ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :

A ARTE PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

 

A Política Militar Leninista

 

ERICH WOLLENBERG[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers

Janeiro 2005 emilvonmuenchen@web.de

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Vladimir Ilitch Ulianov, tal como era o nome civil de Lenin, nasceu em 10 (22) de abril de 1870, na cidade de Simbirsk, hoje Ulianovsk, cidade do Volga, foi filho de um professor de ginásio superior e faleceu em 21 de janeiro de 1924, em Gorki, nas proximidades de Moscou.

Em 1888, Lenin foi expulso da Universidade de Kazan em razão de sua participação no movimento estudantil revolucionário de então.

Em 1893, militou na cidade de Petersburgo,  junto a círculos marxistas que se unificaram, em 1895, no quadro da “Liga de Luta pela Libertação da Classe Trabalhadora”.

Quando, em 1898, foi fundado o Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), Lenin nele ingressou[2].

 

O início da carreira política de Lenin coincidiu, portanto, em algo, com a morte de Friedrich Engels, ocorrida em 1895, o qual ainda chegou a avistar a aurora do imperialismo.

No entanto, Lenin não pôde simplesmente continuar a partir do ponto em que Engels havia-se detido, em sua atividade de clarificar o mundo.

Na virada do século, o jovem Lenin defrontava-se, em seu país, i.e. a Rússia dos Czares e do absolutismo czarista, com relações políticas e sócio-econômicas semelhantes àquelas encontradas pelo jovem Engels no início dos anos 40 do século XIX, na Alemanha.

Porém, essa mesma Rússia atrasada e semi-bárbara constituía uma parte integrante daquele mundo que Engels, amigo e companheiro de lutas de Karl Marx, havia abandonado, quando falecera aos 75 anos.

Apenas na medida em que se contemple permanentemente as condições históricas em que se processou o inteiro desenvolvimento político de Lenin - tal como apreciadas diante de um espelho côncavo de dois mundos -, é que se pode avaliar e compreender o leninismo, em geral, bem como a política militar-leninista, em particular.

Na Rússia Czarista, os resquícios da ordem feudal ainda não haviam sido superados na virada do século do século XX, tal como foi o caso da Alemanha, no contexto dos anos 40 do século XIX.

Tanto aqui como ali, a revolução democrático-burguesa situava-se na ordem-do-dia.

Tanto aqui como ali, a parte mais avançada de todas as classes sociais lutava pelas liberdades democráticas que constituem o pressuposto da moderna sociedade burguesa e, dessa maneira, a précondição para o desenvolvimento dos meios capitalistas de produção e das forças produtivas.

Disso resultava que, na Rússia Czarista, não se encontrava absolutamente envelhecida também “a rebelião de velho estilo, i.e. a luta de ruas com barricadas que, até 1848, conferiu, por todos os lados, a última decisão” – em comparação com o que Engels havia escrito, em 1895, em seu Prefácio à Luta de Classes na França de Marx[3].

 

Em Petrogrado, em Moscou e em muitas cidades russas de província, “a luta de ruas com barricadas ...” conferiu a última decisão” ...

Com efeito, segundo Engels :

 

“A rebelião de velho estilo, a luta de ruas com barricadas, que, até 1848, conferiu, por todos os lados, a última decisão, envelheceu significativamente.

Não nos iludamos com isso : um verdadeira vitória da insurreição sobre as forças militares na luta de ruas, uma vitória tal como entre dois exércitos, pertence às maiores raridades. ...

Em contrapartida, tornaram-se piores, do lado do insurgente, todas as condições.

Uma insurreição com a qual simpatizem todas as camadas populares dificilmente surgirá de novo.

Na luta de classes, provavelmente jamais se agruparão todas as camadas médias em volta do proletariado tão exclusivamente a ponto de desaparecer inteiramente, do outro lado, o partido da reação que se aglutina em torno da burguesia.

O “povo” sempre surgirá dividido e, com isso, faltará uma alavanca poderosa, tão extremamente eficaz, como a de 1848.

Se surgirem do lado dos sublevados mais soldados prestativos, tanto mais difícil tornar-se-á armá-los.

As armas de fogo de caça e de luxo das lojas de armamentos – mesmo se não inutilizadas, de antemão, por intervenção policial, mediante retirada de uma peça necessária ao disparo – nem de longe estão à altura do fuzil do depósito de armas, no marco de uma luta de corpo a corpo.

Até 1848, podia-se fazer para si mesmo a munição necessária, com pólvora e chumbo.

Hoje, o cartucho é diferente para cada tipo de fuzil e revela-se, apenas em um ponto, de igual natureza : ele constitui um artefato produzido pela grande indústria, i.e. não são produzíveis ex tempore, vale dizer, são inúteis para a maioria dos fuzis, desde que não se possua a munição para estes especialmente adequada.

E, finalmente, os bairros das grandes cidades, reconstruídos desde 1848 e projetados em ruas longas, retilíneas e amplas, tal como construídas para a atuação das novas artilharias e fuzis.      

O revolucionário tem de ser um louco se escolher para si os novos distritos de trabalhadores no norte e no leste de Berlim, visando a travar uma luta de barricadas. 

Isso quer dizer que, no futuro, a luta de ruas não desempenhará papel algum?

De maneira nenhuma.

Significa apenas que as condições, a partir de 1848, tornaram-se amplamente desfavoráveis para os lutadores civis e amplamente favoráveis para as forças armadas militares.

Uma futura luta de ruas pode, portanto, apenas vencer se essa desvantagem da situação for contrabalançada por outros momentos.

Por isso, ela ocorrerá, mais raramente, no início de uma grande revolução do que será o caso no transcurso subseqüente dessa última, havendo de ser empreendida com forças muito maiores.

