FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO

PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,

TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MUNDIAL

SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES

MARX E ENGELS EM SUA LUTA RESOLUTA CONTRA O SOCIALISMO DA “IGUALDADE SOCIAL” E DA “LIBERDADE HUMANA”:

CONTRA A DEFESA DE UM PROJETO DE IGUALITARISMO SOCIAL

 

Designo de “Mitologia Moderna” as Deusas da “Justiça, Liberdade, Igualdade etc.”

Que Voltaram a Andar à Solta Por Aí

 

KARL MARX[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução  Emil Asturig von München

Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von Köln

Outubro 2007 emilvonmuenchen@web.de

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Londres, 1° de agosto de 1877

 

Querido Fred,

 

Em anexo, segue carta de Höchberg, dirigida a Hirsch, o qual, no sábado, retornou à Paris.[2]

 

Mande-me de volta, por favor, essa carta, depois de tê-la lido, pois eu mesmo tenho de entregá-la a Hirsch.[3]

 

Creio que a carta de Höchberg caracteriza o homem melhor do que tudo aquilo que Wilhelm Liebknecht (este brilhou, novamente, por sua recomendação do confúcio Acollas e do faiseur (EvM.: fanfarrão) Lacroix) disse ou pode dizer sobre ele.[4]  (...)

 

Há alguns dias, turned up (EvM.: apareceu) – para, logo a seguir, novamente, desaparecer, rumo à Alemanha – o alegre e pequeno cifótico, Wedde.[5]

  

Possuía um pedido urgente de August Geib para que você e eu fossemos arregimentados para o “Zukunft (O Futuro)”.[6]  

 

Para sua grande tristeza, não lhe fiz absolutamente nenhum segredo sobre nossas pretensões abstencionistas e suas razões, ao mesmo tempo em que lhe expliquei que, quando o tempo nos permita ou as circunstâncias o exijam, interviremos, novamente, de modo propagandista. Nós, enquanto Internacional,  não estamos, de nenhum modo, ligados ou obrigados a aderir à Alemanha, à amada pátria.

Em Hamburg, Wedde havia avistado o Dr. Höchberg e ditto (EvM.: o mesmo) avistou Wedde.

O primeiro estaria tingido como algo de superficialidade e arrogância berlinense, porém o segundo gostou do primeiro, apesar deste ainda sofrer muito de “mitologia moderna”.     

Quando aquele sujeitinho do Wedde esteve em Londres, pela primeira vez, usei a expressão "mitologia moderna" como designação das Deusas da "Justiça, Liberdade, Igualdade etc.", as quais voltaram a andar à solta por aí.

Isso lhe provocou uma profunda impressão, pois o próprio Wedde tem feito muito a serviço dessas entidades superiores.[7]

 

Aos olhos de Wedde, Höchberg parecia um pouco verdühringt (EvM.: dühringisado, absorvido pelas posições de Dühring) e Wedde possui um nariz mais afiado que o de Wilhelm Liebknecht.  (...)

 

Sadações,

Do teu

Negro

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS


 

 



[1]Cf. MARX, KARL. Brief an Friedrich Engels in Ramsgate (Carta a Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de Agosto de 1877), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 65 e s.                     

[2] Anoto, de passagem, que o Dr. Karl Höchberg (1853 – 1885) foi um escritor e editor alemão de orientação social-reformista, atuando sob os pseudônimos de Dr. Ludwig Richter e R.F. Seifert. Em 1876, tornou-se membro do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD).  Em 1877 e 1878, foi responsável pela edição da revista “Zukunft (O Futuro)”e, a seguir, entre 1879 e 1881, editor do “Jahrbuch für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik (Anuário de Ciência Social e Política Social)”.  

