ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :

A ARTE PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

 

Considerações sobre o Surgimento do Livro

“A Insurreição Armada : Tentativa de uma

Apresentação Teórica”

 

ERICH WOLLENBERG[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers

Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de

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No inicío de 1928, Ossip Piatnitsky, secretário de organização do Komintern,  convocou-me para comparecer em seu gabinete[2].

 

Naquela época, eu era um trabalhador científico do Instituto Marx-Engels de Moscou, sendo que dirigia seu Setor Militar e ministrava aulas nas escolas militares em que comunistas alemães eram formados como especialistas de insurreições[3].  

 

Na conversação que entretivemos, tomaram parte, além de Piatnitsky, o General de Exército Unschlicht - segundo representante do Comissariado do Povo para a Defesa e coordenador das ligações mantidas entre o Estado-Maior Geral das Forças Armadas Vermelhas e o Komintern - , bem como “Ercoli”, i.e. Palmiro Togliatti, dirigente do Agitprop (Divisão de Agitação e Propaganda) do Komintern, e dois ou três altos oficiais soviéticos que, tal como eu, ensinavam nas escolas militares para comunistas alemães[4].

 

Além desses, participaram ainda, nessa ocasião, alguns trabalhadores do Komintern.

Piatnitsky esclareceu-nos o objetivo de nossa conversação.

O livro publicado ilegalmente na Alemanha, intitulado Alfred Langer, O Caminho da Vitória. A Arte da Insurreição Armada, constituiria, segundo ele, um manual extraordinário para a formação de quadros, segundo a maneira marxista-leninista.

O livro em tela havia sido publicado, de maneira clandestina, pela primeira vez, na Alemanha, em 1928, sendo editado pela segunda vez em 1931.

Foi, em verdade, o trabalho de uma equipe de especialistas militares comunistas alemães, realizado em Moscou, sob a direção de Alfred- epíteto de Ture Lehen, militar finlandês, a seguir, oficial das Forças Armadas Vermelhas.

Alfred havia sido enviado a Piatnitsky, no Komintern, a partir das fileiras do Exército Vermelho.

De início, todos os nomes dos colaboradores na redação desse livro - também o epíteto “Walter” (RvG.: nome de guerra de Erich Wollenberg) deveriam ser nomeados na capa.

Tendo em conta, porém, que, para um escrito relativamente pequeno, surgiria um nome terrivelmente extenso, acordamos, então, na utilização do nome “Alfred Langer”.       

Segundo Piatnitsky, uma nova edição mais aprimorada e completada haveria de ser, agora, preparada.

Além disso, haveria chegado o momento de publicar um livro popular sobre a Insurreição Armada, destinado a atingir as mais largas camadas de comunistas e simpatizantes.

Para tanto, demonstrar-se-ia como apropriado o material de ensino elaborado pelo Estado-Maior das Forças Armadas Vermelhas para as escolas militares de comunistas alemães.

Os diversos capítulos do novo livro deveriam ser entregues pelo Estado-Maior em refererência ao companheiro Ercoli (Togliatti) que se responsabilizaria pela composição e pela rápida publicação do material.

O novo livro deveria chamar-se “A Insurreição Armada”, também com vistas a diferenciar-se do “Livro-Langer”.

Para impedir a suspeita de intromissão da União Soviética nas matérias internas dos outros países, dever-se-ia renunciar às importantes experiências das insurreições armadas de 1919, na Hungria e na Baviera que conduziram à formação de forças armadas vermelhas e à tomada do poder pelo proletariado.

Tratava-se aqui seja do livro de um comunista húngaro - cujo nome, no momento, não me recordo – seja do meu livro, lançado pela Editora Militar Estatal, em 1928 - 2a. Ed. 1931 -, intitulado ”Boí Bavarskoi Krasnoi Armii (As Lutas do Exército Vermelho Bávaro)”.      

O novo livro haveria de ter também o nome de um “autor”, naturalmente nenhum nome em russo ou de um quadro comunista qualquer.