Essas forças darão preferência, provavelmente, porém, – tal como durante toda a Revolução Francesa, bem como em 4 de setembro e em 31 de outubro de 1870, em Paris – ao ataque aberto ao invés da técnica passiva das barricadas.[4]

 

Ao marxista revolucionário Lenin, amadurecido sob as condições do despotismo czarista, as rasuras apostas pela direção da Social-Democracia Alemã a essas últimas passagens do artigo de Engels, em que são analisadas “as chances das futuras lutas de rua”, haveriam de surgir como uma falsificação do marxismo, muito particularmente abominável e manifestamente nociva.

Se afirmamos que as relações econômicas e sócio-políticas da Rússia Czarista, por volta de 1900, encontravam-se posicionadas de modo semelhante àquelas existentes em 1848, na Alemanha, não quer isso dizer que eram as mesmas.

A vida é infinitamente multiforme.

Todas as coisas - e mesmo as aparentemente mais simples – espelham-se, em incontáveis variações.

Por isso, não se pode jamais transferir mecanicamente aquilo que era correto se fazer em um país e em um dado momento temporal para um outro país ou para um outro momento temporal.

Assim, todos os ensinamentos que podem ser extraídos da história são apenas muito relativos, sendo que um político ou, dado o caso, um homem de Estado não deve jamais meter-se na circunstância lamentável dos espíritos servis que não se dedicam à detectação de novos caminhos, lançando mão de seu próprio cérebro, através da postura histórico-contemplativa e inteligente apreciação das experiências do passado, em face de situações semelhantes do presente, porém jamais idênticas. 

Nesse truísmo situa-se o limite de toda doutrina social e também do marxismo.

Lenin referiu-se a isso por diversas vezes, quando, entre as fileiras de seu próprio Partido ou no seio da III Internacional Comunista, teve de combater a aplicação mecânica do patrimônio marxista e a transferência autômata das experiências russas ao movimento dos trabalhadores de outros países.

Lenin gostava de  contar a seguinte anedota, com o objetivo de denunciar os “marxistas literais”, em meio às fileiras de seu próprio Partido :

 

“Durante as lutas revolucionárias de 1905, o Governador de Odessa mandou disparar sobre o povo indefeso.

Os marinheiros do Encouraçado Potemkin colocaram seus oficiais para correr e içaram a bandeira vermelha.

Enviaram, então, uma delegação ao Comitê Local do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) com a indigação acerca de deverem ou não intervir na luta, passando para o lado dos sublevados, com a pesada artilharia naval.

O presidente do Comitê Local do Partido  pediu ao delegados dos marinheiros para que esperassem algumas horas.

Entrementes, a artilharia, deslocada para o parque, diante do Palácio de Governo, perpetrou um massacre da população.

No horário combinado, os marinheiros apresentaram-se no Comitê Local do Partido que ainda conferenciava, atrás de portas fechadas.

Não se permitiu o ingresso dos marinheiros.

Por fim, os marinheiros botaram abaixo a porta da sala de reunião, a golpes desfechados com as coronhas de suas carabinas, e ali encontraram os membros do Comitê Local do Partido - companheiros inteiramente maduros, com barbas longas - folheando, assiduamente, livros grossos.

O presidente do Comitê Local do Partido dirigiu-se aos marinheiros, repreendendo-lhes :

« É necessário que vocês tenham mais paciência, caros companheiros !

Já examinamos quase todas as obras de Marx e Engels para certificar-nos se a pretensão de vocês é realmente marxista.

Porém, até agora, não encontramos nada sobre o Palácio de Governo de Odessa e sobre o Encoraçado Potemkin ... “[5]      

   

O programa agrário que o czarismo absolutista não havia resolvido e nem podia resolver sem destruir os pressupostos existenciais de seu regime autocrático - a despeito da supressão da servidão, ocorrida em 1861, e das diversas reformas empreendidas -, contituía a principal questão da revolução democrático-burguesa na Rússia.

Com isso não se pretende dizer que, no Império Czarista, não havia nenhuma questão nacional irresolúvel que, na Alemanha, obscurecera todos os demais problemas sociais, durante a Revolução de 1848 e 1849, vindo a ser resolvida apenas no quadro das Guerras Dinásticas e Nacionais de 1864, 1866 e 1870/1871, no interior dos pequenos limites alemães (i.e. sem a Áustria Alemã) e sob a direção prussiana, em conformidade com a célebre consigna de Bismarck : “Mediante Sangue e Ferro”, ou, como Marx destacou, de maneira menos poética, porém tanto mais precisa : “Mediante Guerras e Contra-Revoluções”.

Na Rússia Czarista, a questão nacional posicionava-se, de certa forma, de modo inverso àquele da Alemanha pré-bismarckiana.

O próprio povo grão-russo que, sob o jugo do despotismo e das relações de produção semi-feudais do campo, não podia nem viver e nem morrer, oprimia outras nações eslavas e não-eslavas[6].

          

Os grão-russos dominantes tinham de abrir o “cárcere dos povos”, situado em seu próprio país, para tornarem-se eles mesmos livres.

Também as relações agrárias russas eram inteiramente diferentes, se comparadas com as existentes na Alemanha Prussiana, revestida por seus latifundiários junkers, do lado leste do Rio Elba, que faziam lavrar suas imensas propriedades por encarregados e trabalhadores assalariados, tal como grandes empresas capitalistas. 

Os magnatas rurais russos exploravam suas propriedades gigantescas com métodos pré-capitalistas, fazendo-o de modo muito irracional.

Transferiam sua terra a alguns grandes arrendatários que, por sua vez, faziam com que sub-arrendatários pagassem os elevados juros do arrendamento.

