nesse mesmo ano, foi expulso dessas instituições militares, por recusar-se a prestar juramento de lealdade ao Czar Nikolau II.

Tornou-se membro do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), em 1902. Em 1904 - agrupado, então, entre os mencheviques -, concluiu a Escola de Cadetes Militares de Petersburgo.

Desertou das Forças Armadas Czaristas, durante o ascenso revolucionário de 1905, passando a colaborar para a edição do jornal militar-clandestino “Kazarma (Caserna)”.

A Revolução Russa de 1905-1907 envolveu Antonov-Ovseienko em atividades desenvolvidas na cidade de Novaia Alexandra, na Polônia, onde tomou parte ativa da organização da Insurreição Armada dessa localidade.

Depois desse episódio, foi preso.

Ao ser libertado, a seguir, em virtude da concessão de uma ampla anistia, retomou a realização de seu trabalho revolucionário.

Enquanto representante da organização militar do POSDR, ingressou, em 1906, na composição do Comitê de Petersburgo.

Depois de participar da Conferência da Organização Militar do POSDR, ocorrida nesse mesmo ano, na cidade finlandesa de Tammersfors, ocupou-se com a organização da Insurreição Armada de Sebastopol.

A seguir, foi condenado com sentença de morte, convertida, então, em 20 anos de trabalhos forçados.

Porém, em junho de 1907, um grupo de mencheviques logrou libertá-lo, ao produzir um buraco na parede da prisão em que se encontrava.

Tendo conseguido fugir, passou a militar na Finlândia e, novamente, em Petersburgo, vindo a entrar em contato com a Associação  Moscovita de Editores de Livros.

Depois de mais dois encarceramentos, emigrou para a França, em 1910.

Nos anos da I Guerra Mundial Imperialista que precederam à Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, Antonov-Ovseienko atuou, juntamente, com L. D. Trotsky, na redação do jornal “Noshe Slovo (Nossa Palavra)”.

Tornou-se também Secretário do Bureau de Trabalho Partisão, sendo responsável pela edição do jornal “Golos (Voz)”.

Em maio de 1917, regressou do exílio e, de imediato, ingressou nas fileiras do POSDR (Bolchevique), passando a exercer funções de direção da organização militar-partidária e tornando-se membro de seu Comitê Central, vindo a atuar preponderantemente na cidade finlandesa de Helsingfors (Helsinki).

Ao lado de P. I. Dybenko e I. T. Smilga, rapidamente, notabilizou-se como organizador experiente, jornalista e orador de massas.

Nos Dias de Julho de 1917, Antonov-Ovseienko foi preso pelo Governo Provisório Frente Populista e encarcerado no “Presídio das Cruzes”.

Nos dias que precederam à Revolução Proletária de Outubro de 1917, foi eleito membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado, presidido por L. D. Trotsky, e, juntamente, com N. I. Podvoisky e G. I. Tchudnovsky, assumiu a direção militar imediata das operações de arte proletária da Insurreição Socialista, deflagrada nessa cidade, visando à tomada do Palácio de Inverno e à prisão do Governo Provisório Frente-Populista de Kerenky e do General Krasnov.

Foi um dos principais estrategistas e comandantes militares da captura do Palácio de Inverno, tendo dirigido, pessoalmente, a Guarda Vermelha dos Trabalhadores e a Divisão dos Marinheiros de Kronstadt na execução de tal tarefa, em 25 de Outubro de 1917.

Acerca das características de Antonov-Ovseienko, ardente dirigente militar da Insurreição de Outubro, situado sob sua direta direção política, Trotsky destacou, precisamente o seguinte :

 

“Por seu caráter, Antonov-Ovseienko era um otimista impulsivo, extraordinariamente mais apto para a improvisação do que para cálculos.

Enquanto antigo oficial de patente inferior, possuía um certo volume de informação militar.

Durante a Grande Guerra, enquanto emigrante, formulou, no jornal parisiense « Nashe Slovo », análises militares e revelou, freqüentemente, possuir instinto estratégico.

Seu diletantismo impressionante nesse domínio não podia criar contrapesos às incomensuráveis divagações de Podvoisky.”[1]

 

Assim, o partido dirigente de Lenin, sob o comando imediato de Trotsky, foi capaz de desempenhar, em 25 de outubro de 1917,  com talento e habilidade, a Arte da Insurreção Socialista, tendo em conta as experiências práticas da Comuna de Paris de 1871 e da Insurreição de Moscou de Dezembro de 1905, observando, com triplicada audácia, as regras de atuação revolucionária de Georges-Jacques Danton e recomendadas com perspicácia proletária por Marx e Engels[2].