Na medida em que deveria ser publicado, em primeira linha, em língua alemã e surgir como um novo livro sobre a insurreição armada, escolhemos o nome Neuberg, colocando ainda um “A.” diante do nome de família.

Um “B.” teria prestado o mesmo serviço.

Pode parecer surpreendente que um livro comunista ilegal tenha de possuir um “nome de autor” e, além disso, o de uma “editora”.

Na edição alemã, que porta adicionalmente o título : Tentativa de uma Apresentação Teórica”, surge ainda a seguinte indicação : 1928. Impressão e Editora Otto Meyer, Zurique”.

Essas referências possibilitam ao companheiro, junto ao qual for encontrado esse “Livro de Alta Traição”, destacar que o teria comprado em uma assembléia ou manifestação pública de um livreiro desconhecido, com a boa fé de que se tratava de uma publicação legal.

Nessa introdução ao “Livro-Neuberg”, coloquei-me a seguinte tarefa :

 

1.       demonstrar os contextos políticos que conduziram às diferentes insurreições ;

 

2.       desmarcarar certas manipulações que, “no interesse do Estado Soviético, do Komintern e dos respectivos núcleos dirigentes de determinados Partidos Comunistas”, foram efetuadas na descrição dos eventos revolucionários.

 

Além disso, designei com nomes, por mim conhecidos, os autores individuais dos diversos capítulos.

Os dois primeiros capítulos, intitulados A II Internacional e a Insurreição e o Bolchevismo e a Insurreição foram redigidos por Ossip Piatnitsky.

Nada acrescentei às exposições desse bolchevique da velha guarda que já militava em prol da revolução, há vários anos antes da eclosão da I Guerra Mundial.

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS

DEDICADOS À FORMAÇÃO

DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

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BREVES REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS DE

 

PIATNITSKY, OSSIP ARONOVITCH  

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Ossip A. Piatnitsky foi o pseudônimo partidário de Iossif Aronovitch Tarschisse que utilizou ainda os pseudônimos “Freitag” e “Mikhail Sonntag”.

Piatnitsky nasceu em 1882, na cidade de Villekomire, região de Kovno, na Lituânia Czarista, no seio de uma família hebraico-operária.

Em 1895, por ocasião da morte de seu pai, Piatnitsky abandonou a escola e tornou-se aprendiz de alfaite. Trabalhou, inicialmente, então, como alfaite e eletricista, em Kovno e Vilno, entre 1897 e 1902.

Ingressou nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), por ocasião de sua fundação, em 1898.

Em 1901, tornou-se propagandista do jornal “Iskra (A Centelha)”, dirigido por V. I. Lenin. Preso, em 1902, conseguiu fugir da Prisão de Kiev logo a seguir, dirigindo-se, então, para a Alemanha.

Acerca desse episódio, Léon Trotsky fez questão de destacar, nitidamente:

 

“Piatnitsky relatou como, depois de sua prisão em Vilno, em 1902, a polícia propôs que fosse ele - então um trabalhador ainda inteiramente jovem – enviado para a sede da Polícia Distrital, renomada por seus espancamentos, a fim de o forçarem a prestar testemunho.

Porém, o policial mais velho respondeu :

«Também lá, ele não dirá absolutamente nada. Ele pertence à organização do Iskra».”[5]

 

 

Depois do II Congresso do POSDR de 1903, Piatnitsky aderiu ao bolchevismo e retornou à Rússia, em 1905, tornando-se um dos organizadores das lutas insurrecionais de Odessa e membro do Comitê do POSDR dessa cidade.

Foi novamente preso em 1906.

Depois de sua libertação, dirigiu-se para Moscou. Tornou-se, então, nessa cidade um dos organizadores do trabalho clandestino dos bolcheviques.

Novamente preso, em janeiro de 1908, conseguiu emigrar, após sua libertação, ocorrida no final desse mesmo ano, para Geneva e, depois, para Leipzig.