[3] Destaco que Carl Hirsch (1841 – 1900) foi jornalista.  Militou, de início, na Associação Geral dos Trabalhadores da Alemanha (ADAV), encabeçada por Ferdinand Lassalle, com ela rompendo em 1868. A seguir, foi co-fundador da Associação dos Trabalhadores Democráticos de Berlim (DAV) e do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores da Alemanha (SDAP), em 1869. Além disso, foi redator, entre 1870 e 1871, do primeiro jornal diário de orientação social-democrática da Alemanha, o “Crimmitschauer Bürger- und Bauernfreund (O Amigo do Cidadão e do Camponês da Cidade de Crimmtschau).  Entre 1878 e 1879, foi o correspondente parisiense da imprensa da Social-Democracia Alemã e editor de “Laterne (A Lanterna)”, em Bruxelas.  

[4] Cumpre anotar que Émile Acollas (1820 – 1891) foi um professor francês de Direito, nascido em La Châtre, o qual celebrizou-se por ter sido um dos fundadores da Liga pela Paz e pela Liberdade, criada em 1867, com o apoio expresso de Victor Hugo, John Stuart Mill, Giuseppe Garibaldi, Louis Blanc, Elisée Reclus, Mikhail Bakunin e tantos outros mais 10.000 aderentes. Acollas postulava que as assembléias da Liga pela Paz e pela Liberdade seriam, em verdade, “conferências revolucionárias”. Defendia como programa político um federalismo decentralizado, mandatos revogáveis para representantes eleitos, direito de livre associação, distribuição equânime de bens e rendas, direito internacional enquanto moralidade da consciência individual e das nações. Marx posiciou-se, porém, contra qualquer adesão a essa liga, conclamando, oficialmente, a Associação Internacional dos Trabalhadores a com ela não involver-se. Entretanto, a eclosão da Guerra Franco-Prussiana, em 1870, levou a que a liga se desaparecesse. Com a instalação da Comuna de Paris,  Acollas foi nomeado decano da Faculdade de Direito da Universidade de Paris. Sem embargo, jamais exerceu tal função, a fim de esquivar-se a possíveis inculpações decorrentes da revolução. Retornou, então, a Paris, apenas em 1871, quando organizou a Escola de Direito de Paris, cujos mais ilustres alunos foram o republicano burguês-radical Georges Clemenceau, Presidente do Conselho da República Francesa entre 1906-1909 e 1917-1920, denominado o “Pai da Vitória” na I Guerra Mundial, e Nakae Chomin, o “Rousseau do Oriente”, um dos mais renomandos militantes do Movimento dos Direitos Populares Japoneses.

[5] Observe-se que Johannes Wedde (1843 – 1890) foi um jornalista e escritor de orientação democrática. Durante a vigência da Lei contra os Socialistas (1878 – 1890), editou o “Hamburger Bürgerzeitung (Jornal do Cidadão de Hamburgo)” que, em 1887, acabou sendo proibido. 

[6][6] Assinale-se que o Congresso Geral Socialista do Partido Socialista dos Trabalhadores (SAPD) (Alemanha), ocorrido em Gotha, de 27 a 29 de maio de 1877, resolveu, na sessão de 29 de maio, sob proposta de August Geib, editar “uma revista científica, em formato adequado, a ser publicada bimensalmente, em Berlim, a partir de 1° de outubro desse ano. Até essa data, haverá de apensar-se ao jornal “Vorwärts (Avante)”, a cada 14 dias, um suplemento, dotado, essencialmente, de conteúdo científico”. Desde 1° de outubro de 1877, surgiu, em Berlim, “Zukunft (O Futuro)” enquanto órgão teórico oficial do SAPD. Essa revista foi financiada pelo social-filantropo Dr. Karl Höchberg e por ele dirigida sob o pseudônimo R.F. Seifert, sob a orientação de imprimir à Social-Democracia Alemã um curso abertamente reformista. Em 20 de julho de 1877, a redação de “Zukunft (O Futuro)” dirigiu cartas a Marx e Engels, referindo-se expressamente à Resolução do Congresso de Gotha de maio de 1877 sobre a edição de uma revista científica, para propor a ambos contribuirem na produção da revista em causa. Em 28 de julho de 1887, Wilhelm Liebknecht escreveu, então, a Engels, assinalando, expressamente, o seguinte: “Nossa revista (“Zukunft <O Futuro> - o título não me agrada particularmente) terá seu início, em 1° de outubro. A redação será comandada por Höchberg (que nos dará, anualmente, 10.000 marcos) e pelo Dr. Wiede – ambos jovens diligentes, em particular o primeiro deles, e ambos opositores dos embustes de Dühring. Sobre ela, organizou-se um controle tão rigoroso que não temos de temer o surgimento de nenhum ovinho de pintinho. Você está sendo requisitado para colaborar (evidentemente também Marx) e será bom que o faça, ainda que sua atividade principal continue sendo dedicada ao “Vorwärts (Avante)””. Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels), passim : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels)(28 de Julho de 1887), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, p. 557.  Em sua carta, datada de 23 de outubro de 1877, Wilhem Bracke forneceu, então, a Marx uma apreciação curta e contundente do caráter político desse projeto editorial.             