 

O impacto da vitória revolucionária, orquestrada sobretudo por Lenin, Sverdlov e Trotsky, pôde, então, ser lida nos olhos de Antonov-Ovseienko, às 2 horas e 10 minutos da madrugada, de 26 de outubro de 1917, quando, na Tomada do Palácio de Inverno, exclamou, em nome do Comitê Militar Revolucionário :

 

“- Comunico-lhes, membros do Governo Provisório, que vocês estão todos presos.”[3]

 

No II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, Antonov-Ovseienko foi eleito – juntamente com P. I. Dybenko e N. V. Krylenko - membro do Comissariado Colegiado do Povo para Assuntos de Guerra e de Marinha.

Nesse contexto, Antonov-Ovseienko assumiu o posto de Comissário para a Guerra e o Fronte Interno, ao passo que Dybenko, o de Comissário para a Marinha, e Krylenko, o de Comissário para o Fronte Externo.  

No período da Guerra Civil, dirigiu o Fronte da Ucrânia, tendo mantido estreitas relações com L. D. Trotsky, durante esse período.

Tornou-se, então, Comissário do Povo da Ucrânia para a Guerra e assumiu uma série de outras obrigações de comando militar.

Em 1920, foi nomeado membro do colegiado do Comissariado do Povo para o Trabalho e, posteriormente, Vice-Presidente do Comissariado Soviético da Juventude, bem como membro do colegiado do Comissariado do Povo para Assuntos Estrangeiros.

Em 1922, voltou-se, porém, contra Lenin, acusando-o de estabelecer compromissos com os kulaks e o capitalismo estrangeiro.

Apesar disso, foi nomeado pelo Governo de Lenin, nesse mesmo ano, Chefe da Administração Política das Forças Armadas Vermelhas, função que exerceu até o início de 1924.

Entre 1922 e 1924, exerceu também a função de chefe da Direção Política do Conselho Revolucionário da República Russa Soviética.

Integrou o Conselho Revolucionário de Guerra da Rússia Soviética, juntamente com L. D. Trotsky, M. V. Frunze, K. A. Mekhonoschin, V. I. Nevsky, A. I. Okulov, F. F. Raskolnikov e I. T. Smilga.

Já em fins de 1923, Antonov-Ovseienko aderiu à Oposição de Esquerda, encabeçada por L. D. Trotsky.

Em virtude disso, foi prontamente afastado de seu comando militar pela troika burocrática e contra-revolucionária de Stalin, Kamenev e Zinoviev e removido, em 1925, do cenário da luta política, travada no interior da URSS.

Nesse ano, foi transferido por Stalin para a função de Representante Político da URSS, na Tchecoslováquia.

Antonov-Ovseienko permaneceu nas fileiras da Oposição de Esquerda até 1928, quando, então, capitulou ao stalinismo burocrático contra-revolucionário, sem que Stalin jamais nele viesse a devidamente confiar para a cega execução de seus planos ditatoriais-sanguinários.

Em 1928, foi, então, no cargo de Representante Político da URSS, enviado para Lituânia e, a partir de janeiro de 1930, para a Polônia.

A seguir, tornou-se Cônsul Geral da URSS, em Barcelona, na Espanha.

Nesse último contexto, cooperou com a articulação da intervenção de dirigentes stalinistas contra-revolucionários na sustentação do Governo de Frente Popular e Colaboracionista da Espanha.

Aparentemente persuadido pela suposta veracidade das provas falsificadas por Stalin nos autos do “Processo contra os 17 Assassinos Trotskystas-Zinovievistas de Sergei Minovitch Kirov” – em verdade, assassinado pelo próprio Stalin e seus agendes da NKVD -, processo esse encenado, em 1936, na “Sala de Outubro da Casa dos Sindicatos”, sobretudo contra Kamenev e Zinoviev, Antonov-Ovseienko posicionou-se, no âmbito do Tribunal Supremo do Colégio Militar e em artigo publicado então no jornal “Izvestia (Notícias)” em que repudiava suas “ilusões trotskysta”, em favor da punição de todos os acusados pela burocracia contra-revolucionária[4].

Isso não impediu que Stalin se convencesse, a seguir, definitivamente, de que Antonov-Ovseienko conspirava contra suas ordens e, em fins de agosto de 1937, exigiu seu retorno à URSS, quando, sob o pretexto de destituí-lo de suas funções militares na Espanha, nomeou, dissimuladamente, Comissário do Povo para a Justiça da URSS.