Tornou-se, então, um dos principais organizadores no exterior da difusão das publicações bolcheviques na Rússia.

Piatnitsky interviu como delegado, na VI Conferência do POSDR (Bolchevique), ocorrida em Praga, em janeiro de 1912, a qual consagrou a ruptura dos bolcheviques com o menchevismo-liquidacionista, extinguindo o sistema de frações públicas, até então existente no interior desse Partido.

No outono de 1912, regressou à Rússia e passou a trabalhar como eletricista, impulsionando, concomitantemente, a organização do trabalho clandestino bolchevique, nas cidades de Volsk e em Samara, situadas na região do Volga.

Preso em junho de 1914, foi exilado na Sibéria, onde permaneceu de março de 1915 a março de 1917.

Depois da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, Piatnisky regressou à Moscou, onde tornou-se membro do Comitê Municipal do POSDR (Bolchevique) e de seu Comitê Executivo.

Participou ativamente da Insurreição Socialista de Outubro, na cidade de Moscou.

A seguir, tornou-se renomado dirigente do movimento sindical russo e foi eleito suplente do Comitê Central do PCR (Bolchevique), em 1920 e 1921.

Tornou-se quadro profissional do Partido Comunista da Rússia (Bolchevique) e da Internacional Comunista (Komintern), já no início de 1921.

A partir de 1921, tornou-se representante do Departamento de Relações Internacionais do Komintern (OMS), sendo o principal encarregado pela criação de centros clandestinos em diversos países, estruturação do transporte ilegal de quadros e militantes do Komintern e supervisão da produção de falsos documentos e publicações.

Aderindo ao stalinismo burocrático-soviético contra-revolucionário, tornou-se membro do Comitê Executivo Central do PCR (Bolchevique), entre 1924 e 1937.

Na Internacional Comunista (Komintern), Piatnitsky exerceu o cargo de responsável pelas finanças, entre 1921 e 1935, bem como o de Secretário do Comitê Executivo Internacional, entre 1922 e 1935.

Nessa condição, foi o organizador direto, a partir de 1924, da stalinização do Partido Comunista Alemão (PCA) e de tantos outros.

Foi membro do Comitê Executivo do Komintern, entre 1924 e 1935, membro de seu Secretariado Político, entre 1926 e 1935, e integrou a sua Presidência, entre 1928 e 1935.

Piatnitsky foi o principal organizador da obra A. Neuberg “A Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica”, surgida, pela primeira vez, em 1928 e, efetivamente, dedicada à difusão da ideologia stalinista do Terceiro Período, em todo mundo.

Foi executado, em 1938, sob as acusações de “inimigo do povo” e “sabotador terrorista trotskysta”, no quadro brutalmente contra-revolucionário da assim chamada Depuração Stalinista” – dirigida por Stalin e seus prosélitos – a qual exterminou massivamente com a vida de milhares de revolucionários bolcheviques, companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky durante as jornadas da Revolução Proletária Socialista-Internacionalista de Outubro e da subseqüente Guerra Civil Russa contra o Capital, o Latifúndio e o Imperialismo Intervencionista.   

Trotsky assinalou o seguinte acerca das atividades revolucionárias de Piatnitsky, precisamente anos antes da eliminação desse último pelas forças contra-revolucionárias do stalinismo :

 

“Em suas memórias, formuladas cuidadosamente e, em geral,  de modo inteiramente consciencioso, as quais abarcam o período de 1896 a 1917, Piatnitsky - que esteve ininterruptamente em contato com a inteira história do Partido, tanto com o seu corpo de comando estrangeiro quanto com a sua representação ilegal na Rússia, tanto com os literatos quanto com os transportadores clandestinos – fala sobre todos os bolcheviques proeminentes, porém jamais menciona o nome de Stalin : esse nome não é nem sequer incluído no índice do final do livro.

Esse fato merece a maior atenção, porque Piatnitsky estava longe de ser hostil a Stalin.

