FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO

PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,

TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MUNDIAL

SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES

 

CARTA DE FRIEDRICH ENGELS

a Richard Fischer

8 de Março de 1895

 

FRIEDRICH ENGELS[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução  Emil Asturig von München

Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von Köln

Outubro 2007 emilvonmuenchen@web.de

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Londres, 8 de março de 1895

41, Regent’s Park Road, N.W.

 

Caro Fischer,

 

Na medida do possível, tive em consideração as pesadas preocupações que vocês possuem, muito embora, com a melhor das boas vontades, não possa entrever, nem sequer pela metade, em que reside o seu caráter inquietante.[2]

 

Não posso certamente admitir que vocês queiram aderir, de corpo e alma, à politica da legalidade absoluta, à legalidade, em todas as circunstâncias, à legalidade, mesmo em face das leis desrepeitadas por seus próprios legisladores, em suma à política de dar a face esquerda àquele que bateu na face direita.   

Às vezes, no “Vorwärts (Avante)”, nega-se, em verdade, a revolução, com tanta dissipação de energia, como antes era ela aconselhada – e talvez volte a sê-lo proximamente.

Porém, não posso considerar que isso seja o fator determinante.

Minha opinião é que vocês não ganham nada, predicando a renúncia absoluta ao ato de golpear.

Nisso, ninguém acredita mesmo e nenhum Partido de nenhum país do mundo chega ao ponto de renunciar ao direito de resistir à ilegalidade, com armas nas mãos. 

Devo, igualmente, prestar consideração ao fato de que também os estrangeiros – os franceses, os ingleses, os suíços, os austríacos, os italianos etc. – lêem os meus escritos e não posso absolutamente me comprometer tanto assim. (...)

 

Fiz tudo aquilo que me era possível para poupar-lhes transtornos, nesse debate.

Porém, vocês agiriam melhor defendendo o ponto de vista de que a obrigação perante a lei é uma obrigação jurídica, não uma obrigação moral - tal como Boguslawski (cujo “s” é longo) já teve ocasião de ensinar-lhes, tão esplendidamente.[3]

 

E que essa obrigação jurídica deixa de existir completamente se os detentores do poder violam a lei.

Porém, vocês – ou, no mínimo, este ou aquele entre vocês - tiveram a fraqueza de não se opor, a fundo, à pretensão do adversário.

Reconheceram a obrigação perante a lei também como sendo uma obrigação moral, uma obrigação vinculante, em todas as circunstâncias, em vez de dizer :

 

“Vocês têm o poder em suas mãos, vocês fazem as leis. Se as transgredirmos, poderão nos tratar em conformidade com essas leis. Temos de suportá-las. E isso é tudo. Não temos, adicionalmente, mais nenhum dever e vocês, nenhum Direito.”

 

Assim fizeram os católicos, sob os auspícios das Leis de Maio.

Assim agiram os velhos luteranos, na cidade de Meißen (EvM.: Misena, hoje situada na Saxônia).    

Assim procedeu aquele soldado menonita que figura em todos os jornais.

E você não deveriam rejeitar esse ponto de vista.  

O Projeto de Lei sobre Subversão vai, de todo modo, despedaçar-se.[4]

 

Uma coisa do gênero não pode ser absolutamente formulada e, muito menos, executada.

Porém, se eles detiverem o poder, hão de amordaçar e triturar as forças que vocês possuem, de um jeito ou de outro.

Se vocês pretendem, entretanto, deixar claro às personalidades do Governo que apenas pretendemos esperar, porque ainda não somos suficientemente fortes para nos fazer valer e porque as forças armadas ainda não estão radicalmente contaminadas, por que, então, vocês, caros amigos, vangloriam-se, todos os dias, nas páginas dos jornais, com os gigantescos progressos e sucessos, obtidos pelo Partido ?

Certamente, as pessoas sabem, tão bem quanto nós, que avançamos, poderosamente, rumo à vitória, que, em alguns anos, tornar-nos-emos irresistíveis.

Por isso, querem já agora nos agarrar pelos colarinhos, embora, lamentavelmente, não saibam como fazê-lo.

Nossos discursos não podem modificar em nada essa situação.

Disso tudo, eles sabem e sabem-no tão bem quanto nós.

Sabem também que, se tivermos o poder nas mãos, dele faremos uso, tal como servir a nós e não a eles.

 

Portanto, quando ocorrer o debate geral no plenário, pensem um pouquinho em proteger o direito de resistência, do mesmo modo como Boguslawski nos protegeu de possuir, nas fileiras de vocês, também os velhos revolucionários, franceses, italianos, espanhóis, húngaros, ingleses.