O trabalho rural efetivo era realizado pelo mujik, camponês sem terra, cultivador de uma parcela tão ínfima de solo que mal dava para alimentar uma família carente.[7]

 

Além disso, esse mujik tinha de entregar ao arrendatário e ao sub-arrendatário a maior parte dos rendimentos de sua “terrinha miúda”, na forma de juros de arrendamento, sendo que, para fazê-lo, complicava-se, cada vez mais profundamente, com dívidas contraídas junto ao usurário da aldeia.

Desse mujik miserável e cada vez mais faminto, vivia um reinado inteiro de ratos parasitários da sociedade.

A revolução democrático-burguesa que prometia a terra àqueles que a cultivavam, havia de desencadear uma força revolucionária explosiva inaudita na aldeia russa.

Se as relações agrárias da Rússia Czarista, na virada do século XX, eram muito mais atrasadas do que aquelas das províncias do leste do Rio Elba, no início do século XIX, a indústria russa, tão pequena como era em relação à dimensao gigantesca do país e, expressados em números absolutos, igualmente pequena em face das indústrias da Inglaterra e da Alemanha, podia medir-se, em organização e concentração com as indústrias dos países capitalistas mais extremamente desenvolvidos.

A jovem indústria russa, na que o exterior investia, em particular a França, a Inglaterra, a Bélgica e os grandes capitalistas, possuía, em face dos velhos países industrializados, a vantagem de que não tinha de arrastar o fardo de um parque de máquinas envelhecido e instituições fabris ultrapassadas, podendo iniciar, de modo virgem, no nível de desenvolvimento mais elevado que a técnica moderna e a organização empresarial haviam atingido.

Na Rússia, preponderava a grande indústria em face da pequena e média indústria.

Um forte grau de concentração do proletariado industrial correspondia ao elevado grau de centralização da indústria russa.

Esse proletariado recebia permanentes incrementos, advindos da aldeia russa, colossalmente sufocada.

Outrora, a Guerra Alemã dos Camponeses, de 1525, esteve fadada ao fracasso, posto que os camponeses não puderam encontrar um firme apoio nem junto às cidades nem junto aos cavaleiros feudais que simpatizavam com a libertação do campesinato.

Não puderam encontrar um aliado, enfim, que reunisse e organizasse as massas de camponesas, espalhadas em unidades maiores.

Assim, esses camponeses alemães, em sua manifesta dispersão, caminharam rumo ao fracasso.

A massa de milhões de mujiks, insatisfeita e faminta, veio a encontrar, porém, esse suporte e força de organização junto ao proletariado industrial russo, altamente concentrado.

Por essa razão, a Rússia Czarista era o terreno fértil para a materialização da hegemonia do proletariado na revolução democrático-burguesa.

Faltava apenas a centelha que incendiasse o barril de pólvora junto à aldeia russa.

Essa centelha foi a guerra ou, muito mais, a derrota militar que desvendou a podridão e a fragilidade do regime czarista-absolutista.

A primeira centelha – a derrota na Guerra Russo-Japonesa – fez arder o fogo das insurreições que irromperam, em 1905 e 1906, através de todo o país, podendo ser, porém, posteriormente, apagado.

Mais uma vez, triunfou a contra-revolução czarista.

Os revolucionários desapareceram, sucumbindo nos campos penais siberanianos e nos locais de banimento ou partiram para o exílio.

Lenin havia compartido, inicialmente, o destino dos primeiros, depois, compartiu o dos últimos.

Em 1917, inflamou-se a segunda centelha.

O flácido edifício do absolutismo desabou, sob os golpes das derrotas militares aniquiladoras e da ruína econômica.

A Revolução de Fevereiro fez da Rússia Czarista uma República Democrática.

Porém, essa última não resolveu nenhuma das candentes questões, colocadas diante do povo russo : nem terminou com a guerra e nem concedeu aos camponeses sem terra, i.e. aos mujiks, a terra que faminta e miseravelmente cultivavam, com o suor de seus rostos.

Assim, a Revolução de Fevereiro foi seguida pela Revolução de Outubro.

Ambos esses marcos de pedra da história do povo russo, constituídos por duas guerras perdidas e por duas, ou melhor, três revoluções, representaram pilastras de mármore na vida e na atividade de Lenin.

Por isso, resulta adequado organizar seus escritos político-militares não segundo pontos de vista temáticos - tal como no caso de Engels – mas sim segundo uma ordem cronológica :

 

I.         A Guerra Russo-Japonesa e a Revolução de 1905 e 1906.

II.        A Primeira Guerra Mundial e as Revoluções de 1917.

 

No que concerne ao caráter democrático-burguês da revolução que se aproximava, não existia, antes de Fevereiro de 1917, diferenças de opiniões entre bolcheviques e mencheviques.

Uns e outros concordavam em que, na Rússia atrasada, com suas relações agrárias semi-feudais, seria apenas possível uma revolução democrático-burguesa.[8]

 

A diferença fundamental existente entre bolcheviques e mencheviques encontrava-se na questão relativa à direção e ao objetivo dessa revolução.

Os mencheviques opinavam que a classe trabalhadora deveria intervir de modo domesticado e manso, no quadro de uma revolução democrático-burguesa, com vistas a não amedrontar a burguesia liberal com consignas socialistas, provocando a reação czarista no seio das forças armadas.

Lenin defendia, nessa questão, um ponto de vista inteiramente diverso, apoiando-se justamente em Marx e Engels.

Argumentava assinalando que, em virtude de a burguesia não se encontrar mais disposta e não ser mais capaz de realizar sua própria revolução – por temor de seu coveiro, i.e. por medo do proletariado -, cumpria a esse último, i.e. ao proletariado, a tarefa de assumir o papel da hegemonia, executar a função dirigente na Revolução Democrático-Burguesa, impedindo, de antemão, que a burguesia construisse e sedimentasse seu poder.