Pelo contrário, permanece, até o presente momento, no segundo escalão que o rodeia.”[6]

 

 

UNSCHLICHT, IOSSIF STANISLAVOVITCH  

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Iossif Stanislavovitch Unschlicht foi um bolchevique da velha guarda e revolucionário profissional.

Nasceu em 1879, na cidada de Mlava, na Polônia, e ingressou nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo(POSDR), em 1900.

Em virtude de suas atividades revolucionárias, sofreu inúmeras prisões e foi por três vezes desterrado.

Unschlicht gozou de grande popularidade entre os trabalhadores de Varsóvia, Lodzi e outras cidades da Polônia.

Em 1914, ao eclodir a I Guerra Mundial Imperialista, foi detido em Moscou.

Em 1916, o Tribunal de Alçada dessa cidade condenou-o ao exílio, em um assentamento na aldeia de Tutur, na Província de Irkutsk.

Poucas semanas antes da vitória da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, fugiu de seu cativeiro, em Tutur.

Permaneceu, a seguir, em ativo contato com militantes bolcheviques locais dessa região. Depois da derrubada da autocracia czarista, em fevereiro de 1917, tornou-se membro do Comitê Executivo de Irkutsk.

Em abril do mesmo ano, chegou a Petrogrado, onde foi eleito membro do Soviete de Deputados Trabalhadores e Soldados dessa cidade.

Nos Dias de Julho, foi preso pelo Governo Provisório Frente-Populista e encarcerado em penitenciária.

Depois de sua libertação, participou da preparação da Insurreição Socialista de Petrogrado.

No quadro da Revolução Proletária de Outubro, Unschlicht tornou-se membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado – presidido por Pavel Lazimir –, órgão militar esse siituado sob a presidência geral do Soviete Petrogrado, exercida por Léon D. Trotsky.

Nos primeiros meses de 1918, ocupou-se com a organização da defesa da cidade de Pskov, assediada pelas forças militares do imperialismo alemão.

A seguir, tornou-se membro do Comissariado do Povo para Assuntos Internos.

No final de 1918, comandou atividades de luta deflagradas contra a ocupação das tropas alemães na cidade de Minsk, na Belorússia.

Aqui, foi eleito membro do Comitê Central do Partido Comunista da Lituânia e da Belorússia (PCLB) e assumiu o posto de Comissário do Povo para Assuntos de Guerra da então emergente República Soviética Belorussa-Lituana.

Em 27 de abril de 1919, Unschlicht foi nomeado membro do Conselho Militar-Revolucionário do 16° Exército e, em dezembro, membro do Conselho Militar-Revolucionário do Fronte Ocidental.

Em abril de 1921, tornou-se Vice-Presidente da Polícia Política Soviética (Tcheka - Comissão Extraordinária), posto que ocupou até o outono de 1923.

Depois disso, foi nomeado membro do Conselho Supremo Militar Revolucionário da URSS.

Tendo aderido ao stalinismo burocrático-soviético contra-revolucionário, em 1924, empreendeu, juntamente, com Mikhail Frunze – esse último adepto de Zinoviev e Kamenev e sustentador de sua política de Troika, mantida com Stalin - medidas de reforma do sistema militar.

Em sua implacável luta contra o burocratismo soviético-stalinista que penetrava no interior do Comissariado do Povo para a Guerra, Léon Trotsky referiu-se a Unschlicht, da seguinte maneira :

 

“O primeiro golpe no Departamento da Guerra foi desferido contra Sklyansky.

Foi ele que sobretudo teve de suportar a vingança de Stalin por seus próprios revéses em Tsaritsyn, seu fracasso no Fronte do Sudeste e sua aventura em Lvov.

A intriga soerguia para o alto a cabeça da serpente.

Visando a minar as posições havidas sob Sklyansky – e, no futuro, as minhas próprias – foi instalado diante dele, no Departamento da Guerra, pouco meses antes, Unschlicht, um intrigante ambicioso e deprovido de talento.

Sklyansky foi demitido.