Além disso, quem sabe quão em breve poderá retornar o tempo em que se promoverá, seriamente, a eliminação do “legal”, efetuada, anno Tobak (EvM.: tempos atrás), em Wyden.[5]

      

Dêem mesmo uma olhada nos austríacos que ameaçam com a violência, tão diretamente quanto possível, quando o Direito Eleitoral não lhes é concedido, imediatamente.

Pensem nas ilegalidades, cometidas contra vocês mesmos, sob a vigência da Lei contra os Socialistas.

Pensem em que gostariam de, novamente, estabelecê-las contra vocês!

Legalidade apenas e na medida em que nos convém.

Nenhuma legalidade, porém, a qualquer preço, nem mesmo em uma frase sequer!

 

Do teu

F.E.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS



[1] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Richard Fischer in Berlin (Carta a Richard Fischer em Berlim)(8 de Março de 1895), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 39, Berlim : Dietz, 1968, pp. 424 e s. Enfatizo, por oportuno, que a presente carta de Engels, traduzida agora, pela primeira vez, para o português, foi apenas encontrada e trazida a público em 1967. Vide INTERNATIONAL REVIEW OF SOCIAL HISTORY.(Revista Internacional de História Social), Amsterdã, Vol. XII, Parte 2, 1967. Ademais, assinalo, brevemente, que Richard Fischer (1855 – 1926) foi um tipógrafo, redator, publicista e membro da Social-Democracia Alemã. Atuou como funcionário da revista de publicação ilegal “Der Sozialdemokrat (O Social-Democrata)”, entre 1879 e 1890.  A seguir, foi, de 1890 a 1892, dirigente de redação e, de 1892 a 1894, secretário da direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD). Entre 1902 e 1922, surgiu como principal responsável de imprensa do jornal “Vorwärts (Avante)”, órgão do SPD, e, entre 1893 e 1926, das atividades editoriais gerais desse partido, em Berlim. Desde os últimos anos do século XIX, Fischer defendeu posições abertamente revisionistas, tornando-se delas importante porta-voz, já nos primeiros anos do século XX.                    

[2] Impende anotar que, entre 14 de fevereiro e 6 de março de 1895, Engels redigiu sua “Introdução à Luta de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx”, a qual foi publicada no curso do mesmo ano, na cidade de Berlim. Depreende-se, entretanto, de uma carta de Richard Fischer, dirigida a Engels, em 6 de março de 1895, que a direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) exigiu de Engels uma atenuação do tom linguístico-revolucionário, contido em sua referida “Introdução”. Na carta de resposta de Engels a Fischer, datada de 8 de março de 1895, verifica-se, além disso, que Engels contestou, detalhadamente, as preocupações que a direção do SPD levantava, elucidando, inequivocamente, sua posição jurídico-político-revolucionária. A crítica de Engels dirigia-se contra a atitude irresoluta da direção do SPD, encabeçada por August Bebel, Wilhelm Liebknecht, Karl Kautsky, Eduard Bernstein, Richard Fischer etc. – e sua pretensão de intervir exclusivamente no quadro da legalidade burguesa. Engels foi obrigado, entretanto, a fazer certas alterações léxicas e gramaticais em seu texto original, bem como eliminar, inteiramente, certas passagens, em que realçava a necessidade da luta armada do proletariado vindoura contra a burguesia. Baseados no texto dessa notável “Introdução”, alguns célebres dirigentes do SPD empreenderam, a seguir, a tentativa de deformar os posicionamentos de Engels, incluindo-o entre os adeptos da via pacífica “quand même (EvM.: custe o que custar)”, para a tomada do poder pela classe trabalhadora. Nesse sentido, em 30 de março de 1895, publicou-se, no “Vorwärts (Avante)”, um artigo editorial, intitulado “Wie man heute Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”, em que diversas citações, extraídas aleatoriamente da “Introdução” de Engels, produziam a falsa impressão de que Engels haver-se-ia tornado “ein friedfertiger Anbeter der Gesetzlichkeit quand même(EVM.: um venerador pacifista da legalidade, sob todas as condições)”. Logo depois da reedição da obra de Marx em questão, Engels exigiu, energicamente, que sua “Introdução” fosse publicada, na íntegra, na revista “Neue Zeit (O Novo Tempo)”. Sem embargo, o Nr. 27/28, 2 Vol. 13° Ano, 1894/95 dessa revista decidiu-se por publicar apenas a “Introdução” com as alterações e as supressões referidas que Engels fora forçado a efetuar, sob pressão da direção do SPD. Entretanto, a despeito destas, é efetivamente possível verificar que a “Introdução” em causa preserva, ainda assim, seu caráter revolucionário, pouco podendo prestar-se às degenerações de posições, contidas no artigo editorial do “Vorwärts(Avante)”, intitulado “Wie man heute Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”. Neste comenos, uma publicação integral da “Introdução” de Engels não teve em lugar, na Alemanha, antes de eliminado o perigo de promulgação de uma nova Lei contra os Socialistas. Para um exame integral do texto em apreço, vide ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx’ Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850(Introduçao à Luta de Classes na França de 1848 a 1850)(1895), in : ibidem, Vol. 27, pp. 509-527. Sobre o pano de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista de Liebknecht, Bebel e Kautsky, visando ao impulsionamento de suas disputas políticas de outrora, dá-nos conta, precisamente, Engels, em 3 de abril de 1895, poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm Liebknecht em sua “Introdução” referida: “Wilhelm Liebknecht aplicou-me, agora mesmo, um golpe de mau gosto. Retirou de minha introdução aos ensaios de Marx sobre a França, de 1848 a 1850, tudo aquilo que lhe podia servir, para apoiar, a todo custo, a tática pacífica e refutadora da violência. Essa tática, adora pregá-la, desde algum tempo e particularmente nesse momento em que, em Berlim, estão sendo preparadas Leis de Exceção. Recomendo uma tática do gênero apenas e tão somente para a Alemanha de hoje, fazendo-o, ainda, com reservas consideráveis. Para a França, a Bélgica, a Itália e a Áustria, essa tática não é adequada, em seu conjunto, e, mesmo para a Alemanha, pode demonstrar-se inaplicável já no dia de amanhã.  Peço-lhe, portanto, que espere pelo artigo completo, antes de julgar – provavelmente este aparecerá no “Neue Zeit(Novo Tempo)”. Espero, de um dia para o outro, exemplares das brochuras. É lamentável