Em contraste com os bolcheviques e mencheviques, Trotsky declarava, porém, ser possível, na Rússia, uma Revolução Socialista, visto que, em escala mundial, essa revolução já estava colocada na ordem do dia, sendo o proletariado russo uma parte integrante do proletariado europeu e mundial. (...)

 

“Observe-se que, em seu Prefácio à Reedição de “Resultados e Perspectivas”, surgido em 1919, Trotsky elaborou as seguintes considerações sobre seus posicionamentos de luta no interior do POSDR, a partir dos primeiros anos do século XX:

« Defendendo o ponto de vista da revolução permanente durante um período de 15 anos, o autor incidiu em erro, entretanto, em sua análise das frações do movimento social-democrático.

Na medida em que ambas partiam do ponto de vista da revolução burguesa, o autor era da opinião de que as divergências existentes entre elas não seriam tão profundas para justificar uma ruptura.

Ao mesmo tempo, esperava que o curso subseqüente dos acontecimentos provaria claramente a fraqueza e a insignificância da democracia burguesa russa, de um lado, e, d’outro lado, a impossibilidade objetiva do proletariado de limitar-se a si mesmo a um programa democrático.

Pensou que isso pudesse remover o fundamento das diferenças fracionais.

Situando-se no exterior das duas frações, no período de sua emigração, o autor não apreciou inteiramente a circunstância mais importante de que, na realidade, juntamente com a linha de desacordo entre bolcheviques e mencheviques, ali estavam agrupados revolucionários inflexíveis, por um lado, e, por outro, elementos que se tornavam cada vez mais oportunistas e acomodados.

Quando a revolução de 1917 estourou, o Partido Bolchevique constituía uma organização fortemente centralizada, unindo todos os melhores elementos dos trabalhadores avançados e intelectuais revolucionários que – depois de alguma luta interna – adotaram abertamente táticas direcionadas para a Ditadura Socialista da Classe Trabalhadora, em total harmonia com a inteira situação internacional e a relação de classes na Rússia.

No que diz respeito à fração menchevique, tinha suficientemente amadurecido, já naquele momento, para ser capaz de assumir – tal como dito antes – os deveres de uma democracia burguesa.»[9]  

 

“Cumpre também destacar que, no quadro de um autêntico debate, travado entre revolucionários-proletários, empenhados ambos em fundar as bases de uma concepção dialético-materialista da hegemonia do proletariado nas Revoluções Russas, segundo os estritos critérios da doutrina Marx e Engels, Lenin criticou, em seu famoso artigo Acerca de Duas Linhas da Revolução, de 1915, a interpretação que Trotsky fazia do ponto de vista revolucionário, também plenamente permanentista, impulsionado pelo bolchevismo de Lenin, assinalando, porém, o seguinte, ao final de sua análise :

«Elucidar as relações entre as classes na futura revolução é a tarefa principal de um partido revolucionário. ...

Essa tarefa não é resolvida corretamente por Trotsky, em “Nasche Slovo(Nossa Palavra)”.

Ele repete sua teoria “original” de 1905 e não quer refletir acerca das razões devido às quais a vida transcorreu ao largo dessa teoria maravilhosa ao longo de dez anos inteiros.

A original teoria de Trotsky resgata o apelo dos bolcheviques relativo à luta revolucionária decidida do proletariado e à conquista do poder político pelo proletariado, porém, dos mencheviques, a “negação” do papel do campesinato.

O campesinato estaria, segundo Trotsky, fragmentado em camadas, tendo-se diferenciado.

Seu possível papel revolucionário teria sido sempre muito pequeno.

Na Rússia seria impossível uma revolução “nacional”: “Vivemos na época do imperialismo”, “o imperialismo” coloca frente à frente, porém, “não a nação burguesa perante o velho regime, senão o proletariado à nação burguesa”.

Aí temos um exemplo curioso para o “jogo com a palavrinha” imperialismo !  

Se na Rússia opõe-se o proletariado já “à nação burguesa”, então quer dizer que : a Rússia coloca-se, diretamente, diante da Revolução Socialista !

Então, é errada a consigna (levantada por Trotsky na Conferência de Janeiro de 1912 e repetida, depois, em 1905) “confiscação das terras dos latifundiários”.

Sendo assim, deve-se falar não de governo “dos trabalhadores revolucionários”, mas sim de governo “socialista dos trabalhadores”!!” »

Nesse contexto, conclui Lenin, da seguinte forma, manifesta e incorruptivelmente :

« Quão longe vai a confusão com Trotsky, é possível perceber pela sua frase de que o proletariado irá arrastar consigo, por sua resolução, também as “massas não-proletárias(!)”!!(Nr. 217).

Trotsky não refletiu que, se o proletariado conseguir arrastar consigo as massas rurais não-proletárias para a confiscação das terras dos latifundiários e derrubar a monarquia, isso será precisamente a consumação da “revolução burguesa nacional” na Rússia, a Ditadura Democrático-Revolucionária do Proletariado e do Campesinato ! ...

Porém, o seguinte é agora o essencial : 

O proletariado luta – e irá lutar desinteressadamente -, pela conquista do poder, pela república, pela confiscação das terras, i.e. pelo arrastamento do campesinato, pelo esgotamento de suas forças revolucionárias, pela participação das “massas não-proletárias” na libertação da Rússia burguesa do “imperialismo” feudal-militar(=czarismo).

Essa libertação da Rússia burguesa do czarismo, da propriedade fundiária e da dominação do proprietário fundiário, o proletariado aproveitará, sem demora, não para ajudar o camponês próspero na luta contra os trabalhadores rurais, mas sim para executar a Revolução Socialista, em aliança com os proletários da Europa. »[10]

 

Entre fevereiro e outubro de 1917, Lenin, diante de um novo contexto histórico, pôde avançar em seu ponto de vista e aproximar-se à concepção de Trotsky acerca do caráter socialista da Revolução Russa.