Em seu lugar, foi nomeado Frunze, que se encontrava no comando dos exércitos da Ucrânia.”[7]

 

 

Em janeiro de 1925, por ocasião da nomeação de Frunze como Comissário do Povo para a Guerra – em substituição a Léon Trotsky – e Presidente do Conselho Militar-Revolucionário da URSS, Unschlicht foi indicado para assumir o cargo de Vice-Presidente desses órgãos de direção militar do Estado Soviético, em processo de crescente e irreversível burocratização.

Nesse posto, permaneceu até junho de 1930.

A seguir, alcançou a patente de General do Exército Vermelho e tornou-se coordenador da conexão mantida entre o Estado-Maior Geral desse exército e a Internacional Comunista (Komintern).

Após a morte de Felix Dzerjinky, ocorrida em 1926, foi nomeado, além disso, chefe da Polícia Política Soviética (Tcheca).

Por fim, sob as traiçoeiras acusações de “inimigo do povo” e “sabotador terrorista trotskysta”, formuladas por Stalin e seus asseclas, foi liquidado, em lugar e circunstâncias inteiramente desconhecidas, durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936 a 1938, que aniquilou massivamente a vida de milhares de revolucionários bolcheviques, antigos companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky.

 

WOLLENBERG, ERICH 

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Erich Wolleberg nasceu em 1892, na Alemanha. Seu pai exerceu a profissão de médico.

Após concluir seus estudos secundários, decidiu-se também por estudar medicina.

Recrutado, porém, em 1914, para combater na I Guerra Mundial Imperialista, veio a alcançar o posto de tenente nas Forças Armadas do Império Alemão (Reichswehr) e foi ferido, por cinco vezes.

Em 1918, no encerramento dessa conflagração bélica mundial, ingressou nas fileiras do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) e defendeu posições manifestamente pacifistas.  

A seguir, participando da Revolução Democrático-Burguesa Alemã de Outubro de 1918, comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, na cidade de Könisberg.

Em abril de 1919, colocando-se em favor da defesa da Revolução Bávara, tornou-se um dos comandantes do Exército Vermelho do Norte da República Soviética da Baviera e atuou nas lutas travadas contra o Exército Branco, de Friedrich Noske e Gustav Noske.

Entre maio de 1919 e março de 1922, foi preso e foragiu-se, por diversas vezes.

No curso desses meses, enriqueceu sua prática revolucionária com a teoria marxista-revolucionária do socialismo científico.

Entre 1922 e 1923, atuou como jornalista em Könisberg, dedicando-se às tarefas de agitação política, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD), junto à juventude proletária, estivadores e ferroviários, pequenos camponeses e trabalhadores rurais dessa cidade, bem como ocupou-se com atividades propagandistas e organizativas entre as fileiras das Forças Armadas do Império Alemão (Reichswehr).

No fim de abril de 1923, transferiu-se de Könisberg para a região do Ruhr e realizou trabalho clandestino de agitação entre as tropas francesas e belgas, acionadas na Ocupação do Vale do Ruhr, na Alemanha.

Aqui, militou entre mineiros, metalúrgicos, jovens socialistas e comunistas, soldados franceses e belgas da ocupação, difundindo a linha política do jornal “Humanité du Soldat (A Humanidade do Soldado)”, editado pela secretária da Internacional Comunista da Juventude (III Internacional) e do Partido Comunista Francês (PCF).  

Durante o todo o verão de 1923, participou de manifestações revolucionárias internacionalistas de luta contra a ocupação franco-belga do Vale do Ruhr e o Governo Burguês Alemão, clamando por “Golpear Poincaré e Cuno, no Ruhr e na Spree !”

Foi um dos principais articuladores, em abril de 1923, da transformação da Greve Geral de Bochum, no Vale do Ruhr – na qual tomam parte cerca de 500.000 mineiros e metalúrgicos -, em insurreição armada proletária.  