que Wilhelm Liebknecht veja apenas o preto e o branco. Para ele, as nuances não existem. Além disso, as coisas estão quentes na Alemanha, o que promete um fim de século grandioso. ...” Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Paul Lafargue in Le Perreux(Carta a P. Lafargue em Le Perreux)(3 de Abril de 1895), in : ibidem, Vol. 39, p. 458.

Após a morte de Engels, os dirigentes oportunistas e revisionistas do SPD propagandearam, de modo deformado, as posições engelsianas, constantes em sua “Introdução”, como forma de reforçar, até a exaustão, sua tática pacífica e refutadora da violência. Impediram, sistematicamente, que os trabalhadores e militantes de base tivessem acesso ao texto original e integral da “Introdução”. Calaram-se sobre o fato de haverem forçado Engels a operar certas modificações léxicas e gramaticais em seu texto, a fim de aliviar o seu tom revolucionário. Alegaram que, em sua “Introdução” – apregoada como seu definitivo “politiches Vermächtnis(legado político)” -  Engels haveria aderido ao reformismo e ao pacifismo, abdicando de suas posições revolucionárias precedentes. 

Falar-se do SPD, pura e simplesmente, como se fosse o “Partido de Engels” - sem destacar a luta travada por esse último contra o filistinismo do “livre pensar” -,  constitui um equívoco patente : caberia falar ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SDAP/SAPD/SPD) com que Marx e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos haviam sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução de 1848 – 1849, tendo sido Marx forçado a tornar-se apátrida - ou do Partido que se opunha à orientação de Marx e Engels, em vez de falar, sem mais nem menos, do “Partido de Engels”. Cabe, em verdade, a Ernst Mandel e aos incorrigíveis adeptos e colaboradores do mandelismo, distribuídos pelos mais diversos partidos, sindicatos, institutos culturais e órgãos de imprensa da atualidade, defenderem - no estilo de Daniel Bensaïd - a tese arenosa de que o “Partido de Engels” se integrou ao imperialismo alemão, por permanecer em sua “velha e preservada tática”, finalmente antagonizada por Rosa Luxemburgo. Vide MANDEL, ERNST. Rosa Luxemburg und die deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a Social-Democracia Alemã) (Março de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa Luxemburg Leben – Kampf – Tod (Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp – Verlag, Mai 1986, pp. 46 e s.  Por outro lado, cumpre destacar que a grandiosa e corajosa luta travada pela águia revolucionária do proletariado, Rosa Luxemburgo contra a direção social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão (SPD), possuía como elementos de enfraquecimento a própria postura equivocada de Rosa Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm II, Rosa mantinha invariável sua posição que rejeitava abertamente o Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx e Engels -, propugnava uma teoria de acumulação do capital inteiramente revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -, postulava, nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de direitos e liberdades fundamentais para todos os indivíduos e organizações sociais – contra a concepção de Marx e Engels  -, repudiava a teoria de Partido centralizado – contra a concepção de Marx e Engels -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte, as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia Alemã. Entre os proletários revolucionários alemães desse período histórico encontraremos também aqueles que, não apenas defendendo a derrubada do Imperador Alemão, inclinavam-se também – ainda que intermediados por Karl Radek - a favor da defesa do modo de funcionamento e da linha geral internacionalista do Partido Bolchevique de Lenin. Reuniam-se em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e Julian Borchard e de seu trabalho surgiram também importantes sustentáculos, indispensáveis à fundação do Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de 1919.                       