Pela primeira vez, Lenin falou inequivocamente sobre a Revolução Socialista na Rússia, em suas cinco ”Cartas de Longe”, por ele enviadas à redação do “Pravda(A Verdade)”, de Petrogrado, órgão central dos bolcheviques, a partir da Suíça, pouco antes de seu regresso à Rússia[11].

 

Essa “mudança do fronte de luta” do dirigente do POSDR (Bolchevique) provocou, entre os bolcheviques, um pânico de não pequena dimensão.

Um deles era, outrora, secretário de redação do “Pravda(A Verdade)”.

Esse secretário leu com estranheza as “Cartas de Longe”, que chegaram às suas mãos, por intermédio da companheira Kollontai, através da Suécia, sendo que, a seguir, as enclausurou em sua mesa de redação.

Quando Lenin chegou em Petrogrado, no mês de abril, o secretário de redação em tela apanhou-as da gaveta de sua mesa e fez publicar a quarta dessas “Cartas de Longe” que propagandeava a consigna da Revolução Socialista, da maneira mais ampla e sem reservas.[12]

 

O nome desse secretário de redação não é hoje desconhecido : ele se chamava Iossif Vissarionovitch Djugaschivili, i.e. Stalin.

Nas disputas que se travaram no Comitê Central do Partido Bolchevique, às vésperas do 25 de Outubro (7 de novembro) de 1917, sobre a pertinência da Insurreição Armada, tendo, de um lado, Lenin e Trotsky, e, de outro, Zinoviev, Kamenev, Rykov e outros – as quais conduziram à demissão transitória desses últimos do Comitê Central – uma importância decisiva assumiu a questão relacionada com o caráter da revolução, i.e. com o saber se a classe trabalhadora russa encontrava-se capaz de, sob as condições dadas, conquistar o poder e consolidá-lo, no interesse do desenvolvimento, orientando rumo ao socialismo.[13] 

 

“Rochel von Gennevilliers.: Caberia a Wollenberg inclusive justamente acrescentar que, no ápice das disputas por ele referidas sobre a conveniência da Insurreição Armada, também Stalin apresentou ao Comitê Central Bolchevique sua demissão da Redação do Pravda (A Verdade), em 20 de outubro de 1917, como forma de protesto em face da rigorosa política de Lenin de promover a expulsão de Zinoviev e Kamenev do Partido Bolchevique, em vista de sua atitude de revelação pública “fura-greve” dos planos insurrecionais bolcheviques, nas colunas do jornal “Novaia Jizn’(Vida Nova).

No protocolo da reunião do Comitê Central Bolchevique, de 20 de outubro de 1917, presidida por Sverdlov, consta expressamente o seguinte :

Companheiro Stalin : Declara que se demite da redação (no original: Tov. Stalin : Zaiavliaiet, shto vykhodit iz redaktsii).

Deliberação : Em vista do fato de que a declaração do Companheiro Stalin é feita, no quadro do Nr. atual, em nome da redação, devendo ser apreciada pela redação, delibera-se que sua declaração não será apreciada e sua demissão não será acolhida, passando-se, agora, para o exame dos problemas imediatos (no original : Postanovlieno : Vvidu tovo, shto zaiavlienie tov. Stalin v sevodniashiem N° sdelano ot imieni redaktsii i doljno byt’ obssujdeno v redaktsii, resheno, ne obsujdaia zaiavlienia tov. Stalina i ne prinimaia evo otstavki, pereiti k otcherednym delam.”[14]

 

Com a Revolução de Outubro, com a tomada do poder pelos bolcheviques, a política-militar leninista ingressou em um novo estágio.

Agora, Lenin já não mais se posicionava como um revolucionário que perseguia a tarefa de derrubar as classes dominantes e o regime opressor de seu país, mas sim surgia, ele mesmo, na cumeeira de um poder de Estado que tinha de se defender contra os inimigos internos e externos, no quadro de guerras civis burguesas e intervencionistas, implacáveis e sangrentas.

Essa tarefa político-militar foi confiada pelo Governo Soviético, sob proposta de Lenin, a L. D. Trotsky, o qual de fevereiro de 1918 até a morte de Lenin, dirigiu as Forças Armadas Vermelhas (Exército Vermelho), na qualidade de Comissário do Povo para o Exército e a Marinha (Ministério da Guerra), influenciando decisivamente a política militar da União Soviética.

Uma abordagem dos fundamentos político-militares da União Soviética e de suas formas de organização, bem como das ações de guerra das Forças Armadas Vermelhas(Exército Vermelho), situa-se fora das tarefas que o editor e o lançador desse livro podiam colocar a si mesmos.

Por isso, a Revolução de Outubro constitui a conclusão dos escritos político-militares aqui apresentados.

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS

DEDICADOS À FORMAÇÃO

DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

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BREVES REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS DE

 

WOLLENBERG, ERICH 

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Erich Wolleberg nasceu em 1892, na Alemanha. Seu pai exerceu a profissão de médico.

Após concluir seus estudos secundários, decidiu-se também por estudar medicina.

Recrutado, porém, em 1914, para combater na I Guerra Mundial Imperialista, veio a alcançar o posto de tenente nas Forças Armadas do Império Alemão (Reichswehr) e foi ferido, por cinco vezes.

Em 1918, no encerramento dessa conflagração bélica mundial, ingressou nas fileiras do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) e defendeu posições manifestamente pacifistas.  

A seguir, participando da Revolução Democrático-Burguesa Alemã de Outubro de 1918, comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, na cidade de Könisberg.