A direção do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e Ruth Fischer – por entender se tratar essa insurreição de um ato inteiramente precipitado, ultra-esquerdista e provocativo, exigiu que Wollenberg contribuísse para o desarmamento dos trabalhadores revolucionários do Vale do Ruhr.

Em agosto de 1923, é nomeado pelo Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha (KPD), pela III Internacional e pelo Estado-Maior das Forças Armadas Vermelhas da URSS, dirigente supremo político-militar, responsável pela Alemanha do Sudoeste, sendo encarregado das operações de luta em Württemberg, Baden, Hessen e, em parte, na Baviera, objetivando à preparação de uma insurreição armada proletária ainda no curso do mesmo ano.

Frustada a insurreição em tela pela direção centrista-oportunista do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e Karl Radek ,  Wollenberg refugiou-se, em abril de 1924, na URSS, onde efetuou estudos militares junto à Escola Militar do Estado-Maior das Forças Armadas Vermelhas, em Moscou.

Entre 1924 e 1927, exerceu diversos postos de comando nas Forças Armadas Vermelhas, tanto no interior na URSS quanto no exterior.

Tendo capitulado à contra-revolução operário-burocrática stalinista, por intermédio de Bukharin, tornou-se, em 1928, especialista militar do Instituto Marx-Engels de Moscou, vindo a dirigir seu Gabinete Militar.

Ministrou aulas nos cursos militares em que lutadores alemães eram formados como especialistas em insurreições armadas proletárias.

Em fins dos anos 20, aderiu à Oposição Soviética de Direita, protagonizada por Bukharin, Rykov, Tomsky e outros.

Conseguindo regressar à Alemanha, foi dirigente, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD), da Liga dos Lutadores do Fronte Vermelho na Alemanha (Roter Frontkämpferbund), de abril de 1931 a dezembro de 1932, combatendo o ascenso nazista e permanecendo crítico, porém, em face da política stalinista de então, protagonizada por Ernst Thälmann e seus adeptos, consistente em contemplar a Social-Democracia Alemã enquanto expressão fática do social-fascismo e principal inimigo a ser derrotado.

A seguir, foi novamente encarcerado e, mais uma vez, liberado.

Opôs-se, então, ativamente à linha stalinista de aliança eleitoral, selada, no quadro do “Referendo Prussiano Vermelho de 21 de julho de 1931”, entre o Partido Comunista da Alemanha(KPD), o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), o Partido Nacional Alemão de Hugenberg (NDP) e os Capacetes de Aço de Hindenburg (Stahlhelm), com forma de derrubar o Governo de Frente-Popular, encabeçado pela Social-Democracia Alemã. 

Opôs-se resolutamente à política stalinista de realização de “greve comum”, encabeçada pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) em conjunto com o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), em novembro de 1932, contra a administração municipal social-democrática, na cidade de Berlim.

Depois da tomada do poder por Hitler na Alemanha, por criticar, desde uma perpectiva trotskysta, a direção stalinista burocrático-contra-revolucionária do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e do Komintern Stalinista, foi expulso dessas organizações, em 4 de abril de 1933, juntamente com Felix Wolf.

Aproximou-se do trotskysmo, em 1934.

Foragido na cidade de Praga, em julho de 1934, organiza um grupo de oposição trotskysta no interior do Partido Comunista da Tchecoslováquia (CKP). 

Durante o período da Grande Depuração Stalinista, foi intensamente perseguido pela NKVD (Polícia Secreta Stalinista), sob a acusação de liderar - juntamente com o revolucionário alemão Max Hoelz - o “centro terrorista-trotskysta contra-revolucionário”.

Emigrou, em agosto de 1938, para a França e colaborou, militarmente, com diversos grupos guerrilheiros anti-nazistas, até ser preso em 1940.

Tendo conseguido fugir do campo de concentração Le Vernet, por contar com o auxílio de alguns oficiais franceses, dirigiu-se para Casablanca e aí participou da Resistência de Marrocos.