[3] Engels refere-se aqui a Albert von Boguslawski (1834 – 1905), célebre tenente-general berlinense, escritor especialista de questões militares e repressor do movimento operário da Alemanha. Em 1852, soldado mosqueteiro do Exército Prussiano. Em 1854, oficial. Notabilizou-se nas campanhas militares prussianas de 1864, 1866, 1870 e 1871. Entre seus escritos mais famosos, encontram-se BOGUSLASWI, ALBERT VON. Die Entwicklung der Taktik von 1793 bis zur Gegenwart (O Desenvolvimento da Tática de 1793 até a Atualidade), Berlim : Mittler, 4. Vol., 1873-78, pp. 3 e s.;  IDEM. Taktische Folgerungen aus dem Krieg 1870/71 (Conseqüencias Táticas da Guerra de 1870/71), Berlim : Mittler, 1872, pp. 7 e s.; IDEM. Der kleine Krieg und seine Bedeutung für die Gegenwart (A Guerrilha e seu Significado para a Atualidade), Berlim, 1881, pp. 3 e s.; IDEM. Die Entwicklung der Taktik seit dem Kriege von 1870/71 (O Desenvolvimento da Tática Desde a Guerra de 1870/71), Berlim : Luckhardt, 1885, pp. 5 e s.

[4] Observo que, em 6 de dezembro de 1894, o Governo Prussiano apresentou ao Parlamento do Estado um “Projeto de Lei sobre as Alterações e Suplementações do Código Penal, do Código Penal Militar e da Lei sobre a Imprensa”, o qual passou a ser denominado de “Umsturzvorlage (Projeto de Lei sobre a Subversão)”. Segundo o projeto em referência, todas as pretensões subversivo-revolucionárias deveriam ser punidas, mesmo sem existência de fato típico, com reclusão em penitenciária, e as supostas agressões à religião, à monarquia, ao casamento, à família e à propriedade deveriam ser punidas, com detenção de até dois anos. A maioria dos deputados do Parlamento Alemão não ousou, com efeito, dar aprovação ao projeto em tela, devido à pressão das massas em movimento. Em 11 de maio de 1895, o “Umsturzvorlage (Projeto de Lei sobre a Subversão)” foi definitivamente rejeitado, em segunda votação, em meio aos protestos das massas, dinamizados em todos os distritos populares, à luta do SPD e também à oposição dos partidos burgueses liberais.      

[5] Ressalto que o primeiro Congresso do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD), realizado em situação de plena ilegalidade, teve lugar entre os dias 20 e 23 de agosto de 1880, no Palácio Wyden, situado no cantão de Zurique, na Suíça. Esse congresso colocou fim ao período de praticamente de dois anos de oscilações e confusão nas fileiras no Partido, ocasionadas pela promulgação, em 19 de outubro de 1878, da Lei contra os Socialistas, permitindo sacar um balanço sobre o resultado das divergências, havidas relativamente à formulação da estratégia e tática de luta do Partido, sob a vigência da lei de exceção em realce. As resoluções congressuais adotadas orientaram também o Partido em face de suas frações oportunistas de direita e de esquerda, estabelecendo uma linha de intervenção claramente revolucionária, na luta contra o despotismo do Estado Militar Prussiano-Alemão.  Em consonância com as novas condições da luta de classes na Alemanha, decidiu-se, unanimemente, positivar, no programa do Partido, o parágrafo de que, doravante, o SAPD perseguiria seus objetivos “com todos os meios” – e não mais apenas “com os todos os meios legais”, tal como estabelecido, até então, pelo Programa de Gotha de 1875. Ademais disso, resolveu-se que a revista “Sozialdemokrat (O Social-Democrata)” tornar-se-ia o órgão oficial do Partido, havendo de se transformar em ferramente de fortalecimento dos organismos partidários e de difusão das concepções marxistas, no seio da classe trabalhadora. Dest’arte, o congresso em realce lançou os pressupostos para a posterior derrubada da Lei contra os Socialistas, em 30 de setembro de 1890.