Poucas semanas depois, na noite de 11 de outubro de 1937, foi preso em sua casa em Moscou, sob a acusação de prática de « crime contra o Estado Soviético » e encarcerado nos Presídios de Lubianka e, então, Butyrka.

Como se negasse inflexivelmente a assinar a confissão de culpa, falsificada por Stalin e Vyschinsky, foi por estes condenado, em 8 de fevereiro de 1938, a 10 anos de prisão. 

Em fins desse mesmo ano, em meio ao paranóico morticínio organizado por Stalin contra os principais dirigentes da Revolução Proletária de Outubro de 1917,  Antonov-Ovseienko  foi torturado até que se produzisse a sua morte.

Algumas fontes soviéticas afirmam que, em verdade, teria sucumbido em 1939.

Acerca do extermínio stalinista dos principais dirigentes militares da Revolução de Outubro e Criadores das Forças Armadas Vermelhas – entres eles, em primeira linha, Antonov-Ovseienko, escreveu Trotsky, de maneira plenamente elucidativa :

 

“Em 1923, a editora do Comitê Executivo Central dos Sovietes publicou um volume de 400 páginas intitulado “A Cultura Soviética”.

Na seção dedicada às Forças Armadas, foram inseridos inúmeros retratos dos «Criadores das Forças Armadas Vermelhas».

Stalin não se encontra entre eles.

No capítulo intitulado “As Forças Armadas da Revolução durante os Primeiros Sete Anos de Outubro”, o nome de Stalin não é sequer mencionado.

Aí, são referidas e ilustradas as seguintes personalidades : Trotsky,  Budionny, Blücher, Voroshilov e, além disso, mencionados Antonov-Ovseienko, Bubnov, Dybenko, Yegorov, Tukhatchevsky, Uborevitch e outros, sendo que quase todos eles foram, a seguir, declarados inimigos do povo e assassinados.

Entre os mencionados, apenas dois – Frunze e S. Kamenev – tiveram uma morte natural.

Também Raskolnikov foi mencionado, enquanto comandante do Báltico e das Frotas do Cáspio.”[5]

 

Após a sua morte, o “trotskysta, inimigo do bolchevismo” Antonov-Ovseienko foi amplamente caluniado pelos lacaios e historiadores do burocratismo contra-revolucionário de Stalin, vindo a ser qualificado mais genericamente de « inimigo do povo ».

De maneira inteiramente hipócrita e praticamente inexpressiva, foi reabilitado por Khrushtchov e Mikoian, no quadro do XX. Congresso do PC da URSS, ocorrido em 1956.

A extensa obra literário-militar de Antonov-Ovseienko, suas centenas de publicações jornalísticas, ensaios, análises e perspectivas permanecem, ainda hoje, pouco conhecidos do grande público, interessado na história da Revolução Proletária de Outubro de 1917.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Oktiabrskoe Vosstanie (A Insurreição de Outubro), in: Léon Trotsky. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revolução Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda Parte, Moscou : Terra – Respublika, 1997, p. 267.

[2] Nesse sentido, vide ENGELS, FRIEDRICHrieMIMIR ALEXANDROVITCH importantes atribuiçoessresso do Partido.. Revolution und Konterrevolution in Deutschland (Revolução e Contra-Revolução na Alemanha) (Agosto de 1851 - Setembro de 1852), Cap. 17: Der Aufstand (A Insurreição) (Agosto de 1852), in: ibidem, Vol. 8, pp. 95 e s.; LENIN, VLADIMIR ILTICH. Markiszm i Vosstanie(Marxismo e Insurreição)(13-14.09.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 242 e s.; IDEM. Soviety Postoronnevo (Conselhos de um Ausente)(08.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 382 e s. Para um estudo mais amplo acerca do tema, vide CIENFUEGOS, ANÍBAL & ROCHEL VON GENNEVILLIERS, CASTELNAU. A Arte da Insurreição Socialista. Aspectos Introdutórios, Moscou – Buenos Aires - São Paulo - Paris : Escola de Agitadores e Instrutores “UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. Sverdlov” para a Organização e Direção Marxista-Revolucionária do Proletariado e de seus Aliados Oprimidos , 2001, pp. 7 e  

[3] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Vziatie Zimnevo Dvortsa (A Tomada do Palácio de Inverno), in : Léon Trotsky. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao Russa)(1930-1933), Vol. 2, Parte 2, Moscou : Terra – Respublika, 1997, pp. 261 e s.

[4] Acerca do tema, vide ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 166 e 167. 

[5] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (1941), Vol. II, Cap.: Grajdanskaia Voina(A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 58.