Mesmo perseguido intensamente pelos serviços secretos stalinistas e nazistas, seu pedido de ingresso nos EUA como refugiado político é rejeitado pelo Consulado Norte-Americano, em outubro de 1941, a despeito de ter recebido, em janeiro do mesmo ano, 1.200 francos do Centro Americano de Recursos para poder organizar sua fuga em direção ao México.

Mais uma vez preso, foi libertado pelo desembarque aliado e veio a tornar-se, temporariamente, em 1946, correspondente de imprensa dos Estados-Unidos na Baviera para assuntos concernentes à desnazificação.

A seguir, passou a trabalhar como jornalista e autor independente.

Em 5 de abril de 1971, aos 79 anos, referindo-se à sua profissão de fé revolucionária, assinalou ter permanecido fiel à luta aberta contra o nazismo e o stalinismo, “contra Hitler e Stalin”, esses “dois irmãos hostis”, e em favor de um “socialismo com face humana” que, segundo o próprio Wollenberg, corresponderia às concepções de Marx, Engels, Rosa Luxemburg, Lenin e Bukharin”[8].

 

 

 

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[1] O presente texto em língua portuguesa foi traduzido do idioma alemão conforme NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung (A Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Eingeleitet von Erich Wollenberg (Introduzido por Erich Wollenberg), Frankfurt a.M. : Europäische Verlanganstalt, 1971, pp. III e s.

[2] Assinale-se, de passagem, que Ossip A. Piatnitsky foi liquidado, então, em 1938, por Stalin e seus asseclas, no quadro brutalmente contra-revolucionário de sua assim chamada Depuração Stalinista” que exterminou massivamente com a vida de milhares de revolucionários bolcheviques – acusados de “inimigos do povo”, “sabotadores terroristas trotskystas”, “espiões nazistas” “dissidentes desorganizadores” etc. - , em verdade, porém, companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky durante as jornadas da Revolução Proletária Socialista-Internacionalista de Outubro e da subseqüente Guerra Civil Russa contra o Capital, o Latifúndio e o Imperialismo Intervencionista.   