Em abril de 1919, colocando-se em favor da defesa da Revolução Bávara, tornou-se um dos comandantes do Exército Vermelho do Norte da República Soviética da Baviera e atuou nas lutas travadas contra o Exército Branco, de Friedrich Noske e Gustav Noske.

Entre maio de 1919 e março de 1922, foi preso e foragiu-se, por diversas vezes.

No curso desses meses, enriqueceu sua prática revolucionária com a teoria marxista-revolucionária do socialismo científico.

Entre 1922 e 1923, atuou como jornalista em Könisberg, dedicando-se às tarefas de agitação política, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD), junto à juventude proletária, estivadores e ferroviários, pequenos camponeses e trabalhadores rurais dessa cidade, bem como ocupou-se com atividades propagandistas e organizativas entre as fileiras das Forças Armadas do Império Alemão (Reichswehr).

No fim de abril de 1923, transferiu-se de Könisberg para a região do Ruhr e realizou trabalho clandestino de agitação entre as tropas francesas e belgas, acionadas na Ocupação do Vale do Ruhr, na Alemanha.

Aqui, militou entre mineiros, metalúrgicos, jovens socialistas e comunistas, soldados franceses e belgas da ocupação, difundindo a linha política do jornal “Humanité du Soldat (A Humanidade do Soldado)”, editado pela secretária da Internacional Comunista da Juventude (III Internacional) e do Partido Comunista Francês (PCF).  

Durante o todo o verão de 1923, participou de manifestações revolucionárias internacionalistas de luta contra a ocupação franco-belga do Vale do Ruhr e o Governo Burguês Alemão, clamando por “Golpear Poincaré e Cuno, no Ruhr e na Spree !”

Foi um dos principais articuladores, em abril de 1923, da transformação da Greve Geral de Bochum, no Vale do Ruhr – na qual tomam parte cerca de 500.000 mineiros e metalúrgicos -, em insurreição armada proletária.  

A direção do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e Ruth Fischer – por entender se tratar essa insurreição de um ato inteiramente precipitado, ultra-esquerdista e provocativo, exigiu que Wollenberg contribuísse para o desarmamento dos trabalhadores revolucionários do Vale do Ruhr.

Em agosto de 1923, é nomeado pelo Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha (KPD), pela III Internacional e pelo Estado-Maior das Forças Armadas Vermelhas da URSS, dirigente supremo político-militar, responsável pela Alemanha do Sudoeste, sendo encarregado das operações de luta em Württemberg, Baden, Hessen e, em parte, na Baviera, objetivando à preparação de uma insurreição armada proletária ainda no curso do mesmo ano.

Frustada a insurreição em tela pela direção centrista-oportunista do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e Karl Radek ,  Wollenberg refugiou-se, em abril de 1924, na URSS, onde efetuou estudos militares junto à Escola Militar do Estado-Maior das Forças Armadas Vermelhas, em Moscou.

Entre 1924 e 1927, exerceu diversos postos de comando nas Forças Armadas Vermelhas, tanto no interior na URSS quanto no exterior.

Tendo capitulado à contra-revolução operário-burocrática stalinista, por intermédio de Bukharin, tornou-se, em 1928, especialista militar do Instituto Marx-Engels de Moscou, vindo a dirigir seu Gabinete Militar.

Ministrou aulas nos cursos militares em que lutadores alemães eram formados como especialistas em insurreições armadas proletárias.

Em fins dos anos 20, aderiu à Oposição Soviética de Direita, protagonizada por Bukharin, Rykov, Tomsky e outros.

Conseguindo regressar à Alemanha, foi dirigente, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD), da Liga dos Lutadores do Fronte Vermelho na Alemanha (Roter Frontkämpferbund), de abril de 1931 a dezembro de 1932, combatendo o ascenso nazista e permanecendo crítico, porém, em face da política stalinista de então, protagonizada por Ernst Thälmann e seus adeptos, consistente em contemplar a Social-Democracia Alemã enquanto expressão fática do social-fascismo e principal inimigo a ser derrotado.

A seguir, foi novamente encarcerado e, mais uma vez, liberado.

Opôs-se, então, ativamente à linha stalinista de aliança eleitoral, selada, no quadro do “Referendo Prussiano Vermelho de 21 de julho de 1931”, entre o Partido Comunista da Alemanha(KPD), o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), o Partido Nacional Alemão de Hugenberg (NDP) e os Capacetes de Aço de Hindenburg (Stahlhelm), com forma de derrubar o Governo de Frente-Popular, encabeçado pela Social-Democracia Alemã. 

Opôs-se resolutamente à política stalinista de realização de “greve comum”, encabeçada pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) em conjunto com o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), em novembro de 1932, contra a administração municipal social-democrática, na cidade de Berlim.

Depois da tomada do poder por Hitler na Alemanha, por criticar, desde uma perpectiva trotskysta, a direção stalinista burocrático-contra-revolucionária do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e do Komintern Stalinista, foi expulso dessas organizações, em 4 de abril de 1933, juntamente com Felix Wolf.

Aproximou-se do trotskysmo, em 1934.

Foragido na cidade de Praga, em julho de 1934, organiza um grupo de oposição trotskysta no interior do Partido Comunista da Tchecoslováquia (CKP). 

Durante o período da Grande Depuração Stalinista, foi intensamente perseguido pela NKVD (Polícia Secreta Stalinista), sob a acusação de liderar - juntamente com o revolucionário alemão Max Hoelz - o “centro terrorista-trotskysta contra-revolucionário”.

Emigrou, em agosto de 1938, para a França e colaborou, militarmente, com diversos grupos guerrilheiros anti-nazistas, até ser preso em 1940.

