FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO

PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,

TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MUNDIAL

SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES

 

CARTA DE KARL MARX

a Ludwig Kugelmann

12 de Abril de 1871

 

KARL MARX[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução  Emil Asturig von München

Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von Köln

Outubro 2007 emilvonmuenchen@web.de

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Londres, 12 de abril de 1871

 

Caro Kugelmann,

 

Seu “parecer médico” foi tão espetacular que acabei indo consultar o meu Dr. Maddison e entreguei-me, então, provisoriamente, ao tratamento de saúde recomendado por este.[2]

 

Disse-me, porém, que meus pulmões encontram-se em magnífica ordem e minha tosse está relacionada com uma bronquite etc. Ditto (EvM.: a mesma) provocará efeitos no fígado. (...)

 

Se você reeexaminar o último capítulo do meu “18 Brumário”, vai constatar que declaro como próximo intento da Revolução na França – não mais como antes –, o ato de transferir a maquinaria burocrático-militar de uma mão para outra, mas sim despedaçá-la (EvM.: no original alemão ”zerbrechen”, i.e. despedaçar, quebrar, fraturar, destruir etc.).[3]

 

E essa é a précondição de toda e qualquer verdadeira revolução popular no continente.

É também a tentativa que nossos heróicos companheiros da Comuna de Paris estão empreendendo.

Que elasticidade, que iniciativa histórica, que capacidade de auto-sacrifício desses parisienses!

Depois de 6 (seis) meses de fome e ruína, provocados por traição interna, muito mais do que pelo inimigo externo, levantam-se, por debaixo das baionetas prussianas, como se jamais houvesse existido uma guerra, travada entre a França e a Alemanha, e o inimigo não se encontrasse ainda diante dos portões de Paris.    

A história não possui nenhum exemplo parecido de semelhante grandeza!

 

Se forem derrotados, nada será culpado senão o fato de possuirem “bondade”. 

Tinham de ter marchado logo para Versalhes, depois de que Joseph Vinoy, em primeiro lugar, e, então, a parte reacionária da própria Guarda Nacional de Paris abandonaram o terreno.

O momento exato foi perdido por razões de escrúpulos.

Não se quis dar início à Guerra Civil, tal como se Adolphe Thiers, o mischievous avorton (EvM.: o anãozinho zangado), não a tivesse já iniciado, com sua tentativa de desarmamento de Paris.

      

Segundo erro : o Comitê Central abdicou muito cedo do seu poder, a fim de dar lugar à Comuna.[4]

 

Mais uma vez, devido à “honrosa” escrupulosidade!

 

Seja lá como for, a presente Insurreição de Paris – ainda que seja destroçada pelos lobos, porcos e cães vulgares da velha sociedade -, é o evento mais glorioso do nosso Partido, desde a Insurreição Parisiense de Junho.

Comparem-se esses parisienses que tomam o céu de assalto com os escravos celestiais do Sacro-Império Romano-Germânico-Prussiano, dotados de suas mascaradas póstumas, cheirando à caserna, igreja, fidalguice provinziana e, sobretudo, filistinismo.  (...)

 

Obrigado por seus envios de jornais (peço-lhe que me envie mais, pois pretendo escrever algo sobre a Alemanha, o Parlamento do Império etc.) 

Saudações cordiais à Senhora Condessa e às corujinhas (EvM.: Gertrud e Franziska Kugelmann).

 

Do teu

K.M.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS



[1] Cf. MARX, KARL. Brief an Ludwig Kugelmann in Hannover (Carta a L. Kugelmann em Hannover)(12 de Abril de 1871), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 33, Berlim : Dietz, 1966, pp. 205 e s. Assinalo, de passagem, que a presente missiva de Marx foi publicada, pela primeira vez, na revista “Neue Zeit (Novo Tempo)”, Ano XX, Vol. 1, 1901-1902, p. 709.                      

[2] Observo que Ludwig (Louis) Kugelmann (1828 – 1902) foi um médico ginecologista e amigo pessoal de Marx e Engels. Foi simpatizante ou, até mesmo, membro da Liga dos Comunistas (1847 – 1852). Participou ativamente da Revolução de 1848 e 1849 na Alemanha. Foi membro da Associação Internacional dos Trabalhadores ( Primeira Internacional / 1864 – 1876), intervindo dinamicamente em Hannover. Contribui enormemente para a divulgação de “O Capital” de Karl Marx, na Alemanha. Foi membro do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores da Alemanha (SDAP), a partir de 1869 e, a partir de 1875, do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD). Em 1890, aderiu ao Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD). Em 5 de abril de 1871, Kugelmann escrevera a Marx, censurando-lhe por causa de seu precário estado de saúde e disse-lhe : “Você sabe quão imprescindível é o seu trabalho científico para o mundo em geral e, em particular, é a sua atividade para a Internacional. Portanto, poupe-se para isso – e um pouquinho também para nós.” Cf. KUGELMANN, LUDWIG. Brief an Karl Marx (Carta a K. Marx)(5 de Abril de 1871), passim : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 33, Berlim : Dietz, 1966, p. 745. 

[3] Vide MARX, KARL. Der Achzehnte Brumaire des Louis Bonaparte (O 18 Brumário de Luís Bonaparte)(Dezembro 1851 - Março 1852), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 8, Berlim : Dietz, pp. 196 e s.

[4] É mister destacar que, após a vitória da Insurreição de Paris, em 18 de março de 1871, o Comitê Central da Guarda Nacional Parisiense tomou o poder em suas mãos. Porém, já em 28 de março de 1871, transferiu seu poder supremo ao Conselho da Comuna, formado com base em eleição, realizada em 26 de março de 1871.