[3] O historiador Hermann Weber refere-se, por diversas vezes, a Wollenberg ao tratar de questões relativas à preparação e execução de insurreições. Nesse sentido, vide WEBER, HERMANN, Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburg a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hanover, 1961, pp. 28 e s. Acerca de Erich Wollenberg, Pierre Broué escreveu: „Erich Wolleberg. Nascido em 1892. Filho de médico. Estudante de medicina. Recrutado em 1914 : tenente, por cinco vezes ferido. No Partido Social-Democrático Alemão Independente(USPD), em 1918. Comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, em Könisberg. Um dos comandantes do Exército Vermelho da Baviera, em 1919. Preso e foragido, por diversas vezes. Transferido de Könisberg para o Ruhr, em 1923. Responsável político-militar do sudoeste, no verão de 1923. (Estudos militares em Moscou. Exerceu diversos comandos no Exército Vermelho, até 1927. De novo na URSS, lecionou a partir de 1928. Chefe clandestino dos combatentes do Fronte Vermelho na Alemanha, em 1931. Novamente preso. Critíca a direção: excluído, em 1933, com Felix Wolf. Emigra para a França, em 1934. Colabora com diversos grupos anti-nazistas. Preso em 1940. Foragido, participa na Resistência de Marrocos. Preso e libertado pelo desembarque aliado. Funcionário de imprensa dos Estados-Unidos na Baviera, em 1946. Jornalista independente.).” Cf. BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne. 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, p. 935. Cumpre, porém, destacar que, ao longo de sua obra retro-mencionada, Broué refere-se muito escassamente a Erich Wollenberg. À página 661, Broué assinala, porém : “Ruth Fischer escreve que, no dia posterior à aparição dessa manchete no “Die Rote Fahne”(i.e. em a “Bandeira Vermelha”, órgão jornalístico do Partido Comunista Alemão <KPD>)(obs.: Broué refere-se aqui à manchete da edição de 23 de fevereiro de 1923, consistente em “Golpear Poincaré e Cuno no Ruhr e na Spree !”), Radek afastou os dois jornalistas por ela responsáveis, dentre os quais Gerhard Eisler, e levou a que fosse retomado o título com a seguinte modificação “Contra Cuno na Spree e no Ruhr contra Poincaré”. Em nenhum número do “Die Rote Fahne” encontramos uma tal manchete. Além disso, Ruth Fischer diz sobre a manchete que ela rimava e era apresentada em duas linhas : “Contra Cuno e Poincaré no Ruhr e na Spree”, o que não é o caso. Em sua entrevista sobre o ano de 1923, Erich Wollenberg transmitiu à Buchot praticamente a mesma referência, porém substituindo o nome de Radek pelo de Thälmann, apresentando este como membro do Bureau Político, enquanto que Thälmann não deve ter entrado na direção central senão três meses depois(p. 661).” Referindo-se à preparação da Insurreição Alemã de Outubro de 1923, Broué funda sua narrativa histórica na obra de BAJANOV, B. Avec Staline dans le Kremlin(Com Stalin no Kremlin), Paris, 1930, pp. 190 e s., e, muito mais amplamente, na de WENZEL, OTTO. Die Kommunistische Partei Deutschlands im Jahre 1923(O Partido Comunista da Alemanha no Ano de 1923), Tese, Universidade Livre de Berlim, 1955, pp. 193 e s. Quanto a Otto Wenzel, Broué assinala que esse historiador teria “seguido bastante de perto as informações fornecidas por Erich Wollenberg(p. 720)”. Páginas a seguir, Broué, apoiando-se repetidamente nas indicações prestadas por Wollenberg, assinala : “Freqüentemente, tem-se exagerado o número de oficiais e técnicos russos enviados para a Alemanha, a fim de dinamizar a insurreição projetada: Wilhelm Zaisser, passado para o lado dos partisãos ucranianos em 1918, um dos dirigentes dos combates do Ruhr de 1919 e 1920(na Espanha, ele será o General Gomez), Albert Schreiner, conhecido sob o nome de Baumann(na Espanha, ele será o Major Schindler), Hans Kahle(na Espanha, ele será o Coronel Hans), Erich Wollenberg, combatente da velha guarda do Exército Vermelho da Baviera, Artur Illner, Albert Gromulat, o jovem Hans Kippenberger, tenente da reserva - um dos mais devotados e mais intrépidos responsáveis do aparelho clandestino do PCA(KPD) -, os antigos oficiais e suboficiais Karl Frank, Christian Heuck, Stefan Heymann, dito Dietrich, Lengnink, Merker, Strötzel, o velho major do antigo Exército Imperial Hans von Hentig.(p. 731)” Cf. BROUÉ, PIERRE. ibidem, pp. retro-mencionadas.

[4] Observe-se, por oportuno, que Iossif S. Unschlicht, revolucionário bolchevique, de origem polonesa, um dos mais destacados quadros militares da Revolução de Outubro de 1917 e da Guerra Civil Russa, aderiu abertamente ao stalinismo burocrático-operário contra-revolucionário, após a morte de Lenin. Tornou-se, em 1926, chefe da Tcheka e do serviço secreto do Komintern, tendo sido igualmente liquidado durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936 a 1938.

[5] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (1941), Vol. I, Capítulo : Period Reaktsy (O Período da Reação), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 171. 

[6] Cf. IDEM. Stalin (1941), Livro I, Capítulo : Voina i Ssylka (Guerra e Exílio), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 253.        

[7] Cf. IDEM. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Tentativa de Auto-Biografia), Cap. XLI : A Morte de Lenin e o Deslocamento do Poder, Berlim : Granit, 1930, pp. 253 e 254.

[8] Acerca do tema, vide p.ex. WOLLENBERG, ERICH. Sinn und Zielrichtung meines Lebens (Sentido e Direção Finalística da Minha Vida), in : Schwarze Protokolle (Protocolos Negros), Nr. 6, Hamburg, 04.1971, pp. 3 e s.