Tendo conseguido fugir do campo de concentração Le Vernet, por contar com o auxílio de alguns oficiais franceses, dirigiu-se para Casablanca e aí participou da Resistência de Marrocos.

Mesmo perseguido intensamente pelos serviços secretos stalinistas e nazistas, seu pedido de ingresso nos EUA como refugiado político é rejeitado pelo Consulado Norte-Americano, em outubro de 1941, a despeito de ter recebido, em janeiro do mesmo ano, 1.200 francos do Centro Americano de Recursos para poder organizar sua fuga em direção ao México.

Mais uma vez preso, foi libertado pelo desembarque aliado e veio a tornar-se, temporariamente, em 1946, correspondente de imprensa dos Estados-Unidos na Baviera para assuntos concernentes à desnazificação.

A seguir, passou a trabalhar como jornalista e autor independente.

Em 5 de abril de 1971, aos 79 anos, referindo-se à sua profissão de fé revolucionária, assinalou ter permanecido fiel à luta aberta contra o nazismo e o stalinismo, “contra Hitler e Stalin”, esses “dois irmãos hostis”, e em favor de um “socialismo com face humana” que, segundo o próprio Wollenberg, corresponderia às concepções de Marx, Engels, Rosa Luxemburg, Lenin e Bukharin[15].

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

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[1] Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolische Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente : Einteilung zu Teil II : Lenin (Introduçao à Parte II : Lenin), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, pp. 35 e s.

[2] Nesse passo, Wollenberg formula a seguinte nota, em seu artigo agora traduzido para o nosso idioma : “No II Congresso do Partido Operário Social-Democrático Russo (segundo sua designação em russo : RSDRP), congresso esse realizado em julho de 1903, inicialmente em Bruxelas e, posteriormente, em Londres, produziu-se uma cisão, em cujo contexto o grupo dirigido por Lenin logrou obter maioria. Desde então, os adeptos de Lenin passaram a chamar-se “bolcheviques”, i.e. adeptos da fração da maioria, enquanto que os da outra fração do POSDR passaram a ser chamados de “mencheviques”, i.e. adeptos da fração da minoria. Transitoriamente, processou-se, então, novamente, um estreito trabalho comum de ambas essas frações. Depois da derrota da Revolução Russa de 1905-1907,  teve lugar uma ruptura irreversível. Em 1912, na quadro de seu Congresso de Praga, os bolcheviques formaram um partido autônomo, que passou chamar-se POSDR (Bolchevique). Esse partido – tal como o POSDR (Menchevique) – pertenceu à II Internacional Socialista. Apenas depois da Revolução de Outubro, os bolcheviques assumiram o nome de “comunistas”, seguindo o exemplo de Marx e Engels. Assim, ocorre que Lenin, em seus escritos que vão até a Revolução de Outubro, denomina sempre a si mesmo e a seus adeptos de sociais-democratas. Cf. IDEM. Engels und Lenin. Militärpolische Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 75. 

[3] Acerca do tema, vide ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx‘ „Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850“(Introdução a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx)(14 de Fevereiro – 6 de Março de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 22, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 509 e s.

[4] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx‘ „Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850“(Introduçao a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx)(14 de Fevereiro – 6 de Março de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XXII, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 519 e s. Esse extrato do texto original de Engels de 1895 não se encontra, expressamente, inserido no artigo de Wollenberg ora traduzido. Resolvi incorporá-lo, portanto, aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e elucidação das posições de Engels acerca do tema, destacando, concomitantemente, a grave falsificação teórico-doutrinária da disciplina militar-proletária que adquiriu, à época, a rasura empreendida pela direção da Social-Democracia Alemã - encabeçada por Wilhelm Liebknecht, August Bebel, Eduard Bernstein et alii - ao último parágrafo de Engels, destacado, acima, em letras de destaque. A rasura em questão, efetuada na primeira edição de Introdução a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx”, organizada pela Social-Democracia Alemã, visava a desacreditar e desmoralizar, inteiramente, a perspectiva das lutas revolucionárias violentas do proletariado para a derrubada da burguesia. Tratou-se, pois, de uma verdadeira falsificação do marxismo revolucionário realizada, à época e posteriormente sempre repetida, pelos defensores da democratização do Estado, como forma de ascender pacificamente ao socialismo.      

[5] Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 75.  

[6] Nesse passo, Wollenberg assinala o seguinte em seu texto em destaque : “A família dos povos dos eslavos divide-se nos seguintes grupos linguísticos e populares : grão-russos, russos brancos e pequenos-russos. As capitais dos grão-russos foram Moscou, a seguir, Petersburgo, e, então, novamente, Moscou. Os grão-russos foram, sob o czarismo, a nação dominante, conformando cerca de 75% da população total, voltando a sê-lo sob o stalinismo. Minsk é a capital dos russos brancos, aos quais os poloneses se aproximam, quer em sentido linguístico, quer em sentido de composição popular. A velha capital dos pequenos-russos (também ucranianos) foi Kiev, sendo, a seguir, porém, transferida por Stalin para Tcharkov, cidade esta densamente povoada por grão-russos. Pertenciam às minoiras nacionais e às nações não-eslavas oprimidas pelos grão-russos, sob o czarismo, entre outras, as seguintes: os lituânos, os letões, os estonianos, os finlandeses, os georgianos, os tatáros, os guirguises, os armênios, os turquestões, diversas populações mongólicas, os alemães do Rio Volga etc. etc. “ Cf. IDEM. ibidem, especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 76. 

[7] A esse respeito, Wollenberg ainda acrescenta o seguinte esclarecimento : “Mujik : forma designação dos camponeses russos pobres, em contraste com os camponeses médios e, em particular, os kulaks, i.e. os camponeses ricos, junto aos quais, na maioria dos casos, encontrava-se o mujik endividado. Kulak significa, em russo, “punho”. O Kulak é, portanto, o duro punho pesado que sobrecarrega o mujik e estrangula-lhe o pescoço. Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 76.