[7] Anotação de Emil Asturig von München : A serviço das entidades superiores da mitologia moderna, i.e. das Deusas da „Justiça, Liberdade, Igualdade etc.“, muito têm feito praticamente todas as organizações de David North, ainda que se reivindicando trotskystas. Nesse sentido, vide SOCIALIST EQUALITY PARTY – INTERNATIONAL KOMMITTEE OF THE FOURTH INTERNATIONAL (Partido da Igualdade Social – Comitê Internacional da Quarta Internacional), nos EUA : http://www.socialequality.com/conference/, na Grã-Bretanha :   http://www.socialequality.org.uk/, da Austrália : http://www.sep.org.au/. Na Alemanha, vide PARTEI FÜR SOZIALE GLEICHHEIT (Partido da Igualdade Social) http://www.gleichheit.de/wahlsite/index.php Além disso, propagandeiam incessamente a mitologia moderna da “Igualdade Social”, concebida enquanto “condição da liberdade humana”, ARCARY, VALÉRIO. O Encontro da Revolução com a História, especialmente Capítulo : O Socialismo Que Queremos, São Paulo : Xamã Editora, 2006, in : Site do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU – Teoria) http://www.pstu.org.br/teoria_materia.asp?id=5806&ida=11; LOSURDO, DOMENICO. Antonio Gramsci dal Liberalismo al Comunismo Critico, Roma : Gamberetti, 1997, pp. 7 e s.; IDEM. Controstoria del Liberalismo, Roma : GLF Laterza, 2005, pp. 5 e s.; IDEM. Marx e il Bilancio Storico del Novecento, Gaeta : Bibliotheca, 1993, pp. 13 e s.; IDEM. Le 20e. Siècle entre Emancipation et Désémencipation (O Século XX entre Emancipação e Desemancipação), in : La Démocratie Difficile. Actes du Colloque Franco-Italien-Urbino, Mai-Octobre 1991, Paris VI : Diffusion Les Belles Lettres, 1993, pp. 157 e s.; MANDEL, ERNST. Offener Marxismus (Marxismo Aberto), Frankfurt a.M. – New York, Campus Verl., 1980, pp. 7 e s.; IDEM. Revolutionärer Marxismus heute (Marxismo Revolucionário Hoje), Frankfurt a.M : ISP, 1982, pp. 5 e s.; IDEM. Das Gorbatschow-Experiment (O Experimento de Gorbatchev), Frankfurt a.M. : Athenäum, 1989, pp. 3 e s.; IDEM. The Relevance of Marxist Theory for Understanding the Present World Crisis, in : Marxism in the Postmodern Age. Confronting the New World Order, Editors Antonio Callari, Stephen Cullenberg, Carole Biewener, New York-London: The Guilford Press, 1995, pp. 445 e 446.; LÖWY, MICHAEL. De Marx ao Ecosocialismo, in : Site da Revista Marxismo Revolucionário Atual, http://www.mra.org.br, 17 de Março de 2005. Para esses autores que se referem de modo inteiramente arbitrário à concepção de Marx, o marxismo tem de naturalmente pensar e dizer tudo aquilo exatamente que dele desejam extrair, segundo sua conveniência.