[8] Nesse sentido, vide tb. IDEM. ibidem, especialmente : Die Militärpolitik des Stalinismus (A Política Militar do Stalinismo), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 60.

[9] Cf. TROTSKY. LÉON DAVIDOVITCH. Itogi i Perspektivy (Resultados e Perspectivas)(1906), Predislovie (Prefácio), Moscou: Gosud. Izdatel’stvo, 1919, pp. 3 e s. O presente extrato desse texto original de Trotsky não se encontra, expressamente, inserido no artigo de Wollenberg ora traduzido. Resolvi incorporá-lo, portanto, aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e elucidação das concepções de Trotsky relativamente ao desenvolvimento dos processos revolucionários na Rússia.    

[10] Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH. O Dvukh Liniakh Revoliutsii(Acerca de Duas Linhas da Revolução)(20.11.1915), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 27, pp. 76 e s. A presente citação e extrato do texto original de Lenin não se encontra, expressamente, inserido no artigo de Wollenberg ora traduzido. Resolvi incorporá-lo, portanto, aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e elucidação das concepções de Lenin e de Trotsky relativamente ao desenvolvimento dos processos revolucionários na Rússia. Acerca do tema, vide, além disso, SCHIMIDT VON KÖLN, PORTAU. A Enfermidade Gramsciana no Movimento Trotsksyta Contemporâneo e nas Lutas de Emancipação do Proletariado. Polêmica Trotsky e Gramsci : Gramsci e Trotsky. O SU- QI e a Corrente Franco-Gramsciana de Atualização, Correção e Superação do Marxismo (O Meta-Marxismo de Actuel Marx), especialmente Cap. II.A.2: Conquista da Hegemonia do Proletariado na Perspectiva do Idealismo Gramsciano para a Colaboração de Classes e a Capitulação diante do Estado Burguês, Moscou-Buenos Aires-São Paulo-Paris : Editora da Escola de Agitadores e Instrutores “UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA Sverdlov”, 11.2000 – 10-2002, in: http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIIA2.htm

[11] Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH. Pis’ma iz Dalieka (Cartas de Longe)(07.03 a 26.03.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 23, 34, 48 e s. Em virtude da nova elaboração tática  de Lenin opor-se abertamente à orientação defendida pela maioria de seu próprio partido, composta, em março de 1917, por bolcheviques frente-populistas, irrestritos e condicionados, bem como etapistas-defensistas da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista e apoiadores da mais indistinta unificação dos adeptos de todos os gêneros da Social-Democracia Russa (Stalin, Kamenev, Muranov, Rykov, Noguin e seus seguidores), apenas a primeira das cartas de Lênin foi publicada no “Pravda (A Verdade)”, em 21 e 22 de março, ainda assim com diversas censuras. Por iniciativa desses bolcheviques, todas as demais cartas de Lênin não vieram a ser publicadas em 1917.  Surgiriam apenas em 1924, ao passo que a redação integral de sua primeira carta viria a ser conhecida tão somente em 1949. Acerca do tema, vide SCHIMIDT VON KÖLN, PORTAU. Lenin e a Revolução Russa de Outubro de 1917,  especialmente III.Tática Revolucionária do Proletariado para a Tomada do Poder na Rússia de 1917, Moscou-São Paulo-Munique-Paris : Editora da Escola de Agitadores e Instrutores “UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA Sverdlov”, 10.2004, in: http://www.scientific-socialism.de/LeninRev.htm

[12] Acerca de Kollontai, Wollenberg assinala : “Kollontai foi uma bolchevique da velha guarda, amiga de Lenin e de Trotsky, que se tornou literariamente renomada através de seu romance “Os Caminhos do Amor”. Depois de ter sido afastada de todas suas funções partidárias, por haver pertencido à Oposição Operária, Kollontai exerceu, durante muitos anos, o cargo de Embaixadora Soviética, de início, no México, depois na Suécia. Há pouco tempo, faleceu na Uniao Soviética. Ao lado de Stalin, Kollontai foi o único membro do Comitê Central da época da Revolução de Outubro que Stalin nao mandou fuzilar, durante os anos da “Depuração Stalinista”, de 1936 a 1939.” Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 79.  

[13] Nesse sentido, vide, IDEM, ibidem, especialmente : Die Militärpolitik des Stalinismus (A Política Militar do Stalinismo), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 63.               

[14] Cf. VELIKAIA OKTIABR’SKAIA SOTSIALISTITCHESKAIA REVOLIUTSIA. OKTRIABR’SKOE VOORUJENNOE VOSSTANIE V PETROGRADE (Grande Revolução Socialista de Outubro. A Insurreição Armada de Outubro em Petrogrado), especialmente Protocolo da Reunião do Comitê Central do POSDR (b) sobre o Exame da Declaração Fura-Greve de Kamenev e Zinoviev, Publicada no JornalNovaia Jizn (Vida Nova)””, Moscou : G. N. Golikov, 1957, p. 65.; tb. PROTOKOLY TSENTRAL’NOVO KOMITETA RSDRP(b) : AVGUST 1917 – FEVRAL’ 1918 (Protocolos do Comitê Central do POSDR (b) : Agosto de 1917 a Fevereiro de 1918), Moscou : M. D. Stutchebnikov et al., 1958, pp. 106 e s.

[15] Acerca do tema, vide p.ex. WOLLENBERG, ERICH. Sinn und Zielrichtung meines Lebens (Sentido e Direção Finalística da Minha Vida), in : Schwarze Protokolle (Protocolos Negros), Nr. 6, Hamburg, 04.1971, pp. 3 e s.